Várias publicações de apoio ao recém-eleito presidente do Brasil, Lula da Silva, destacam a suposta exoneração de mais de 8 mil militares da administração pública federal. Esta mesma informação tornou-se viral nas redes sociais, com apreciações ao anterior presidente do país, Jair Bolsonaro (ele próprio um militar reformado), e atribuindo a intervenção referida a Lula e a Rui Costa, que chefia a Casa Civil do Presidente recém-empossado.

“Lula e Rui Costa acabam de exonerar mais de 8.000 militares”, consta na publicação que segue abaixo. “Foram bater continência para bandido, agora reúnam todos e façam o L”, provoca ainda o utilizador do Facebook referindo o gesto de apoio a Lula da Silva usado na campanha presidencial.

Em abril passado, a oito meses das eleições, Lula da Silva prometeu “tirar quase 8 mil militares que estão em cargos de pessoas que não prestaram concurso”. A frase foi citada em vários órgãos de comunicação social brasileiros e a CNN Brasil chegou mesmo a noticiar, na sequência dessa afirmação, que o então candidato presidencial tinha sido “impreciso” na referência ao número de militares existentes no Governo.

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A notícia dessa altura citava o relatório mais recente do Tribunal de Contas da União, divulgado em julho de 2020, que dizia que eram 6.157 os militares que então exerciam funções civis na administração pública federal.

Esta afirmação de Lula em abril explicará a insistência dos seus apoiantes nos 8 mil militares que agora afirma mesmo como já tendo sido exonerados. Em algumas das publicações é mesmo citado o Diário Oficial da União, mas a edição referida, de 3 de janeiro, mostra uma lista de exonerações de funcionários do Governo, que inclui militares mas também civis.

As notícias dos primeiros dias de Lula em funções dão conta da dispensa de cerca de 1.200 funcionários que estavam em funções de confiança na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro e isto mesmo foi confirmado pela Casa Civil de Lula.

Recorde-se que a militarização do Governo foi uma característica que se manteve sempre presente na administração de Bolsonaro, que ainda em 2021 fez um decreto a permitir que militares no ativo ocupassem cargos civis por tempo indeterminado. Um estudo do Instituto de Pesquisa Económica e Aplicada (Ipea) do Brasil apontou que, entre 2016 e 2020, o número de militares na administração federal tinha duplicado, passando de cerca de 3 mil para 6 mil. “O número de militares ocupando cargos e funções civis aumentou 193% no período analisado”, refere o estudo.

Conclusão

Não foram exonerados 8 mil militares. Em primeiro lugar, não existe esse universo de militares com cargos na administração pública brasileira, de acordo com os números mais recentes divulgados pelo Tribunal da Contas da União que davam conta de cerca de 6 mil. Além disso, nestes primeiros dias em funções, a gestão de Lula da Silva deu conta da dispensa de apenas 1.200 funcionários que eram da confiança da administração que foi agora substituída. O número foi anunciado pela Casa Civil de Lula, que assume pela terceira vez o mandato presidencial.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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