As circunstâncias excecionais que vivemos levam a que seja mais difícil olhar com frieza para a paisagem política. Nos últimos dois anos, vimos uma solução de governo radical – a geringonça – conseguir resultados responsáveis e moderados, como o excedente orçamental. Vimos uma liderança partidária, a do PSD, ser contestada a meio do seu mandato por nada mais do que sondagens, depois desmentidas pela realidade. Assistimos ao nascimento de três novos partidos na “nossa” área política, um deles liderado por uma figura maior do PSD. Vimos igualmente um governo minoritário, do PS, abdicar dos acordos com os seus parceiros mas prosseguir sem oposição desses mesmos parceiros.

Apesar da excecionalidade de tudo isto, não devemos, por uma questão de responsabilidade, abdicar da frieza essencial para tomar as decisões que importam ao país. A liderança do PSD é, sem dúvida, uma dessas decisões.

Por mais nobres e empenhadas que sejam as intenções de cada um, não devemos trocar a racionalidade pelo imediatismo, a experiência pela pressa, a segurança pela excitação.

Nunca se viu um partido anunciar tantas vezes a sua própria morte pela voz de alguns dos seus próprios dirigentes e logo de seguida conseguir resultados eleitorais na casa dos 28%, combatendo um governo de quatro anos de crescimento económico, um sentimento popular hostil à governação PSD/CDS/Troika (mesmo que o consideremos injusto), e o pior panorama de sempre no que toca à implantação autárquica.

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Perante isto, o PSD deve evitar a tentação do medo e projetar-se num horizonte de governação, o que não se faz em pouco tempo.

Decidir em quem votar nas eleições internas, sendo autista em relação ao sentimento do povo e tentando impor-lhe uma solução diferente daquela que tem mais adesão, acantonará o partido e reduzirá largamente o seu espaço político de futuro. Um erro que, a meu ver, custará caro a quem se diz social-democrata.

O meu apoio a Rui Rio fundamenta-se nessa premissa: manter o PSD absolutamente impermeável à imprevisibilidade e a polarização do restante ambiente político. Sobretudo, não ter memória curta.

Se a atual campanha interna se centrou na discussão de quem está mais próximo ou distante do PS, de quem está mais ou menos disponível para acordos, e também nos últimos resultados eleitorais, então o debate deve igualmente atender ao legado e à história do PSD. A história de todos nós.

Se olharmos para o último governo liderado pelo PSD sabemos que, antes de vencer as eleições com uma maioria parlamentar (em 2011), o então presidente do partido negociou PEC’s e Orçamentos do Estado, deixando inclusivamente o então governo do PS (também minoritário, como o atual…) passar um Orçamento. Tratava-se, afinal, do interesse nacional. E foram essas provas de responsabilidade e frieza, essa boa gestão do tempo político, que conferiram ao PSD a autoridade para depois chumbar o PEC IV e ganhar a legitimidade popular da governação.

O país que pôde confiar no PSD para liderar a oposição de forma ativa e responsável confiou depois no PSD para chefiar um governo de forma natural e igualmente responsável.

Vejo, no projeto de Rui Rio, a experiência para esperar a oportunidade e a força para conquistar a legitimação do voto popular.

É só uma questão de não ter memória (ou visão…) curta.