Era 1926, e o fundador da Ford Motors Company, Henry Ford, preparava-se para revolucionar a história laboral ao anunciar a implementação da semana de trabalho de cinco dias, nas suas instalações. Contra a corrente, e contra as expectativas, o empresário conseguiu provar a inautenticidade teórico-prática de que trabalhar menos horas traduzir-se-ia num decremento da produtividade, demonstrando os diversos benefícios mútuos que esta decisão proporcionou – aumento da produtividade, redução dos custos e a melhoria das condições de trabalho dos colaboradores. Esta mudança alastrou pelo setor, e conduziu à conquista do Fair Labor Standards Act de 1938, decretado então pelo presidente dos Estados Unidos da América, Roosevelt, uma lei que generalizava as quarenta horas e os cinco dias de trabalho semanais.

De facto, é possível aplicar a célebre afirmação de Henry Ford – “insanidade é fazer o mesmo e esperar resultados diferentes” – ao caso português, após anos em divergência com a Zona Euro em termos de produtividade do trabalho. Na União Europeia, Portugal é um dos países onde se trabalha mais (cerca de 40 horas semanais), e onde ao mesmo tempo se produz menos. A propósito, é nos Países Baixos que se regista um menor número de horas (33,2 horas), seguindo a Alemanha (35,3 horas) e a Dinamarca (35,4 horas), curiosamente, países reconhecidos pela sua competitividade produtiva.

Tornou-se inevitável repensar o atual sistema, e caminhar para uma solução que tem vindo a dar cartas pelo mundo: para a semana de quatro dias.

Na verdade, poderíamos analisar dezenas de casos de sucesso na implementação da semana de quatro dias. Poderíamos falar do exemplo da Microsoft Japan, que viu a sua produtividade “disparar” em 40%, além da redução das despesas, e principalmente, a diminuição dos níveis de stress e burnout dos colaboradores. Todavia, examinemos o projeto-piloto que decorre neste momento em Portugal.

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Iniciado em 2023, contando com 41 empresas de variadas dimensões, abrangendo mais de 1000 trabalhadores, o projeto-piloto já demonstrou ser uma mais-valia que pode transformar e dinamizar a economia nacional. No último relatório do programa, 95% das empresas avaliam positivamente o teste até ao momento, um dado que constata a receptividade ao projecto por parte dos empresários que procuram, segundo indica o inquérito realizado inicialmente, aumentar a qualidade do serviço, facilitar o recrutamento e diminuir os níveis de stress dos trabalhadores, este último apontado como o principal motivo.

Com efeito, conforme é manifestado no relatório intermédio, três meses após ter sido iniciado o programa, as repercussões do mesmo são claras: maior satisfação geral dos trabalhadores com a vida, maior facilidade na conciliação do trabalho com as responsabilidades familiares e menores níveis de exaustão, ansiedade, insónias e solidão.

Um indicador relevante e curioso presente no documento é o facto de que, quando o trabalhador é questionado sobre a hipotética possibilidade de se mudar para outra organização onde vigore a semana de cinco dias, 85% dos trabalhadores exigiriam um aumento salarial em mais de 20% para tal mudança se suceder, mais de 15% apenas com um crescimento de 50%, ou mais, e 14% não mudariam por qualquer valor.

A semana de quatro dias em Portugal tem-se mostrado um modelo de trabalho promissor, com resultados positivos para as empresas e os trabalhadores. Chegou a hora de abraçar o projeto e revolucionar a Economia portuguesa.