Destacar o tema da saúde mental da mulher, num mundo que se quer igualitário pode, à primeira vista, parecer estranho e errado. Para uma grande maioria o tema não é tema, não existe. Mas será mesmo assim? Estaremos nós a querer discutir ou, pelo contrário, a evitar a discussão?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define “saúde mental” como “o estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar as suas capacidades, fazer face ao stress normal da vida, trabalhar de forma produtiva e contribuir para a comunidade em que se insere”. Tomemos esta definição como guia e analisemos a situação.

Histórica e socialmente, a mulher sempre foi secundarizada. O papel e o lugar que conquistou é inequívoco. Contudo, continuamos a pedir-lhe que cumpra uma multiplicidade de papéis e, muitas vezes, ainda lhe exigimos que dê mais do que os homens que desempenham funções iguais.

Numa sociedade que absorveu e enraizou as divisões de género, podemos mesmo falar de uma saúde mental única (na aceção da OMS)? Mais, considerando que, biologicamente, as mulheres estão muito mais sujeitas a momentos de pressão e desestabilização, será que não existe mesmo, naturalmente, uma saúde mental das mulheres que, pela sua especificidade, é tema, merece atenção, reconhecimento e discussão?

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No estudo “Saúde e Bem-estar das Mulheres: um Potencial a Alcançar”, do projeto Saúdes (www.saudes.pt), identificam-se quatro “bolsas de mal-estar”, momentos de enorme perturbação a que a mulher, por ser mulher, é exposta: menstruação, maternidade, menopausa e relação com o corpo. Neles, apesar da alta tensão sentida, as mulheres tendem a normalizar, aceitando o desconforto e até mesmo o sofrimento. Por falta de informação ou de consciência, ignoram-se a si mesmas e aos sintomas e, com isso, expõem-se a uma série de riscos colaterais. A prová-lo estão os diversos números que este estudo revela, dos quais destacamos a sua maior propensão, face aos homens, para episódios de esgotamento e/ou depressivos (50% vs. 31%).

Sendo verdade que, por via da sua capacidade reprodutiva, as mulheres estão mais sujeitas à doença e à pressão emocional, tal não pode e não deve significar que tenham de se acomodar, normalizar e ignorar. Precisamos, também aqui, de uma mudança de mentalidades.

Individual e coletivamente temos de estar mais atentos, vigilantes e interventivos sobre a saúde mental das mulheres. Pilares frequentes da comunidade e da família, têm de ser valorizadas, respeitadas e compreendidas, na sua especificidade. Uma igualdade artificial é o principal caminho para a desigualdade real. Pensar assim é de mim, sim, e de ti, de si, de nós, de todos, do mundo.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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