Há 28 anos atrás, o governo de Cavaco Silva encomendava a Michael Porter, reputado economista norte-americano, um estudo sobre a competitividade da economia Portuguesa que viria a ficar conhecido por Relatório Porter e apontava então para uma forte aposta de investimento nos setores tradicionais. Não importa debater se já naquela fase da evolução da nossa economia as conclusões deste trabalho foram as de maior acerto, não é o momento, nem tão pouco é relevante! E será justo dizer-se que teve o mérito de promover a modernização de setores que se encontravam desesperadamente obsoletos.

O que é de absoluta importância percebermos é que um trabalho desta natureza tem um tempo limitado, caduca em função das mudanças que ocorrem, da evolução da economia e do próprio mundo. Não se eterniza no tempo criando uma cultura de financiar projetos inexequíveis, salvar empresas sem viabilidade.

Desde então, seguiram-se anos de governação com uma angustiante ausência de estratégia ou de programas credíveis que saíssem efetivamente do papel. Perderam-se duas décadas e destruíram-se milhões a “salvar” empresas falidas, com os falsos argumentos de constituírem alicerces de setores essenciais para o tecido industrial do país e da importância de se defender o emprego. Não existem bons ou maus setores, existem boas e más empresas, e o emprego não se defende injetando milhões de euros em “dinossauros” estagnados no tempo, iludindo uma morte anunciada, mas financiando projetos inovadores e com visão de futuro.

Na verdade, esta “pseudo-estratégia” camuflava algo bem mais letal e enraizado nos comportamentos da nossa economia. A omnipresença do clientelismo e “amiguismo” fazia-se sentir e ia presidindo inapelavelmente à gestão dos recursos disponíveis.

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Vivemos na última década cenários macroeconómicos caracterizados por recorrentes crises, onde se tornou evidente a impreparação do país para lidar com ambientes adversos. Uma dívida pública esmagadora, pesadas cargas fiscais, incapacidade de atrair investimento são fatores que condicionam o tão necessário e debatido crescimento da economia.

É neste quadro de grande fragilidade e com uma injustificada propensão para reincidir nos erros do passado que teremos de enfrentar uma eventual nova crise que já se adivinha e que, num quadro de  pressões inflacionistas, de aumento de taxas de juro e de custos energéticos imprevisíveis será ainda mais sufocante para empresas e famílias.

Mas simultaneamente, neste ambiente de caos macroeconómico, somos confrontados com uma oportunidade rara de invertermos a sina que nos tem conduzido às recorrentes bancarrotas. Os milhões solidários que estão a chegar da União Europeia poderão ser o prenúncio de uma nova era de prosperidade ou a confirmação de um país pouco credível, incapaz de se gerir a si próprio e em processo de empobrecimento acelerado.

Oxalá haja mestria e seriedade para sabermos optar pelo melhor dos caminhos, longe dos “boys” e dos “amigos”, focados no mérito, no verdadeiro e sério empreendedorismo e na efetiva criação de riqueza.

É uma decisão que temos entre mãos! Optar pela estagnação e pelo empobrecimento ou escolher o futuro.