O debate sobre uma eventual coligação entre o PSD e o Chega é, no fundo, uma tentativa dos socialistas de perpetuarem o seu partido no poder. Querem usar o Chega para fazer de Portugal um regime político de partido único, sob a aparência formal do pluralismo democrático. Para o PSD, muito mais importante do que discutir o que fazer com o Chega, é impedir a hegemonia socialista em Portugal, essa sim a maior ameaça à democracia nacional. Quem na área do PSD não perceber o elementar, não viveu em Portugal nas últimas décadas. A IL também deveria perceber isso, mas não entende porque está demasiado ocupada em ser uma espécie de virgem liberal. Já agora, os pensadores liberais deveriam recordar as palavras de um grande liberal do século XIX, Lord Acton, “se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente.” Esse é o perigo em Portugal, não são os entusiasmos populistas e retóricos do André Ventura.

Mas vamos aos cenários da marginalização do Chega. Antes de mais, estes cenários só se colocam se houver uma maioria de direita na Assembleia da República. Se houver uma maioria de esquerda, mesmo que o PSD seja o partido mais votado, haverá de novo uma geringonça. Os socialistas só abandonarão o poder com uma maioria de direita.

O cenário mais óbvio é a maioria absoluta do PSD. Ficaria tudo resolvido. Se os portugueses centristas se preocupam com o Chega, mas querem tirar o PS do poder, devem ajudar o PSD a conquistar uma maioria absoluta, evitando assim a necessidade de coligações. É um cenário possível, mas muito difícil.

O segundo cenário seria uma maioria absoluta entre o PSD e a IL. Haveria um governo de coligação, mas sem o Chega. A IL passaria a ser um “CDS 2”, o que aliás é desejado por muitos que ainda estão no CDS actual. Haveria, contudo, nesta solução um problema. A IL viveria com o síndrome do CDS: o perigo de desaparecimento após uma coligação com o PSD.

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O terceiro cenário seria uma maioria de direita dos três partidos, o PSD, o Chega e a IL. Neste caso, para afastar o Chega do poder, teria que haver um governo minoritário do PSD. O PS enfrentaria um teste à sua preocupação com a “extrema direita do Chega.” Se se preocupar genuinamente com a “extrema direita”, viabilizará um governo minoritário do PSD para evitar o apoio do Chega.

Mas esta solução nunca duraria mais de um ano, dois anos. Duvido muito que o PS aprovasse mais de dois orçamentos de um governo do PSD. Haveria ainda um problema maior. Um governo dependente dos votos do PS no parlamento nunca seria um governo com capacidade para fazer as mudanças que o país precisa. O mais provável seria a realização de eleições antecipadas, com o PSD a pedir maioria absoluta para poder governar um mandato inteiro sem depender de outros partidos. Também não podemos excluir, com o tempo, a transformação do Chega num partido mais moderado e reformista com quem o PSD se pudesse aliar (uma evolução semelhante à de Meloni em Itália).

PS: Despindo a roupa de analista, o meu cenário preferido seria a recuperação do CDS, e a formação de uma nova AD. Sou um filho político da AD de Sá Carneiro e a orfandade é difícil de aceitar. Infelizmente, não acredito que a minha preferência se possa concretizar. O Chega e mesmo a IL estão com uma dinâmica de crescimento que tornará quase impossível a recuperação do CDS.