Quando é que foi a última vez que parámos para pensar nos nossos amigos? Parar, mesmo que por uns breves instantes, e pensar. Sem romantismos, ódios ou pensamentos pré-concebidos.

Tendemos a valorizar apenas aquilo que já não temos. Ou porque deixamos de o ter, ou, por vezes, porque nunca o tivemos. No entanto, a amizade, no sentido lato da palavra, é algo que nos acompanha desde sempre, de diferentes formas e feitios, com vários tipos de intensidade, mas sempre com consequências na nossa maneira de ser.

Dei por mim, durante um período de reflexão, a pensar naquilo que realmente nos faz feliz. Naquilo que verdadeiramente importa.

Em primeiro lugar, importa destacar que cada pessoa tem a sua forma de pensar, de viver e de conferir valor àquilo que lhe traz felicidade. Há certamente muita gente que escolhe viver zangado com a família, outras pessoas preferem não manter relações amorosas durante demasiado tempo e há ainda quem escolha nunca casar, ter filhos ou, por ordem do acaso, viver em constante negação com o mundo. Mas, se olharmos profundamente para tudo isto, acredito que conseguimos chegar a uma conclusão: ninguém vive sem amizade. Claro que esta se pode revelar de diferentes formas e feitios, como em cima foi referido, mas há sempre, por mais insignificante que seja, um sentimento de ligação e de saudade para com alguém.

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A maior parte das pessoas, especialmente em momentos de conforto, não olha à sua volta. Quando é que foi a última vez que, durante um jantar com os seus melhores amigos, olhou à sua volta e pensou: “Que sorte que eu tenho!”, “que bom que é ter estas pessoas na minha vida!”. Provavelmente nunca, ou, se o fez, acredito que foram menos vezes do que deveria ter feito.

Já não pensava nisso há muito tempo e, confesso, só o fiz por necessidade. Talvez por egoísmo, diga-se. Mas fi-lo, e o reconforto que as memórias me trouxeram são de tal maneira gratificantes que só me apetece juntá-los a todos na mesma mesa e festejar. Sim, festejar. Isso mesmo, festejar a amizade. Ocasionalmente festejamos os nossos aniversários, os aniversários dos nossos filhos, dos nossos parceiros/as, as datas dos casamentos, namoros ou do momento em que arranjámos trabalho. Motivos importantes, óbvio. Mas e a amizade? Não terá valor suficiente para ser celebrada? Tem. Tem todo o valor do mundo e mais algum.

Valorizar o Miguel, porque todos temos um Miguel, mesmo que se chame João, e pensar naquilo que ele nos traz. Tem os defeitos de todos os Antónios e Fredericos do mundo juntos, mas, ainda assim, consegue-nos sempre surpreender com mais uma história irrisória da sua vida boémia.

Devemos valorizar a Carolina, porque todos temos uma Carolina, mesmo que se chame Rita, e pensar no conforto das suas palavras nos momentos de maior aflição. Consegue ser exaustiva e trapalhona, não ver o telefone e ignorar mensagens, mas consegue-nos sempre ajudar. Sem mas. Não é motivo para a celebrarmos? Liguem à vossa Carolina.

Quando é que olhámos para o Mateus, porque todos temos um Mateus, mesmo que se chame David, e nos lembramos dos conselhos de vida, não obstante ele próprio ter acabado de espatifar o carro, e nos relembra, entre lágrimas, que nunca devemos conduzir bêbados? O que é que é preciso para ir até casa dele, já amanhã, e recordarem as histórias de infância? Não vejo desculpa possível.

Isto é o verdadeiro sentido de gozar a vida. Estas memórias que só a amizade nos traz. A amizade de um colega de trabalho, de um primo mais novo, de uma irmã desvairada, de um amigo de ocasião, de uma namorada/o. Isto é que importa. Memórias e amizade são duas palavras inconfundíveis entre si. É impossível pensar numa sem pensar na outra.

Se conseguirmos chegar a esta conclusão, tudo isto, tornando-se cíclico, transforma-se em algo natural, num dia-a-dia, numa perfeita sintonia entre estar vivo, sentir-se vivo, e amar estar vivo. Só a amizade nos traz isto.

Não valorizemos aquilo que não temos ou deixamos de ter. Pelo contrário, valorizemos aquilo que temos, e sempre teremos.

Tentem ser o melhor amigo do vosso amigo. Vale a pena.