Não caiam na armadilha do título. Aqui ninguém entra num bar. Pelo menos, não sem teste PCR realizado há 48 horas. Relembrem-me, qual é mesmo a regra agora?

Sem qualquer pingo de ironia, 2021 foi um ano difícil. Suponho que não sou a única a sentir isto. Quem é que se lembra da última vez que foi a um bar? Eu não. Parece uma realidade muito distante, talvez demasiado. E, ao longo do ano, quantos de nós tiveram dias em que a única interação social foi através de um computador? No meu caso, mais do que gostaria.

No meio do reinventado “novo normal”, os dias começavam e acabavam sem sabermos bem como. E, enquanto o mundo pessoal ficou mais pequeno, o mundo profissional nunca foi tão vasto. Cheio de oportunidades e escolhas, graças à era remote. A democratização das oportunidades rapidamente se fez notar. Logo no início do ano, o número de trabalhadores que pediram demissão bateu o recorde de todos os tempos nos EUA. Começou assim The Great Resignation (em português algo como “A Grande Demissão”), que sabemos agora que ainda estava a ganhar força.

As expectativas dos trabalhadores mudaram e, um pouco por toda a parte, há pessoas a repensar a forma como trabalham e como vivem – e como estes dois mundos encaixam. Nas empresas tecnológicas, o equilíbrio parece estar no quão flexíveis as empresas são no “onde” (escritório versus teletrabalho versus híbrido), no “quando” (horário tradicional das 9 h às 17 h versus horário flexível) e, claro, no “quanto” (dinheiro).

Do outro lado do bar, estão as empresas, os líderes e as equipas de recursos humanos a lutar pela retenção e a esforçarem-se para servir melhores e renovados menus com combinações improváveis de texturas, sabores e aromas (leia-se “onde”, “quando” e “quanto”).

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Com tantas mudanças, há coisas que não mudam… As empresas dependem mais do que nunca dos líderes para apoiar as equipas e criar um verdadeiro sentido de comunidade. E, enquanto as empresas procuram as respostas e as decisões de amanhã, os líderes precisam de reter e motivar as suas equipas hoje. O que podes tu, enquanto manager, fazer entretanto?

Cuida da tua equipa. Isto é tão simples (ou tão complicado) como te colocares nos pés das pessoas que lideras. Isto requer empatia e compaixão. Ao longo do ano, fomos vendo vários unicórnios portugueses a criar iniciativas de saúde mental, disponibilizar ajuda financeira para gastos de Internet, fazer atividades à distância para motivar as equipas, enviar presentes para casa para celebrar vitórias, entre outros. Isto são as empresas a cuidar (e bem) dos trabalhadores como um todo. Sobre o manager recai a responsabilidade de cuidar de cada membro da equipa, individualmente. Uma pessoa da minha equipa foi pai recentemente e, em conjunto, percebemos que fazia mais sentido adaptar o horário de trabalho à nova dinâmica familiar que um bebé exige e não vice-versa. Aqui dizemos “o que funciona para ti, funciona para a empresa”, e levamos isso à letra.

Sê um modelo. Ou seja, faz aquilo que pregas. Qualquer líder deve ser um exemplo ruidoso e intencional da cultura da empresa. Como podemos esperar a mudança dos outros se não estamos dispostos a mudar também? Dando outro exemplo muito concreto, lancei o desafio à minha equipa de promover uma série de palestras (Product Ops Unwrapped Talk Series), com o objectivo de partilhar com a comunidade o nosso conhecimento da área de operações de produto. Apesar de falar em público não ser a minha “praia”, com a ajuda de toda equipa, saí da minha zona de conforto e dei a primeira palestra.

Desenvolve a tua equipa. Nos dias de hoje, já é comum existir um budget individual de desenvolvimento ou um plano de formação comum. Ainda que, a curto prazo, enviar alguém a uma conferência ou a uma formação possa chegar, acredito que isso não compensa a longo prazo. Um bom líder deve conhecer as capacidades dos membros da sua equipa e desenhar um plano para os ajudar a crescer. Por exemplo, na OutSystems, decidimos apostar em força no ensino contínuo e lançamos uma escola para gestores de produto, completamente adaptada às necessidades específicas da nossa equipa.

A forma como as empresas (e os trabalhadores) olharem e agirem perante as novas dinâmicas do mundo do trabalho vai ditar quem fica, quem sai e também quem decide entrar…no bar.

Anabela Cesário é Diretora de Operações de Produto na OutSystems. Com mais de 20 anos de experiência profissional, Anabela passou por empresas como a General Electric e a Novabase, onde geriu grandes equipas e projectos complexos na área financeira. Anabela é licenciada em Informática de Gestão pela Universidade do Minho e tem treino executivo em Gestão de Produto pelo INSEAD. Quando não está no escritório, podemos encontrá-la a praticar ioga, jogging, a viajar ou a ler.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.