Viajar é uma das actividades mais enriquecedoras para o ser humano e é, claramente, por essa razão que em tantas culturas e em tantas famílias é perfeitamente normal, após término dos estudos, passar uma temporada a viajar por distintos países do mundo. O mais enriquecedor desta actividade que, por norma, tem a duração de um ano civil, ano esse que, com frequência, é denominado por “gap year”, é o intercâmbio laboral que os jovens viajantes menos privilegiados economicamente realizam em troca para seguir com a sua viagem. Entenda-se por intercâmbio a obtenção de dinheiro em troca de trabalhos temporários, nos quais os viajantes oferecem o seu tempo, esforço, dedicação e conhecimentos.

Noutros casos, devido ao novo fluxo de vida dos millennials e das gerações que os sucedem, ultrapassar os portões do mundo ocidental é uma prioridade de vida perante a real impossibilidade de adquirir casa própria, como fizeram os seus pais com as suas idades, tendo estes últimos eternamente adiado os sonhos de exploração do mundo mais recôndito.

Com tudo isto não deixa de ser surpreendente, violando todas as premissas do viajante aventureiro, o crescimento do fenómeno dos designados “begpackers”. Os begpackers são essencialmente jovens ocidentais que viajam com poucos recursos económicos para países pobres e que pedem esmola nesses países para poderem seguir viagem.

Este fenómeno em crescimento está disseminado, sobretudo nos países do sudeste asiático e da América latina, o que é preocupante, em várias frentes e contextos. Para começar, mendigar é ilegal na maioria dos referidos países, para não falar da obscenidade que é pedir aos locais dinheiro para viajar, exibindo tablets na mochila, bem como smartphones de última geração. Muito mais de que uma questão ética, parece-me uma falta de respeito para com os povos e culturas locais. Estamos a falar de populações que, na sua maioria, nunca viveram com as comodidades que vivemos no Ocidente.

Esta moda que podemos, aliás, apreciar no Instagram através do #begpackers tem crescido de tal forma que alguns países como a Tailândia estão a exigir que os turistas comprovem possuir um montante monetário de aproximadamente 585 euros para entrar no país. Existem variadíssimas formas para que possamos viajar com poucos recursos económicos sem que tenhamos de nos converter nestes “falsos pobres”, através da ajuda de plataformas como o couchsurfing e o hospitality club, ainda que não sejam as formas de obter alojamento mais recomendáveis.

Também existem os programas da União Europeia, que apoiam economicamente e estimulam os mais jovens a viajar por distintos países, e uma panóplia de páginas de bloggers que se dedicam a viajar, de forma económica, partilhando uma série de dicas essenciais para que o possamos fazer de forma e da forma menos dispendiosa possível e, sobretudo, eficiente. Saibamos viajar, respeitando as regras implícitas a atravessar os caminhos do mundo desconhecido, abraçando os povos locais com dignidade na bagagem. Sejamos, acima de tudo, #dignitypackers.

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