Tecnologia, velocidade de informação e globalização foram denominadores comuns em grande parte da minha carreira profissional. Em 2015, quando comecei a trabalhar em tecnologia, era, na verdade, uma Remote Woman in Tech e trabalhava, à distância, numa equipa a milhares de quilómetros.

Embora isto seja invariavelmente positivo, permitindo a milhares de trabalhadores remotos encontrar oportunidades de outra forma inacessíveis, quando a questão é a gestão dessas mesmas equipas, os desafios que vão aparecendo transcendem muitas vezes o género, a idade ou a cultura e, num mundo cada vez mais globalizado, as oportunidades de construir relações profissionais à volta da máquina de café vão escasseando.

Na gestão de qualquer equipa, confiança torna-se a palavra-chave e muita dessa confiança tem de ser (ou veio sendo, até agora), nutrida pessoalmente, nas relações pessoais criadas no escritório, nos eventos sociais das empresas e no ultrapassar dos obstáculos que vêm muitas vezes com as tarefas mais complicadas.

No meu caso, os desafios começavam nos fusos horários e acabavam na forma de lidar com algumas das dinâmicas normais que se encontra dentro de uma equipa, principalmente a partir de uma posição de coordenação, ainda jovem e a trabalhar noutro continente. O que normalmente deve ser uma oportunidade de recrutar talento internacionalmente e permitir à workforceda empresa trabalhar dentro dos contextos desejados, pode facilmente transformar-se numa dinâmica de reuniões deliberadamente marcadas para horas incomportáveis e deadlines falhados.

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Voltando à palavra-chave — confiança — e sem ser, de todo, uma surpresa, o “segredo” recai sempre na comunicação. Gerir uma equipa remota ou remotamente, independentemente de se ser mulher ou homem, jovem ou nova na equipa ou empresa, requer tanta comunicação como uma equipa que está diariamente junta na mesma sala. Porventura mais ainda, dado que as pausas para o café ou para o ténis de mesa (porque todos sabemos que não há startup sem haver, algures, uma mesa de ping-pong) têm de ser obrigatoriamente substituídas, a custo, pelo respectivo equivalente digital, muitas vezes bem menos casual ou relacionado com a tarefa em mãos.

Para além disso, uma potencial gestão que não ofereça liberdade aos membros da equipa, o à vontade para criar laços de proximidade ou confiança ou mesmo uma microgestão exagerada podem levar a uma ruptura rápida e possivelmente absoluta. Distância e horários tanto podem ser meros detalhes no funcionamento de uma equipa eficaz, como podem ser sobreexplorados pelos próprios membros da equipa para sair de situações que consideram constrangedoras, ou fazê-los sentir-se pouco integrados por não serem ouvidos ou terem dificuldades em manter-se actualizados com o trabalho produzido pelos restantes membros da equipa. Por isso, é necessário criar os mecanismos certos para que os colaboradores se adaptem tanto ao trabalho remoto como às próprias necessidades de cada um, além de ser fundamental manter sempre em mente que a distância que separa os membros da equipa não elimina, de forma alguma, a necessidade e vontade de integração e crescimento no seio de uma máquina bem oleada.

Cabe sempre àqueles que coordenam ter a disciplina de se lembrar que uma equipa remota ou com membros a trabalhar remotamente é uma equipa que necessita das mesmas rotinas e rituais de uma equipa localizada e, principalmente, de comunicação constante. No entanto, tudo isto deverá sempre ser feito tendo em conta as vicissitudes inerentes a distâncias, culturas e horários diferentes, bem como a velocidade que as plataformas digitais imprimem à vida daqueles que nos rodeiam.

Jéssica Mendes é mestre em design e multimédia pela Universidade de Coimbra. Depois de 4 anos a trabalhar remotamente na startup colombiana Acsendo enquanto Frontend Developer e, mais tarde, Product Owner, conduz o desenvolvimento web na equipa de Growth da portuguesa Infraspeak há cerca de um ano.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.