O Reino Unido foi muito apropriadamente o anfitrião da Cimeira do G7 — com recorrentes imagens de mar e praias, recordando muito apropriadamente o seu carácter marítimo. (Ainda que as praias britânicas, ‘I am sorry to say’, não se comparem com as nossas, o mais antigo aliado e uma muito ancestral nação marítima europeia também).

Todo o programa começou com uma muito oportuna cimeira entre o Presidente Joe Biden e o Primeiro-Ministro Boris Johnson. Muito apropriadamente, celebraram os 80 anos da Carta do Atlântico — que foi apropriadamente também assinada no mar, em Placentia Bay a 14 de Agosto de 1941, entre o Presidente Franklin D. Roosevelt, viajando no USS Augusta, e o Primeiro-Ministro Winston S. Churchill, viajando no HMS Prince of Wales. Desta vez, Joe Biden e Boris Johnson não se limitaram a celebrar os 80 anos da Carta: decidiram assinar (também junto ao mar) uma Nova Carta do Atlântico!

Isto é bastante mais do que os promotores do Estoril Political Forum (EPF) poderiam ambicionar, mesmo nos seus melhores sonhos. O tema da 29ª edição anual do EPF é precisamente “On the 80th Anniversary of the Atlantic Charter: Structuring a New Alliance of Democracies”. Este título foi definido em Janeiro passado e o evento estava inicialmente previsto para 28-30 do corrente mês de Junho. Foi entretanto adiado, mantendo o mesmo título, para 18-20 de Outubro próximo, na esperança de poder voltar a ter lugar presencialmente, junto ao mar, no clássico Hotel Palácio do Estoril — o hotel dos aliados anglo-americanos durante a II Guerra, (bem como o berço, segundo se diz, do James Bond de Ian Fleming).

Por outras palavras, em Outubro próximo, o EPF terá de discutir não apenas a Carta do Atlântico de 1941 mas também a Nova Carta de 2021 assinada por Biden e Johnson. Sem dúvida uma adicional ‘carga de trabalhos’, como se costuma dizer. Mas que será seguramente bem recebida, e até celebrada, por todos.

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Também a segunda parte do título do EPF — “Structuring a New Alliance of Democracies” — esteve presente na Cimeira do G7. Joe Biden mencionou várias vezes directamente este tópico no artigo que publicou no Washington Post e que foi entre nós publicado pelo Público na passada segunda-feira, 7 de Junho, sob o título “A minha viagem à Europa é sobre a América a unir as democracias do mundo”.

Esta nova Aliança das Democracias — referida pelo título do EPF e pelo artigo de Joe Biden — foi levada ainda mais longe na Cimeira do G7, também com enfática presença da União Europeia. Foi simplesmente anunciada uma ‘Alternativa Democrática’ à chamada “Nova Rota da Seda” promovida pela ditadura comunista chinesa. A nova Alternativa Democrática chama-se “Build Back Better World” (B3W) e propõe-se “reduzir as necessidades, de mais de 40 biliões de dólares, em infra-estruturas das nações em desenvolvimento até 2035”.

Por outras palavras de novo, mais ‘uma carga de trabalhos’ para o próximo EPF em Outubro: além da ‘Nova Aliança das Democracias’ proposta no título, vamos ter de discutir também a B3W. Conhecendo há (mais de) 30 anos os nossos (quase) ancestrais parceiros internacionais do EPF — e, a propósito, tendo lido todos os dias, há mais de 30 anos, o Telegraph de Londres — posso antever que vai haver celebração (sobretudo nos ‘garden cocktails’), mas também vai haver o clássico e muito saudável pluralismo de pontos de vista. Vários participantes, sobretudo oriundos do Reino Unido e da América, vão lamentar que o G7 não tenha referido mais enfaticamente o papel crucial da economia de mercado (também conhecida no continente e noutras latitudes por ‘capitalismo’) e do crescimento económico que só ela sabe gerar.

“Fair enough”, como se costuma dizer. Vamos discutir tudo isso com galhardia e boa disposição (sem esquecer os clássicos brindes com Porto ancestral). E vamos sobretudo celebrar A Nova Carta do Atlântico e a Cimeira do G7, com enfática presença da União Europeia. Ambas assinalam o muito feliz regresso da América à liderança convivial da aliança multilateral das democracias.