1 A China e a cidade de Wuhan

A ficção científica e a «paranoia» das teorias de conspiração têm por vezes uma pequena constatação em comum: com alguma frequência são verdades antecipadas por uma elite de pensadores afortunados com uma privilegiada razão intuitiva e informações e ocorrem como realidades perante a estupefacção transgeracional humana.

A partir de dezembro de 2019 surgiu o vírus o novo vírus SARS-CoV- 2 (Coronavírus/Covid-19) na cidade de Wuhan na República Popular da CHINA.

Trata-se de uma cidade com cerca de 11 milhões de habitantes, na Província de Hubei, geograficamente situada na região central da China. As principais atividades produtivas são na agricultura o arroz, chá, trigo e algodão e ao nível da indústria uma diversificada produção de metalurgia e maquinaria, produção de automóveis, têxteis, laboratórios de alta tecnologia, bem como produção energética e alimentar em geral.

Ao nível histórico, possui ruínas e restos museológicos de grande valor simbólico da antiguidade clássica chinesa, pois Hubei era o reino de Chu, propriedade da dinastia Zhou e que, no período dos Estados Combatentes (475 -221 a. C. ), mau grado a decadência política e estado de guerra, graças à situação geográfica de mistura da cultura antiga do norte com a do do sul se tornou, nesse período dos Estados Combatentes, no local onde floresceram a Filosofia e a Estratégia militares. Com efeito, ainda hoje o eixo da roda da forma de pensar chinesa: na Filosofia são passados a escrito os «Analectos» de Confúcio e é desenvolvido o Confucionismo por Mêncio e surge também o Taoísmo, com a passagem a escrito do «Tao Te Chin», obra do filósofo Lao Tzi / Lao Tze / Lao Tzu; ao nível da Estratégia militar, pensa-se que é nesta fase que são passados da tradição oral para escrito o livro «Os seis ensinamentos secretos» de T´ai Kung e a posterior obra «A arte da guerra » de Sun de Tzu, entre outras escolas de filosofia e estratégia militar chinesa que se afirmaram  nessa época dos Estados Combatentes. Mais recentemente, em 1911, é também na cidade de Wuhan que se dá a insurreição de Wuchang, que leva à queda do Imperador da dinastia Qing e à transição do regime de monarquia para uma república na China.

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2 A China e o Covid-19: factos e teorias

A versão oficial das autoridades chinesas perante o novo COVID-19, em janeiro de 2020, foi a provável contaminação a partir de um mercado de carne fresca, no qual são comercializados os mais diversos animais selvagens, abatidos no momento para os clientes, que constituem uma iguaria na gastronomia chinesa. Ao encontro, diga-se, de uma tradição diferente de todo o resto do Mundo, mas que já anteriormente se demonstrou ser facilitadora da passagem rara de vírus de animais para humanos e que levou ao encerramento temporário do referido mercado.

Assim, perante a calamidade pública, o regime autocrático chinês reagiu como todas as sociedades fechadas: com repressão e ocultação musculadas (de que foi, nomeadamente, vítima o médico oftalmologista que denunciou, ainda em dezembro 2019, a situação existente, posteriormente falecido pela COVID-19, o qual foi apelidado pelo Partido-Estado de alarmista e mau cidadão do paraíso comunista chinês).

Sendo certo que, ao nível do Estado, até o Presidente Xi Ji Ping esteve temporariamente desaparecido, entre janeiro e fevereiro de 2020, sendo substituído, na fase mais crítica junto da vox populi, por elementos do Comité Central do partido comunista chinês. Aliás, à semelhança do que terá feito Joseph Stalin, que ao saber que Hitler havia iniciado, em 22 de junho de 1941, a operação barbarossa de invasão da União Soviética, rasgando o Pacto de não agressão Nazi-Soviético Ribbentrop-Molotov de 23 Agosto de 1939, se terá fechado no quarto vários dias.

Ainda assim, a opção foi a de ocultação e retardamento da informação para o Mundo quanto ao que estava a ocorrer em Wuhan-Hubei.

Esta opção chinesa não pode deixar de ser compreendida na perspetiva de que a liberdade de expressão e informação, tal como os direitos humanos ou o direito internacional são considerados, nomeadamente pelo «visionário  imperador maoísta» Xi Ji Ping, uma desagradável criação do Ocidente para preservar a ordem internacional vigente e pôr em causa a hegemonia da República Popular da China e a sua bem-sucedida «economia socialista de mercado», bem como o regime de partido-estado.

Acresce que a cultura política vigente na nação chinesa e, de verdadeiro serviço ao líder e ao partido, é a designada «Tianxia» (que significa «todos sob o Céu», o que, numa perspetiva ancestral, traduzia a hegemonia do imperador no Mundo e que na teoria das relações internacionais contemporânea chinesa aponta para uma nova geopolítica idealizada pela elite chinesa). Pois bem, a «Tianxia » valoriza a Ordem acima da Liberdade, valoriza a Ética acima da Lei e valoriza a Elite Governante acima da Democracia e Direitos Humanos. Ou seja, uma total divergência em relação às democracias liberais e a conceitos básicos de liberdade, igualdade, legalidade ou de direitos humanos, valores tributários das democracias inglesa, norte-americana e francesa.

Neste contexto, as atuais ações humanitárias com os países vítimas da catástrofe do novo coronavírus da China, devem apenas ser entendidas como a continuação da sua diplomacia global de «soft power», anterior à crise, verdadeira  ação de propaganda do regime partido-estado, mesmo para fins internos. Disso é exemplo a propaganda interna na China sobre a ajuda daquele país a Itália, com a difusão internamente  de imagens relativas à disponibilização de material sanitário e pessoal médico.

Cabe, aliás, recordar, porventura no terreno da chamada «paranoia das teorias da conspiração», de que falámos no início, que logo no final de janeiro 2020 surgiram os militares de logística sanitária especialistas em guerra biológica, já reformados das Forças de Defesa de Israel – « I.D.F.», a difundir publicamente que o novo vírus da China SARS CoV -2, teria sido originado num dos 2 laboratórios de alta tecnologia de engenharia viral existentes na cidade de Wuhan, os quais paralelamente à investigação académica, trabalhavam de forma encoberta em guerra biológica,  para o Exército de Libertação Popular, apontando para uma falha de segurança no laboratório e contaminação acidental da população da cidade de Wuhan .

Tal insinuação foi imediatamente desmentida pelas autoridades chinesas de Pequim, desencadeando a reação da Rússia (a Federação Russa é, nomeadamente, parceira da R.P. China na O.C.S. – Organização de Cooperação de Shangai) de que o novo vírus era um ataque militar premeditado de guerra biológica à economia chinesa por parte dos E.U.A.. Mais defendendo, russos e chineses, que o ataque se deu em plena guerra económica entre a primeira e segunda economia do Mundo, desencadeada pela Administração Trump e que até fora escolhida a oportunidade das festividades populares do Novo Ano Chinês (de grandes aglomerados públicos) para disseminação em larga escala  do vírus, o que Donald Trump negou, com a sua violência verbal teatral, devolvendo com a acusação de        que o vírus tem origem na China (resta saber porquê Wuhan, no centro da China…)

Do lado americano surgiu também publicamente, por parte de pretensos agentes reformados da C.I.A. uma comparação com um projecto antigo ao nível daquela agência de intelligence , de criação de um vírus informático para «infectar» sistemas de comando e controle de inimigos e em que os investigadores americanos haviam perdido o respetivo controle. De tal forma que o vírus tinha depois contaminado o sistema dos próprios investigadores da C.I.A. (raciocínio na linha, pois, da hipótese inicial dos israelitas). Restará saber, pois não possuo conhecimentos científicos para tal, se os padrões de «infecciologia» e «epidemiologia» dos «seres de silício» (ciberespaço, computadores, robots, etc) é sobreponível aos mesmos padrões para «seres de carbono» (seres humanos e COVID-19).

Entretanto surgiram também investigadores científicos de Nova Deli, União Indiana, a referir que o novo vírus SARS CoV-2 era uma criação de engenharia viral por laboratório humano e não uma mutação natural de coronavírus. Curiosamente, estes académicos apareceram e logo desapareceram, sendo que as suas afirmações não foram replicadas por outros centros de investigação mundiais, perdendo assim credibilidade científica entre os pares e não passando mais de uma especulação ou conjetura sem comprovação.

Não se justifica, porém, alongar as «paranoias das teorias da conspiração», até porque nesta fase são de difícil comprovação e tudo se passa num combate de informação e contra-informação entre a R.P. China e Federação da Rússia, por um lado, como autocracias, e os E.U.A. e Ocidente em geral com as suas democracias (que nas comunidades de intelligence durante décadas terão esta crise classificada de ultra secreta).

3 O COVID-19 e a geoestratégia e geopolítica internacional

Vamos antes reflectir numa perspectiva de pragmatismo e racionalismo crítico filosóficos sobre os factos que, em termos reducionistas, temos disponíveis no momento imediato.

Esta Pandemia pelo novo SARS-CoV-2 (vulgus coronavírus) coincide em termos geoestratégicos e geopolíticos com dois conflitos coexistentes: o primeiro lento e de há vários anos, entre as autocracias espelhadas na O.C.S.- Organização de Coperação de Shangai fundada pela R.P. China e Federação da Rússia como pilares, mas na qual estão recentemente também integradas as democracias da União Indiana e o Paquistão, versus a  NATO, que integra as tradicionais democracias ocidentais dos E.U.A. e Canadá e do outro lado a Europa. O outro conflito, e esse mais acelerado pela Administração Trump, é o confronto entre a primeira economia do mundo, os E.U.A., e a segunda economia do mundo, a R.P. China.

No caso das citadas autocracias elas vinham sinergicamente atuando de modo diferente perante o mesmo objetivo. A Federação da Rússia, de Vladimir Putin, apostou na fragilização da vertente europeia da NATO, basicamente a União Europeia e suas democracias, nomeadamente pelo apoio aos novos movimentos nacionalistas populistas. No caso da R.P.China, a grande estratégia de Xi Ji Ping para a Eurásia e África, passa pelo ressuscitar da rota da seda («one road, one belt») de construção de infraestruturas para ligar o «Império do Meio», a China, aos outros no planeta, tendo em vista retomar a sua superioridade perante os outros povos, distribuindo a sua produção de manufactura do mundo e já tecnologia também, até ao extremo da Europa e, no caso de África, nos países mais frágeis, para assim afirmar o seu modelo partido-estado e «economia socialista de mercado» como alternativa de sucesso para sair da pobreza, face às democracias ocidentais.

Independentemente da declaração pública dos israelitas, anteriormente citada, de o novo coronavírus resultar ou não de um acidente «chernobyliano» num laboratório para guerra biológica do Exército Popular de Libertação em Wuham, a factualidade conhecida ao momento permite afirmar que o vírus veio da R.P. China e as estratégias de Saúde Pública e assistenciais em relação à Pandemia pouco diferem das de Defesa Nacional (de um ataque de guerra biológica pela Logística Sanitária Militar, com apoio dos Operaconais militares e polícias da Segurança Nacional. Pior, a crise mundial económica, financeira e social que se seguirá será devastadora, como se tivesse ocorrido um conflito bélico global (e nós Portugal não conhecemos essa realidade, ao ser um país neutro na segunda guerra mundial de 1939 a 1945).

E embora nas características gerais o vírus pela sua velocidade de contaminação assintomática  e disseminação silenciosa  tenha características que podemos metaforicamente chamar de “globalistas”, de inspiração nas sociedades abertas, potências marítimas e mercantilistas, como Atenas na antiguidade clássica grega, a verdade é que a defesa e protecção da disseminação do vírus e infecção nos humanos é favorável metaforicamente a uma disciplina centralizada de ordem unida de Esparta e de sociedades fechadas rigidamente hierarquizadas, tão ao gosto das autocracias.

Também o papel preponderante que assumem os profissionais de actividades de soberania de Segurança Nacional, polícia e militares (excluindo os magistrados e diplomatas), na Proteção Civil, em paralelo com as Autoridades Sanitárias e profissionais de saúde, impõe-se nas quarentenas declaradas nos estados de emergência pelos Estados-nação, tão ao gosto dos nacionalistas populistas, como Donald Trump, mas principalmente de Vladimir Putin.

Os danos nos direitos, liberdades e garantias das sociedades abertas, nos direitos humanos das democracias ocidentais e outras características destas sociedades abertas, provocados por esta Pandemia de Covid-19 e as necessárias intervenções governamentais musculadas, são ao momento imprevisíveis no seu futuro, menos ainda ao nível das suas economias, nomeadamente as mais frágeis, totalmente devastadas após esta crise. E menos ainda são previsíveis os danos nomeadamente sociológicos, com implicações na Ciência Política Ocidental.

Do passado apenas sabemos que as crises, o medo, o confinamento social e a disciplina marcial e pobreza acentuada são favoráveis ao emergir de mentes totalitárias, a todos os níveis, e nas diferentes ideologias da esquerda à direita, sem exceção. Esperemos, pois, que as inovadoras redes sociais da Web sejam um valor acrescentado de «speakers corner» de Hyde Park, como salvaguarda preventiva dos tiranos de Platão ou os «déspotas esclarecidos» oportunistas do momento.

Outra constatação factual é que saíram da agenda mediática internacional e europeia (e até do nosso pequenino Portugal) dois temas na essência tanatológicos. Refiro-me á morte espalhada por terroristas islamitas em ataques ou suicídios «altruístas» jihadistas ou ainda à morte e suicídio assistido pela liberalização da Eutanásia… De momento o privilégio da morte é dado à pandemia viral e voltam a sentir-se a força do direito à vida e sobrevivência. Veremos como tudo evolui depois de enterrar os mortos e cuidar dos vivos, usando o léxico do Marquês de Pombal após o terramoto de 1755…

Enfim, o tempo e as sequências dos factos e realidades posteriormente ocorridas revelam o que estava oculto para a maioria e era apenas do conhecimento de uma elite muito restrita com informação privilegiada. Foi assim que ocorreu com o Tratado de Tordesilhas, entre as duas superpotências da época Castela e Portugal e que depois veio a originar o maior país da América do Sul a falar português, o Brasil.

Deixo, portanto, para reflexão duas questões cruciais a médio prazo.

Primeiro de que país ou países surgirão os centros de investigação dos fármacos e vacinas para o autor desta pandemia, o vírus da China SARS CoV-2 coronavírus. É que se nessa competição milionária internacional fossem centros de investigação da R.P. China a descobrir o «remédio», seria uma clara vitória para a humanidade, mas também  para a diplomacia de «soft power» global do Presidente Xi Ji Ping (embora ficasse sempre a dúvida, para os da «paranóia da teoria da conspiração», que os israelitas estavam certos, na linha de que “quem faz a fechadura, faz a chave”).

A outra questão e não menos importante, é quem vai emergir mais rapidamente da crise catastrófica da Economia mundial: a primeira economia, a democracia dos E.U.A. ou a segunda economia, a autocracia partido-estado da R.P. China. Se for a segunda hipótese e conhecendo a psicologia e a autobiografia do Presidente Xi Ji Ping, vai certamente aproveitar para acelerar a imposição da nova Ordem Mundial, na sua crença de ser o «messias» que vai levar a China ao seu explendor do «Império do Meio». Estamos perante um Homem resiliente sobrevivente à revolução cultural de Mao, que incluiu tortura pessoal do pai e família, suicídio da irmã no meio do processo e condenação a trabalhos forçados, sempre distante da família, junto de camponeses, mas adorando, mesmo assim, a liderança histórica do Presidente Mao Tse-Toung ( apenas acrescentando ao Presidente Mao a filosofia de Confúcio a casar com o marxismo chinês,que o Presidente Mao sempre achou incompatíveis proibindo o confucionismo na R.P. CHINA )

Em jeito de nota final, constata-se também, nesta crise, que o trabalho de instituições militares dos E.U.A., Federação da Rússia, R.P. China e outras, na engenharia da guerra biológica, pode ser porventura mais perigoso que o da guerra nuclear, onde o valor proporcional e rapidez da dissuasão está mais equilibrado. Veja-se o tempo que será necessário para contrabalançar o SARS-CoV-2 /coronavírus com a descoberta do tratamento farmacológico e/ou vacina.

Termino, como português, com o nosso paradigma de superpotência global há 500 anos atrás… O que sabia El Rei Senhor D. João II, o Príncipe Perfeito, e que Castela desconhecia, no Tratado de Tordesilhas, de que resultou o Brasil?