Nunca entendi porque é que se foi separando o jardim de infância do ensino obrigatório, já que o jardim de infância cria as condições para o sucesso do ensino obrigatório. Acresce que o jardim de infância talvez seja dos raros momentos em que a escola se adequa à forma de aprender de uma criança e a ensina a pensar. Por isso mesmo, custa a entender que o jardim de infância não seja obrigatório e gratuito. Não seja ensino básico.

Entretanto, há muitas crianças que passaram a ter acesso gratuito à creche. E isso seria de aplaudir. Mas talvez seja importante conversarmos sobre ela.

Há creches e creches. Mas faz diferença a um bebé muito pequenino ter de se levantar a destempo e atravessar uma cidade. Ser confiado a pessoas que repartem a sua atenção com outros bebés. Ou adequar-se ao modo de funcionamento de uma creche. Faz diferença se lá passa muitas ou poucas horas. Se tem contacto regular com o ar livre. Se a creche tem todas as condições para ele lá estar. Ou se o estimula com método. Acresce que os bebés aos 6, aos 8, ou aos 12 meses não procuram a relação com outros bebés, como acontece depois dos 2 anos. Porque o vínculo prevalece sobre a sociabilidade.

A qualidade das creches minimiza muitos custos. Mas um bebé ganha com cuidados adequados aos seus ritmos. Com a criação de rotinas que se compatibilizem com eles. E com regras que liguem ritmos e rotinas com competências e sociabilidade. E ganha se, primeiro, tiver um rosto seguro. Depois, dois. E a seguir, três e quatro. Cresce-se melhor devagar!

Num país mais amigo das crianças, em vez das creches gratuitas, talvez devêssemos estar, já, a debater as condições para instituir os 2 anos como “baliza” para que as crianças saiam de casa. Mais o alargamento das licenças de parentalidade. Ou o trabalho dos pais a tempo parcial. Ou o apoio aos avós nesta tarefa.

Mais creche não é, por inerência, melhor desenvolvimento. Com muitíssimas horas de creche e menos jardim de infância, como sucede a muitas crianças, cavam-se entre elas diferenças muito grandes no acesso a tudo o que a escola, depois, lhes dá. Guardar os bebés não chega! É preciso dar-lhes, desde o princípio, todas as condições para que sejam iguais.

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