Como sabemos, apelidou-se esta época do ano – o verão – de silly season. A ideia é dizer que os assuntos tratados durante a dita, são silly, ou seja, sem grande interesse.
Nada mais errado. Estou, aliás, convencido de que a implementação da chamada silly season em Portugal é obra da máquina comunicacional do partido socialista. Desta forma, e a coberto da season, que é silly, cometem eles próprios os maiores disparates, porque, como o povo foi a banhos, ninguém leva a mal.
Nos últimos dias, dei conta de algumas situações – que passarei a descrever – ocorridas na season dos ditos, mas que de silly nada têm;
- Os incêndios: a “festa” continua. Na serra da Estrela foi de arromba. Não há ano que não oiça falar do SIRESP, da limpeza das matas, do cadastro, dos pirómanos, das cabras, do aquecimento global. Mas, desde que não morra ninguém, que as praias não sejam interditadas e as feiras populares canceladas, o assunto é silly. Aliás, naquela manobra tão tipicamente socialista, promoveram a secretária de Estado uma Senhora cujo mérito é ser melhor em sede de conferência de imprensa do que outros de má memória. Como, ainda por cima, é militar, ninguém ousa criticá-la (embora a floresta continue a arder, mas isso é da season).
- Figueiredo & Medina SARL: esta “sociedade” faz mais pela subida do CHEGA do que o próprio Ventura. Mas, já disse o mata-borrão, é um assunto silly e até boring pois cheira até a perseguição andar a chatear quem quer arrumar a sua vidinha. Que coisa mais sem graça falar de um “jornalista” que presta favores – desculpem, serviços – ao poder político e que este, na volta do correio, lhe retribua os favores – desculpem, os serviços. Esta é uma season que dura anos e há anos, pelo que já devíamos estar habituados.
- Abusos sexuais na Igreja: Não há muito tempo, no Observador, elogiei Daniel Oliveira (DO doravante), no que respeita à sua posição, relativamente à guerra na Ucrânia. Foi sol de pouca dura. DO resolveu escrever um longo, sério e ponderado (aparentemente) texto sobre a situação dos abusos sexuais na Igreja em Portugal (e no Mundo, porque a prosa é comprida e a capacidade do escriba não lhe fica atrás). Ao ler-se o referido texto – Expresso, 12/08 – somos levados a concordar com muito do que é afirmado. O problema está nas entrelinhas, ou seja, no anátema que DO lança sobre todos os Católicos: se não sabiam foi porque não quiseram saber, afirma. Não é, pura e simplesmente, verdade. Sou Católico, vou à Missa, participo nas actividades Sinodais, faço algum – pouco – voluntariado e não sabia mais do que qualquer um que leia jornais. Perto de mim, ou da minha família, nunca nada aconteceu. Se tivesse, garanto que o responsável tinha levado uma surra valente – sei bem que seria uma atitude pouco Católica, além de pouco produtiva, porque a pedofilia é uma patologia que não passa com um par de bofetadas – a par da queixa na polícia. Mas, sff., note-se que compreendo o horror das situações – normalmente perpetrado sobre os mais frágeis, sem famílias estruturadas que os possam defender – e que num Estado de Direito a solução não é a distribuição de estalos. O que, igualmente, me entristece no texto é a ideia que DO lança sobre a vida sexual dos crentes. Ó meu caro: gosto, faço e nunca me senti limitado pela Igreja nessa matéria. Mas sei bem qual é o objectivo! Jovem, se queres sexo – quem não quer? – não sejas Católico, que eles só o fazem para procriar, depois de casados e com as luzes apagadas (se calhar de meias). E assim, com esta falácia, se afastam mais uns quantos da Fé. Outro disparate é a quási ligação, implícita no texto, entre o celibato, abstinência (que só faz quem quer) e pedofilia. Alguém, seja lá qual for a sua orientação sexual, com muita vontade em fornicar – por culpa da abstinência – pensa em crianças? Claro que não. Quem é o faz é doente. Algo de que também senti a falta no texto de DO foi do facto de não usar da mesma bitola para com os crimes do comunismo. Não foram/são os comunistas, os do passado e os de agora – usando a mesma lógica subjacente no texto – coniventes com os crimes de Estaline, Mao, Pol Pot? Não foi essa “conivência” até pior? É que, na Igreja, existem seres humanos que, por doença ou falta de valores, praticaram crimes. No comunismo, era a política, institucionalizada, do Estado. Assim, é justo dizer que, para DO, todo e qualquer adulto, que tenha vivido na Alemanha entre 1933-45 foi nazi e apoiante do holocausto; todo e qualquer adulto vivo durante a existência da URSS foi sanguinário, torcionário e genocida; o milhão de homens – e mulheres – que combateram no ultramar português (em que milhares morreram e outros mais ficaram estropiados para a vida) são racistas e colonialistas. Pois bem, caro DO, as coisas não são assim. Se é justo exigir responsabilidades a quem as tinha – em cada momento da história – é injusto, demagógico e desonesto atacar uma religião e a sua Igreja. Terminando este assunto: se a direita fosse adepta da política do cancelamento – tal qual a esquerda – o que teria já acontecido a Saramago, Ary dos Santos, Herberto Hélder, Zeca Afonso e Carlos Paredes, entre outros? Não teria a sua obra sido cancelada pelo facto de terem sido coniventes – tal qual os católicos com os abusos na Igreja – com os estalines desta vida? Ou será que não sabiam de nada?
- Chalana e Almeida Bruno: em boa hora, o Observador publicou um texto de Soares Franco sobre este tema. Lamento a morte, muito novo, de Fernando Chalana. Não sendo benfiquista, o Euro-84 será uma boa memória, enquanto a tiver. O General Almeida Bruno – pai de um bom amigo – foi um herói. Não teve honras de abertura de telejornal. Já no ano passado, a morte de outro herói e General – Ricardo Durão – não teve direito a notícia. Este último – também pai de grandes amigos – deu-me a honra de servir 1 ano no seu gabinete de Governador Militar de Lisboa, durante o meu serviço militar obrigatório. Se é verdade que os romanos idolatravam os seus heróis do Circo Máximo – os gladiadores – não nos esqueçamos que endeusavam os seus Generais. Em Portugal, nos tempos que correm, só há lugar para os gladiadores. Mas devo estar a ser silly. É da season.