As deformidades da coluna vertebral na idade adulta podem resultar da persistência das iniciadas na adolescência ou então são deformidades anómalas que se estabelecem de novo com o processo de “envelhecimento“, ou melhor, com o andar dos anos, tendo em conta que a sobrevida no mundo ocidental tem vindo a aumentar… No entanto ser mais velho não significa ser doente, nem significa ter deformidades da coluna vertebral.

A partir da década dos trinta anos o nosso esqueleto e a coluna vertebral, em particular, vão apresentando sinais de envelhecimento a que mais frequentemente chamamos lesões degenerativas ou de “desgaste”. Por isso, é frequente vermos nas consultas adultos com trintas e quarenta anos, cujos exames revelam alterações degenerativas muito marcadas, mas aquilo que nos intriga a nós cirurgiões da coluna vertebral é que, deste grupo, nem todos se queixam de dor nas costas.

As alterações degenerativas da coluna vertebral mais frequente nas pessoas mais velhas (acima dos 65 anos), são consequência do desgaste assimétrico dos discos intervertebrais e das facetas articulares que são as pequenas articulações na parte de trás da coluna vertebral. Este processo de desgaste deste complexo articular da coluna vertebral (que, sabemos hoje, tem em muitos casos uma predisposição genética), vai causar uma alteração na mecânica estática com inclinação da coluna para a frente originando as cifoses, ou para o lado, dando origem às escolioses. A este desgaste associa-se na maioria dos casos a perda de massa muscular esquelética por uma vida mais sedentária, com diminuição da quantidade e dimensão das fibras musculares (sarcopénia) e consequente diminuição da força muscular que acabam por comprometer o desempenho físico de cada indivíduo.

Sabemos também que, para manter o equilíbrio estático da coluna vertebral (em ortostatismo), posição em que gastamos o mínimo de energia, os grupos musculares da parte da frente e da parte de trás da coluna vertebral têm que estar muito bem equilibrados, o que significa que os músculos agonistas e antagonistas têm que ter a mesma força quando estamos de pé. Se algum dos grupos musculares diminuiu a quantidade e, por isso, a força muscular, rapidamente se instalam os desvios para a frente (cifoses) ou para o lado (escolioses), causando nestas pessoas que já estão enfraquecidas, uma enorme dificuldade em se manterem de pé – o cansaço fácil e a dor são as principais causas que vão perpetuar e agravar ainda mais o padrão sedentário da sua vida diária.

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A perda de massa muscular passa assim a ser um problema não só da coluna vertebral mas do esqueleto em geral e, por isso, estes doentes têm menos força nos membros inferiores e mesmo nos membros superiores, o que dificulta as suas actividades da vida diária, caindo com maior frequência e tornando-os mais dependentes de terceiros.

Esta incapacidade e a má qualidade de vida pode quantificar-se por escalas internacionais entre as quais a HRQoL (Health Related Quality of Life) – e hoje sabemos que as lombalgias e as deformidades da coluna após os 65 anos são equiparáveis a incapacidade HRQoL causada pela doença cardíaca (insuficiência cardíaca), condição que todos reconhecemos como grave e incapacitante.

Como referi anteriormente, ser mais velho não significa ser doente, nem ter uma coluna torta. Significa sim que, para termos qualidade de vida, temos que trabalhar na prevenção que é no fundo o futuro da medicina moderna. Todos temos exemplos de familiares ou amigos que com 70 ou mais anos têm uma postura e uma atividade física exemplar e que “faz inveja”.  Não devemos ter inveja, mas devemos sim copiar os bons exemplos. Manter uma boa performance psíquica e física, seja ela cardíaca ou músculo-esquelética, significa manter o exercício físico diário adequado a cada grupo etário – esperar pela reforma para iniciar este tipo de atividade é reconhecer que falhamos e que o deveríamos ter iniciado muito antes.

Trabalhar a massa muscular antes de ela perder fibras musculares, através do exercício físico regular, vai não só prevenir muitas deformidades da coluna vertebral mas também prevenir outro paradigma do mundo moderno que é a osteoporose. Manter o tónus muscular dá bem-estar físico e consequentemente psíquico, que melhora a vida de relação, facilita a integração social e permite muitas vezes trabalhar naquilo que somos experientes e sabedores por mais uns anos (em moldes distintos claro), facilitando assim a transição de uma vida activa para uma actividade de “reformado(a)” que a tantos preocupa.

Andar a pé 30 a 40 minutos diariamente e completar esta atividade com um programa de alongamentos e fortalecimento muscular adequado a cada grupo etário, deve fazer parte das nossas atividades diárias a partir da década dos 50. Isto se quisermos usufruir do tal bem-estar físico e psíquico que todos ambicionamos ter quando formos mais velhos.