O populismo, pode definir-se como a filosofia política que atrai eleitores comuns que se sentem desconsiderados, alienados e revoltados com a elite democrática, traduzindo-se assim como um canto de sereia cujo o canto tem enfeitiçado boa parte do eleitorado que tal como a lenda enfeitiçava os marinheiros que se distraiam e colidiam com rochedos levando ao seu naufrágio.

Primeiro que tudo, há que perceber o fenómeno e as condições de ascensão deste tipo de estratégia e o motivo porque tem tido tanta aderência (não só em Portugal).

Verificamos recentemente com a pandemia COVID-19, como fatores impessoais e contextuais têm o poder de virar a sociedade de pernas para o ar. Os fenómenos da globalização, da inflação, da perda de poder de compra, da crise da habitação bem como um maior (e saudável) escrutínio do fenómeno da corrupção têm contribuído para o enfraquecimento das estruturas democráticas.

Estes fenómenos não têm o selo nacional. Têm um lastro global. É nestes contextos que historicamente ascenderam ao poder personalidades como Lenine, Hitler ou Mussolini. Personalidades com cariz autoritário, que cultivavam o culto pela personalidade e que se foram infiltrando no poder político mudando as sentinelas das colunas democráticas para que poderem implementar as suas obstinações sem barreiras. O resultado disto é previsível, ditaduras com resultados catastróficos.

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Mais recentemente, verificamos no mandato de Donald Trump colocar em causa os “checks and balances” (pesos e contrapesos) na política norte-americana (nepotismo, o caso de Steve Bannon, as pressões sob James Coney, pressões para inverter resultados eleitorais) bem como o mandato de Jair Bolsonaro (classificando tortura como pratica legítima, a proliferação de noticias falsas, nepotismo novamente, discurso de ódio, etc). Ambos os mandatos terminaram com uma polarização brutal das suas sociedades e com invasões e pilhagens nos edifícios das democracias.

Presenciamos a eleição do insólito de Javier Milei (que já declarou apoio à venda legalizada de órgãos, negacionista das alterações climáticas e que fala com o seu animal de estimação, já falecido, através de uma médium)

Por cá, temos um líder que diz que foi enviado por Deus, envolto em suspeitas de falsificação de documentos, que acolhe e promove neo-nazis e cujo seu líder já foi condenado por difamação tendo por base discriminação racial

As criticas legítimas e as saídas com saída

Mas estaremos na presença de um fenómeno de maniqueísmo na sociedade? Estará dividida entre Portugueses de bem e os outros? Evidentemente que não.

Os problemas são sérios, reais e levam pessoas honestas e trabalhadoras ao desespero que os levam a serem enfeitiçados pelos tais cantos de sereia. Mas aqui é que é preciso parar e fazer soar os alarmes.  A identificação dos problemas “per se”, não são mais apenas do que gritos de revolta que em nada se traduzem em caminhos para a sua solução ou reformas que permitam uma melhoria das condições de vida.

Nestas situações o Populismo surge com promessas de entrega do sol e da lua (no 6º congresso de um dos partidos populistas, surgem promessas que ascendem a um custo de mais de 5% do PIB (Para além das promessas de cortes no abono de família, na gratuitidade de creches e de impostos sobre os lucros da banca) cujas as receitas para cobrir caem do céu (enquanto prega por menos estado e menos impostos)

Para fazer face a esta situação, cabe aos partidos moderados estarem à altura das suas responsabilidades e o porquê de terem sido conotados como “partidos do arco da governação”. Ter um debate sério, consolidado, evitando clichés e discutir reformas que abracem as necessidades urgentes do presente bem como lançar as bases para um futuro sustentável que não seja dependente somente da conjuntura internacional.

O futuro do país está em jogo, as decisões do próximo executivo vão impactar no dia-a-dia de todos nós. Por isso urge ter cabeça fria e responsabilidade no voto.