Donald Trump prometeu o fim da guerra na Ucrânia com a negociação de uma paz com Putin. Fazê-lo é partir do princípio que, para Putin, guerra significa apenas invadir e bombardear a Ucrânia. Mas, e se não for? Faço a pergunta, embora a resposta seja conhecida: não é. Pelo contrário, para Putin são vários os tipos de guerra possíveis. Aliás, para Putin a Rússia já está em guerra com a Europa sem que os europeus o saibam. É a melhor forma de guerra possível pois, enquanto Moscovo ataca, europeus e norte-americanos ainda acreditam que podem negociar a paz.

Na passada segunda-feira, um avião de carga vindo de Leipzig, na Alemanha, despenhou-se na Lituânia, perto do aeroporto do Vilnius. Como era de carga, foram poucas as vítimas: um membro da tripulação morreu e três ficaram feridos. De imediato, na Alemanha, falou-se de uma conspiração. A ministra dos Negócios Estrangeiros qualificou o acidente como um ataque de natureza híbrida e ligou-a à destruição dos cabos submarinos no mar Báltico, ocorrida uns dias antes e que levou as autoridades dinamarquesas suspeitarem da presença de um navio chinês. Tanto num caso como no outro o que há são suspeitas. E esse é parte do problema.

Nem de propósito, e no mesmo dia em que Portugal se discutia a natureza política do 25 de Novembro, o Politico publicou um texto que mais não é que um alerta para a guerra híbrida que nos assola e que não vemos.

Em Julho, uma bomba incendiária rebentou e pegou fogo a um contentor da DHL, também no aeroporto de Leipzig. Não tivesse havido um atraso e a deflagração teria ocorrido em pleno voo. Uma vez mais, não há provas concretas. Pode ter sido um acaso e, se assim for, uma coincidência dos diabos. Até porque acontecimentos fortuitos vão-se repetindo mais do que deviam. Há uns dias, um navio russo foi escoltado pela marinha irlandesa para fora das águas da Irlanda. Também em Julho, mas desta vez em Birmingham, na Inglaterra, outra bomba incendiária explodiu num armazém. Há fortes suspeitas de vários outros incêndios ocorridos na Polónia, na República Checa, na Alemanha, Lituânia e na Letónia que poderão ter sido provocados por russos. Sem contar com a possibilidade de a Rússia estar por trás dos graffitis anti-semitas que há um ano surgiram nas ruas de Paris com o objectivo de fazer recair as suspeitas na comunidade árabe e, dessa forma, desestabilizar e dividir ainda mais a França.

Estes incidentes levam-nos a concluir dois factos que não podemos deixar de ter em consideração quando falamos da Ucrânia. Primeiro, que a desinformação e a guerra psicológica são armas terríveis para as quais a NATO não tem resposta. Pelo menos, de momento, parece não ter. Segundo, que uma paz negociada com a Rússia dificilmente trará a paz. Põe um fim ao conflito armado entre a Ucrânia e a Rússia, mas não à guerra híbrida que Putin faz à Europa.

Os países nórdicos, mais a Alemanha e a Polónia já perceberam o problema que têm em mãos. Por cá, se prezamos assim tanto a Europa, como há quarenta anos repetimos à exaustão, seria positivo que pensássemos um pouco mais no que está em jogo.

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