A digitalização (acelerada pela pandemia da Covid-19) trouxe consigo o aparecimento de novos empregos (e modelos de trabalho) e, com eles, a necessidade de novas competências tecnológicas.

De acordo com o relatório Jobs for the Future (The Future of Jobs Report 2020 OCTOBER 2020, World Economic Forum), publicado em 2020 pela WEF – World Economic Forum, estima-se que, até 2025, cerca de 85 milhões de empregos serão desempenhados por máquinas, mas, em contrapartida, 97 milhões irão surgir, com base nas novas tecnologias. Entre eles, estão os empregos de Big data, AI – Artificial Inteligence e todas as outras funções ligadas à economia digital (UX-UI, marketing digital, social media, entre outras).

Por esse motivo, a necessidade de up-skilling ou re-skilling das pessoas é urgente. Estima no referido relatório que 40% a 50% da massa de trabalhadores mundial – 1.000 milhões – necessitará de novas skills até 2025, sob pena de impactar os sistemas sociais (devido ao desemprego) e o crescimento económico.

Em Portugal, com uma população ativa, em 20211, de 4,8 milhões de pessoas e de 338,8 mil desempregados (44,5 mil à procura do 1.º emprego e 294 mil de novo emprego), o potencial para requalificar é muito significativo.

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Para suprir esse gap de skills, até porque as universidades tardaram a reagir, várias startups na área da educação – edutech – emergiram, lançando plataformas, cujos exemplos mais conhecidos são a Udacity, Udemy, edX, Coursera, entre outras. Surgiram também bootcamps virtuais (campus para treino intensivo), sendo a maioria deles na área da programação, que preparam os clientes num tempo mais curto que uma licenciatura, prometendo até a colocação em empresas. São disso exemplo a Trilogy, General Assembly ou TopCoder.

Estas plataformas têm tido uma elevada adoção, dado que permitem a aquisição mais rápida de competências, a um custo mais baixo e personalizado e adequado às necessidades de cada um, e com isso uma (re)entrada no mercado de trabalho mais célere.

De acordo com a Forbes2, o mercado das edutechs, em final de 2021, representava $ 106,46 b e é esperado atingir $ 404 b até 2025. Ainda de acordo com a mesma empresa, o mercado de unicórnios (empresas com avaliação > $1b) nesta área de edutechs contava, no início de 2023, com 30 startups de educação em termos mundiais, das quais 16 nos EUA, 7 na Índia e as restantes 7 no resto do mundo.

As universidades começam agora na corrida, disponibilizando cursos online. Em termos globais, de acordo com a Studyportal3 (empresa que ofereçe estatísticas de cursos a nível mundial) são cerca de 19 as universidades que constam do top ranking mundial que oferecem > 10 cursos totalmente online, totalizando 29.922 cursos, mas a oferta de competências digitais parece-me ainda reduzida.

No caso de Portugal, o cenário é idêntico em termos de ofertas das universidades (cursos acreditados e não acreditados). Em contrapartida, o mercado apresenta-se competitivo e com uma elevada oferta em termos de plataformas (de capital estrangeiro) como a EDIT, Flag.pt, Ironhack.pt para UX/UI, ou Assembly.pt para programação.

Ainda é difícil prever o papel que irão ter os vários intervenientes, sejam os governos, startups, universidades ou sociedade civil nesta missão que é preparar os cidadãos para a aquisição de competências digitais até 2025.

No entanto, uma coisa é clara: as plataformas com conteúdos educativos parecem ser uma realidade inevitável à disposição de qualquer cidadão do mundo, a custos menores ou até de forma gratuita (Linkedin, Google Garage para citar alguns) e a forma de aprendizagem passou a ir mais ao encontro das necessidades de cada um. Com tudo isto, certamente que teremos uma sociedade mais instruída digitalmente até ao ano de 2025.

Sandra Ferreira – Director of Customer Experience and Service na Universidade Europeia. MBA, diretora, transformação digital e serviço ao cliente, nos sectores segurador e da educação, experiência na implementação de projectos de transformação complexos (e.g. salesforce), experiência internacional, da qual 10 anos na Alemanha, certificada em metodologias agile e formadora/consultora na área, titular do prémio “Portuguese Women in Tech” na categoria de Business Operations and Innovation.