As eleições internas da Iniciativa Liberal começaram com o pé esquerdo, com o líder cessante a organizar previamente à sua saída, com uma parte dos atuais dirigentes e às escondidas dos outros, a sua sucessão no partido. Tal foi visto como uma traição por parte de membros do executivo ainda em funções e como uma falta de respeito pela vontade soberana dos militantes por parte de muitos liberais.

Convictos da sua força conjunta e da sua responsabilidade para com a construção de um país mais próspero, os liberais querem acreditar que este mau arranque não os vai impedir de escolher em liberdade quem melhor os pode representar.

Para contrariar esta esperança, apenas cinco dias depois da primeira triste polémica, surgiram declarações de um apoiante de uma das candidaturas que, tendo passado mais ou menos despercebidas, destaco pela relevância que têm para a disputa interna. Bernardo Blanco, dirigente e parlamentar, alerta no podcast Vichyssoise da Rádio Observador para o perigo da “ala ultra-conservadora do partido”, caso a candidatura de Carla Castro vença as eleições. E apenas seis dias depois, em entrevista ao Expresso, foi a vez de Maria Castello Branco, ex-dirigente, vir alertar para o perigo de uma associação “aos ultra-conservadores”. Esta última termina ainda com uma ameaça de cancelamento que não irei aqui comentar. É uma atitude iliberal, que não tem lugar no partido e que deve ser prontamente rejeitada por todos.

Ora, nos cinco anos de história do partido nunca se tinha ouvido falar desta ala ultra-conservadora na Iniciativa Liberal. E porquê? A resposta é simples: ela não existe.

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Então, o que levou dois membros do partido a virem, com poucos dias de intervalo, plantar esta inventona eleitoralista? Os manuais explicam, de Sun Tzu a Maquiavel. A instigação do medo é uma das mais eficazes armas de propaganda política. E poucos liberais quererão o seu partido transformado numa coisa que não é nem nunca foi.

Mas convenhamos, se os liberais se deixassem manipular pela mentira e pelo medo estariam a militar no Partido Socialista ou no Bloco de Esquerda.

A última coisa de que o partido precisa é de sair das eleições de janeiro tão entrincheirado que a metade derrotada esteja liminarmente indisponível para trabalhar com a vencedora. Somos poucos braços para tanta luta!

Para que isto não aconteça, o que os liberais devem exigir às candidaturas é uma campanha limpa, justa, séria e digna. Que permita aos militantes responder à única pergunta que conta: quem consideram mais apto para cumprir as duas principais funções que competirão ao futuro líder: gerir o partido; e combater o atual governo.