A tragicomédia com que a Assembleia da República nos presenteou nos passados dias 26 e 27 – nem de propósito, Dia Mundial do Teatro – foi o achincalho da própria instituição. E deu razão ao Chega: “Portugal precisa de uma limpeza”. Os portugueses não podem tolerar que os deputados pagos pela nação passem dois dias naquela triste figura. Alterem o regimento se necessário for, mas que circo tamanho não se repita.

E notem que não foi o Chega que falhou com o seu eleitorado. O Chega foi eleito para isto. Ruído, boicote, desestabilização, desrespeito pelas instituições. Estão a cumprir o seu papel e quem os elegeu para representantes tem motivos para estar contente com a prestação. O PSD, por outro lado, ao comprometer-se com um voto favorável à candidatura do Vice-presidente apresentado pelo Chega, fez o que lhe competia: respeitou a legitimidade democrática dos cinquenta deputados eleitos e o seu direito a indicar um deles para aquele lugar. Foi o PS, ao boicotar a eleição do Presidente da Assembleia da República, por teimosia, arrogância e oportunismo, quem prestou um péssimo serviço à democracia. É que não se espera do PS o mesmo que se espera do Chega.

Aguiar Branco foi deputado, por duas vezes ministro e membro do Conselho Superior da Magistratura. Que argumento moral ou político deram os deputados socialistas a si próprios para por diversas vezes o terem considerado indigno ou inapto para ocupar aquele lugar? E como justificaram a si mesmos a bizarria de exigirem cortar ao meio a segunda figura do Estado, qual Julgamento de Salomão?

O PS é um partido fundador do atual regime, mas o PS de Pedro Nuno promete não respeitar essa história. Os seus dois antecessores, Sócrates e Costa, saíram ambos pela porta pequena. Pedro Nuno arrisca-se a fazer ainda pior. Hoje, se Mário Soares ressuscitasse, morreria de novo, de vergonha por ver o seu PS em tão fraca figura na casa da democracia.

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