No início do século XX, a educação era um processo predominantemente analógico. As salas de aula eram preenchidas por carteiras alinhadas, quadros de ardósia, giz e livros físicos. O professor era a principal fonte de conhecimento, e os alunos, ouvintes atentos.
Ao ler o parágrafo anterior (escrito pelo ChatGPT quando lhe perguntei como era a escola do século XX), alguém fora da realidade portuguesa poderia pensar que se trata de um texto para uma peça histórica sobre a escola do século passado. No entanto, todos os portugueses sabem que este texto, cem anos depois, tem mais em comum com a realidade atual do que diferenças.
Num mundo onde acaba de ser lançado o iOS 18, faz sentido continuar a escrever em quadros de ardósia e a carregar 10 kg de livros e cadernos às costas? Esta é a escola portuguesa, uma escola que nos permite fazer uma viagem ao passado com apenas dois passos: 1 – o de passar o portão; 2 – o de passar o cartão.
Sinceramente, preocupa-me a imagem que os meios de comunicação social têm passado ultimamente sobre o ensino português. Parece que os problemas do ensino se resumem apenas ao descontentamento por parte dos professores, mas na verdade há muitas mais razões para além desta para ficarmos descontentes.
Quem entra numa sala de aula em 2024 provavelmente pode pensar que recuou uns 50 anos. As matérias são as mesmas, as instalações são as mesmas, os programas são os mesmos e os métodos de ensino são os mesmos.
Podíamos usar o argumento de que se tudo é o mesmo é porque é bom, mas tenho as minhas dúvidas. Os tempos mudaram, vivemos em uma era digital, onde um TikTok tem mais impacto do que um novo livro. Há muitas distrações, muita coisa em que pensar e fazer. Então, será que estamos a falar de um problema que é mais dos jovens e menos da escola? Acho que não. Falamos, sim, de uma escola desatualizada, desmotivadora e que não prepara os jovens para o futuro.
Uma escola que não permite aos professores inovarem, porque ao inovarem fogem do programa; uma escola que deveria ser um fator de elevação social mas que manda uns pelas escadas e outros de elevador; uma escola que muitas vezes em vez de orientar desorienta; uma escola que mais se assemelha a uma primeira demão do conhecimento, porque para ter a parede do conhecimento verdadeiramente pintada é preciso ter dinheiro para pagar explicações.
Aqui ficam quatro TPC simples para o Ministério da Educação:
1. Reformular os programas e os métodos: Procurar novas formas de alcançar as aprendizagens essenciais. Aproveitar o digital e as novas ferramentas para estimular nos jovens o gosto pelo estudo.
2. Criação de uma disciplina obrigatória no 12º ano de preparação para a vida adulta: Onde todos os jovens, seja do ensino regular, seja do ensino profissional, adquiriram conhecimentos ao nível financeiro, acesso ao ensino superior, compra da primeira casa, entre outros.
3. Uma Escola que ajude a orientar: Uma escola onde um jovem de 15 anos não tenha de definir o seu percurso para os próximos anos. Um ensino geral que se especializa com disciplinas e que permite a um aluno escolher um determinado número de disciplinas a seu gosto, podendo misturar áreas.
4. Uma escola que seja um verdadeiro elevador social: Que valorize o mérito cívico e académico e que responda às dificuldades de cada um de maneira eficaz e igual, independentemente do seu local de residência e da sua condição financeira.
É tempo de repensar a escola, de fazer uma verdadeira atualização de software, criar uma escola justa, inclusiva e que desperte em cada jovem o gosto pelo estudo na área que mais lhe interessa e em que tem mais aptidão.