Eduardo Cabrita tem sido um dos alvos favoritos da oposição. Como se viu no debate do Estado da Nação, o discurso à direita do PS está praticamente centralizado no Ministro da Administração Interna, demitindo-se desta forma de fazer aquilo que deve fazer: apresentar propostas, medidas, alternativas, pensar o futuro do país… No fundo, de fazer oposição.

Percebe-se que, à direita, se peça a cabeça do Ministro da Administração Interna, dado o rol de trapalhadas em que se tem visto sucessivamente envolvido e que já foi aqui listado, embora de forma não exaustiva, a que temos de adicionar o atropelamento e morte de um trabalhador na A6 e os mais recentes desenvolvimentos na organização dos festejos do Sporting.

A saída de Eduardo Cabrita do Governo é algo que o próprio já terá pedido várias vezes a António Costa, que tem insistido em mantê-lo no executivo, juntamente com outros ministros que terão já expressado a mesma vontade, seja em público, seja em privado.

Rui Rio diz que o Governo está desorientado, fruto do desgaste de quase um ano e meio de pandemia, e que, por isso, Eduardo Cabrita será um dos ministros “remodeláveis”.

“Se fosse eu primeiro-ministro, naquilo que é o modelo que eu entendo, na forma como eu entendo que o Governo de Portugal deve funcionar, não. Mas não sou eu o primeiro-ministro, é António Costa que vai determinar”, dizia o presidente do PSD sobre as condições que Eduardo Cabrita terá (ou não) para permanecer no Executivo.

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Já Francisco Rodrigues dos Santos optou por sugerir a António Costa que fizesse uma remodelação governamental, sob pena de o Primeiro-Ministro ficar, também ele, responsável pelos erros que os seus ministros venham a cometer.

Referindo-se a Eduardo Cabrita em particular, Chicão afirmou que este “já há muito tempo que perdeu a confiança dos portugueses, perdeu a credibilidade e a autoridade que se merecem a um ministro de um Governo de Portugal”.

Têm razão Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos quando dizem que Eduardo Cabrita deixou há muito de ter condições para ser ministro. Tem também razão Rui Rio quando diz que é António Costa quem vai determinar a saída ou não de Cabrita do Governo.

Como recordou Augusto Santos Silva no Estado da Nação, a composição do Governo é competência… do Primeiro-Ministro. No limite, quem mantém este Governo em funções é, por um lado, o Partido Socialista e, por outro, os restantes partidos à esquerda, nomeadamente Bloco de Esquerda e PCP. E destes não se tem ouvido grande alarido.

Se é verdade que o Bloco de Esquerda tem vindo a pedir a saída de Eduardo Cabrita do executivo, essa energia esmoreceu à medida que nos aproximamos, temporalmente, da discussão do Orçamento do Estado. Mais reveladora foi, no entanto, a abstenção conivente do PCP, que impediu que o Ministro da Administração Interna fosse ao Parlamento prestar esclarecimentos adicionais sobre os festejos do título do Sporting.

Uma abstenção que se torna compreensível se tivermos em conta que os comunistas são agora os parceiros predilectos de António Costa para fazer passar o Orçamento do Estado em Outubro próximo.

Se Governo, Partido Socialista, Bloco de Esquerda e PCP não vêem problema algum em manter Eduardo Cabrita em funções – ou pelo menos não fazem grande pressão para que o Ministro deixe o governo –, não há grande coisa que PSD ou CDS possam fazer para pedir a sua demissão. Ao escusar-se do cabal apuramento de responsabilidades do Ministro da Administração Interna, a esquerda está a tornar-se conivente com a sua actuação.

O que é certo é que este teimoso nepotismo de António Costa – mais preocupado em proteger-se politicamente, como já tinha feito, por exemplo, com Constança Urbano de Sousa, curiosamente também ela Ministra da Administração Interna –, não augura nada de positivo para a longevidade deste Governo.

De maior gravidade serão ainda as consequências económicas, de divisão política e social que daí advirão no longo prazo. A confiança das pessoas nas instituições democráticas fica ainda mais fragilizada com estes “casos e casinhos” e com a falta de responsabilização política, que tem sido recorrente neste Governo, centralizado no nepotismo inconsequente de um Primeiro-Ministro ansioso pelos milhões da bazuca, que lhe abrirão a porta para um tão ambicionado cargo na Europa.

Artigo actualizado a 2 de agosto. Os autores do artigo defendiam, originalmente, que o Bloco de Esquerda não tinha pedido a demissão de Eduardo Cabrita durante o debate do Estado da Nação. Tal não corresponde à verdade. Pedem os autores, por isso, desculpa ao Bloco de Esquerda.