Os exames do ensino secundário voltaram, recentemente, à discussão pública. E, uma vez mais, sente-se uma clivagem entre duas tendências que parecem ser inconciliáveis. Dum lado, a ideia de que os exames funcionam como um “corrector” do “facilitismo” com que se avaliam os conhecimentos. Do outro, que os exames não devem ser a etapa com que se conclui o ensino secundário, já depois de se ter sido aprovado.

Talvez um exame seja só uma prova de aferição em relação aos conhecimentos com que os estudantes terminam o 12º ano. E um indicador com que se pode avaliar os desempenhos das próprias escolas. Se for assim, o peso percentual de um exame numa classificação final de um ciclo de estudos terá de ter uma ponderação sensata. Já imaginar que os exames servem para corrigir o “facilitismo”, supondo que tragam a robustez ao conhecimento que sem eles não existiria, não é razoável. Se as notas que se atribuem não correspondem ao nível de conhecimentos dos estudantes, então é altura de repensarmos o “pó de arroz nas notas” e a qualidade do próprio ensino. O que não é sério é considerar que os exames corrigem os erros que se acumularam num ciclo de estudos.

Seja como for, o ensino obrigatório não pode ter como objectivo fundamental o acesso ao ensino superior. Será um corpo de conhecimentos que se considera indispensável na conclusão  do percurso que vai do jardim de infância ao 12º ano. Já em relação ao ensino superior, talvez seja altura para que as universidades definam os seus critérios para a frequência dos respectivos cursos, e avaliem e seleccionem, elas próprias, curso a curso, as competências indispensáveis dos seus futuros formandos.

Partir-se o país ao meio entre aqueles que são a favor e os que são contra os exames contribui para que não se defina o se quer da escola, da forma como deve ela compatibilizar as crianças do século XXI com a sabedoria digital a que têm acesso, do modo como os planos de estudo e os métodos de avaliação devem ser transformados, e onde entra a formação dos professores e os exames nisso tudo. Quando ficamos só pelos exames parece que mudar alguma coisa chega para que quase tudo fique na mesma.

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