Os dicionários de gestão são cada dia mais completos e os gestores aceitam integrar novas dimensões de gestão nas suas organizações. A produção e distribuição de bens, ou a prestação de serviços, é otimizada com práticas sofisticadas de gestão financeira, tecnologia, recursos humanos, marketing e research. Os gestores aceitam evoluir e integrar nas suas organizações dimensões que já foram consideradas inovadoras e que hoje constituem ferramentas essenciais de gestão dentro das organizações, como a gestão da inovação, gestão de modelos de colaboração e agilidade, digitalização dos negócios.  Até dimensões como a sustentabilidade ou a inteligência artificial fazem parte dos planos de negócios e de investimentos.

Os gestores não têm ainda capacidade de olhar para a cultura como uma solução que acrescenta valor à sua atividade, aos seus negócios. Menos ainda, a capacidade de quantificar quanto a cultura, ou a criatividade, podem representar enquanto ativo. E quando se levanta esta questão, surgem preconceitos. O preconceito de que a cultura não é uma disciplina capaz de resolver um problema de negócio.

O que leva os gestores a ignorarem a cultura como uma ferramenta que os pode ajudar a resolver os seus desafios de negócio? Ou mais ainda: desenvolver novas ideias, projetos e áreas de negócio que permitam até que se distingam dos seus concorrentes e ocupem novos espaços de mercado? Por que razão os gestores não tomam a consciência de que um agente cultural que trabalha com criatividade está mais bem capacitado para desenvolver um projeto criativo? Porque temos que ver a cultura como mecenato, ou como uma dimensão que não está diretamente interligada com os objetivos de negócio?

Os gestores já compreenderam hoje que a criatividade é uma peça chave da sua capacidade de diferenciação. Todos aceitamos que num mercado cada vez mais concorrencial sobrevivem as organizações ou as marcas que se distinguem que se diferenciam. A capacidade de personalizar (os produtos, os serviços, o tratamento e atendimento ao cliente) e a capacidade de fazer diferente são um fator crítico de sucesso. Os negócios são constantemente desafiados a reinventarem-se num mundo onde a flexibilidade e a mudança não são um imprevisto, mas sim variáveis normais de gestão. É razoavelmente evidente que a indústria da cultura aliada ao mundo dos negócios pode ser o trigger deste fator diferenciador. Falta à grande maioria dos gestores a abertura para olhar para a indústria criativa enquanto fornecedor de criatividade.

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Mas também é verdade que em termos de proficiência de gestão e organização, a maioria das organizações do setor privado está uma série de passos à frente da maioria das organizações do setor cultural. E também é verdade que existe, tirando honrosas exceções, uma incapacidade de aproximar o universo empresarial e o universo da cultura de forma colaborativa, com integração efetiva de equipas mistas, com um entendimento partilhado de desafios, contexto e ferramentas, e com desenvolvimento de projetos conjuntos.

Se a diferença na sofisticação das práticas de gestão pode ser uma parte da explicação, podemos ficar todos mais descansados, porque há uma solução. Afinal de contas o mesmo acontece entre o setor privado e o terceiro setor. Aqui assistimos a uma crescente colaboração entre o setor privado e o terceiro setor. Com a promoção de forma sustentável de parcerias de longo prazo e equipas partilhadas. Pelo que só temos que acreditar que não há razão nenhuma para que não possa acontecer o mesmo com o setor cultural, assim surjam alguns triggers que alertem os gestores para esta dimensão crítica de diferenciação dos seus negócios.

Urge retratar os bons exemplos de projetos desenvolvidos no setor empresarial com recurso ao setor cultural e expor os seus resultados: o retorno de um investimento que nunca teve a intenção de ser filantrópico. Urge a capacidade de desenvolver métricas que permitam avaliar o sucesso destes investimentos.

Sobretudo, urge quebrar preconceitos e uma enorme necessidade de aproximar estes dois setores, tão mais complementares do que qualquer um de nós imagina.

O reCenter Culture propõe-se fazer uma parte deste papel, aproximando os agentes do setor empresarial e cultural, e procurando acelerar oportunidades de investimento sustentável, reforçando as competências de design estratégico, gestão e comunicação na área cultural.