As reivindicações de professores, que nos últimos meses têm ocupado os títulos da comunicação social, têm ajudado a esquecer o outro grande problema da educação, a falta de professores.

A falta de professores não é um problema do passado, ainda não é um verdadeiro problema do presente, mas será um gravíssimo problema no futuro se nada for feito para o resolver.

Ao contrário do que tem sido afirmado por alguns responsáveis políticos, a falta de professores não é um problema do passado, apesar de ser previsível, só há poucos anos as escolas têm uma permanente falta de professores. Recuemos um pouco no tempo e recordemos as reportagens televisivas de início de ano letivo, passadas às portas dos centros de emprego, a demonstrar as filas intermináveis de professores a registarem-se como desempregados. O fenómeno é recente mas exige medidas urgentes e consistentes.

O previsível envelhecimento e consequente aposentação de professores levará, como os estudos indicam, a uma redução de cerca 39% dos professores que se mantinham em serviço em 2018/19, significando que a necessidade de contratação de novos professores será muito acima do que neste momento se está a formar no ensino superior.

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Todos nos recordamos das medidas de curto e médio prazo anunciadas há um ano pelo ministério para colmatar a falta de professores. Entre flexibilizar os requisitos de formação para a contratação de docentes com habilitação própria a completar horários incompletos, as medidas, apesar de imediatistas, remediaram alguns casos.

Passado um ano letivo, e um ano depois de o anterior secretário de estado agora ministro ter tomado posse, esperava-se que o ministério estivesse a colocar em prática um plano que atuasse sobretudo em três frentes:

– Reformulação da formação inicial de professores e da formação pedagógica para profissionais de outras áreas;

– Formação pedagógica para os docentes que estão a lecionar com habilitação própria, fruto das medidas excecionais aplicadas em setembro passado, e;

– Revisão profunda do processo de recrutamento de professores.

Sobre as duas primeiras não se encontra nada escrito, sobre o recrutamento de professores, o ministério foi incapaz de conciliar os interesses destes com os interesses da boa gestão em recursos humanos. Algo que reconhecemos ser muito difícil, mas que tem de ser possível.

As premissas anunciadas há um ano para resolver a falta de professores foram deixadas para trás e neste momento poucos sabem o que norteia o governo para resolver o problema da falta de professores no futuro.

Este é um assunto que não se pode resolver com curativos de emergência. Hoje alargam-se horários, amanhã remedeiam-se habilitações e depois fazemos qualquer coisa para colocar qualquer perfil perante uma turma de vinte e cinco alunos. Medidas destas silenciam o problema porque os alunos estão na sala e as estatísticas aparentam uma resolução, no entanto, o produto de medidas avulsas será dramático para todo o futuro do país.

Os alunos do presente precisam de preparação para um futuro incógnito, precisam de bons profissionais que lhe ensinem as ferramentas e o conhecimento, que os ajudem a enfrentar todos os desafios das suas vidas. Os professores são capazes disso, independentemente das condições ou do respeito com que são tratados, falta formar mais e melhor para que assim continue no futuro.

Deputada na Assembleia da República eleita pelo PSD

‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.