Quem achar que a campanha eleitoral acabou desengane-se, apenas entrámos na segunda fase. Com uma composição dispersa e sem possibilidades de alianças e comprometimentos, ninguém acredita que a legislatura dure quatro anos, por isso os três grandes partidos fazem equilibrismo, fazendo campanha sem parecer que o fazem, fazem cedências para não ser penalizados por levar os portugueses outra vez a eleições, mas sem ceder declaradamente e sem parecer irredutível. Cada um, testa os adversários, com pequenos avanços e recuos na arena da assembleia, ao avançar para um pode ser atacado pelo outro e vice-versa, mas ninguém se alia para atacar o outro ou pode ser traído a qualquer momento. Mas como fazem estes movimentos? Que estratégia seguem?

O PSD, o gladiador com rede, tenta manter o papel de quem quer dialogar, do responsável que faz cedências e tenta criar pontes, recorre a medidas dos outros partidos para criar ilusões, promete dar a alguns e acalmar outras fações da sociedade civil. Tudo para transmitir a imagem de responsável e que traz estabilidade e futuro responsável ao país. Sabe que precisa do CHEGA mas não o fará para não comprometer as próximas eleições, da próxima vez já não vai necessitar do discurso do “não é não”, e as alianças irão surgir, Passos Coelho já abriu o caminho, mas isso é história para outro dia. Quanto à sua relação com o PS, ataca, mas a medo, pois não quer depender do CHEGA, mas também não pode parecer um retorno ao bloco central. No fundo a estratégia é o da imagem de quem está a trabalhar, a fazer o que prometeu, o governo dos portugueses, mas que os outros sabotaram.

O CHEGA, o gladiador do chicote, mantém-se no papel da vítima revoltada, como se representasse a maioria dos portugueses e que os restantes partidos lhe estivessem a negar o seu lugar por direito. Mas por enquanto vai apoiar o governo porque ainda não é o momento de o mandar abaixo, porque tem mais a ganhar se deixar a esquerda fazer cair o governo, mas sabe que tem de ter um motivo forte para não lhe dar a mão, pois vai precisar de se aliar para formar governo (após as próximas eleições legislativas). O motivo vai ser criado nos próximos meses, e a imagem de responsável que está a assegurar a estabilidade está a pegar, tal como a mensagem de que o PSD está colado ao PS vai passando. A estratégia é aproximar-se para pregar uma rasteira a ambos no momento certo.

O PS, o gladiador do tridente, quer liderar a oposição, mas já se esqueceu como se faz, a única arma que tem é o bloqueio temporário para depois intitular-se como salvador das instituições democráticas e transmitir a imagem de que é o adulto na sala, mas na realidade não está a pegar. Não tem plano para o país e torna-se difícil opor-se às medidas que defendeu na campanha, já que o PSD mantém a mesma política do PS, a do “mexe pouco para não estragar mais”. Sabe que se deixar o tempo correr o CHEGA pode ficar impaciente e atacar o PSD, mas ainda não entendeu que os portugueses continuam descontentes com o PS, e que também já não confiam que o PSD faça diferente. A estratégia de deixar andar e dar tempo para que o PSD caia e o PS volta para o governo, será cair na armadilha do CHEGA, que cresceria mais e que das próximas eleições pode ser apelativo sair um governo PSD e CHEGA.

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Depois existem os partidos mais pequenos que ainda não sabem o que fazer, ou pelo menos assim parece, são armas de arremesso e escudos nesta arena, não se estão a mostrar como gladiadores, não se estão a saber demarcar nem mostrar o que ali estão a fazer.

O PCP e o BE continuam agarrados ao passado, lançam moções de censura para mostrar que são a esquerda, para mostrar que estão vivos, mas sem qualquer demonstração de que existe uma estratégia, que podem defender as suas causas, que têm uma alternativa para o país, estão desacreditados e não sabem como se manifestar no meio do teste de forças que existe na assembleia.

Já o Livre continua a atuar como um partido do senhor professor, que fala bem e caminha para assumir o seu papel, a sua campanha é para crescer à custa da esquerda.

Resta a IL, o gladiador de escudo e espada, com forte potencial, que começou por não saber bem como se posicionar, e parecia esconder-se atrás do escudo e só elevar a espada para manter os adversários à distância. Não está habituado a um adversário à direita, e estava com dificuldade em marcar a diferença pelo facto do seu número de deputados não ser decisivo. O que acabou por ser positivo, pois já se começou a revelar uma surpresa. Começa agora a dirigir-se a um novo eleitorado e com qualidade de análise já se teve notoriedade junto dos comentadores políticos, mas só quem acompanha a política com cuidado repara nisso. É esse o caminho, mas tem de descolar-se do PSD, mostrar garra e assumir o papel de alternativa à direita, entrar na luta como um partido grande aproveitando que não terá impacto nem será responsabilizado por uma futura quebra do governo.

Agora é acentuar a contestação à mediocridade das medidas e avançar com um plano nacional arrojado para reformar Portugal. Tem de passar a imagem de Reformador, Sensato, Arrojado, o partido em quem todos os descontentes e moderados se possam rever, que seja aquele em quem os jovens, os jovens adultos, e todos os pré-reformados se reveem e querem apostar, porque ainda acreditam no futuro, porque apresentam um futuro diferente. Este é o momento em que a IL se assume como a nova força política de relevo ou tende a reduzir-se até à irrelevância como o PCP e o BE.

A arena está montada, os combates já tiveram início, mas os avanços ainda são ténues, vamos ver quem sobrevive.