O inacreditável chegou da boca do Major-General Agostinho Costa. Em pleno debate na CNN com Diana Soller e o embaixador Francisco Seixas da Costa, o delírio veio sem cerimónia. Apoiado em sites que sobrevivem na Internet, e cuja seriedade é altamente questionável, apresentados como senhores do jornalismo independente, sem o serem, peritos em propaganda vergonhosa e obscena, o militar felizmente na reserva, elevou ao pódio The Grayzone, para mostrar a verdade, a sua verdade, que é mentira, através deste sítio, como diria o saudoso jornalista António Ribeiro Ferreira, mal frequentado, conhecido pela cobertura elogiosa de regimes autoritários e déspotas, como os governos russo, chinês, venezuelano e sírio.

O editor da Grayzone, tal como o antisemita Roger Waters, mereceu da parte de Putin a honra de discursar num briefing no Conselho de Segurança da ONU sobre o fornecimento de armas à Ucrânia. Um lindo cartão de visita. Max Blumenthal é o nome do editor, um dos queridinhos do absolutista que, com gosto e obsessão, enterra Israel e judeus nas suas pseudo reportagens.

Apoiado nesse ferro que se parte com facilidade, o Major-General Agostinho Costa disse, notando-se, inclusive, algum orgulho na cara: “… mais de metade dos civis mortos [em 7 outubro] não foram mortos pelo Hamas, mas pelo exército israelita”, “as forças armadas israelitas quando chegaram, no dia 7 e dia 8, depois daquela enorme confusão, e na dúvida matamos toda a gente”, “é um pouco como Arnaud Amalric na Cruzada contra os Cátaros: matamo-los a todos porque Deus saberá distingui-los“, “o exército israelita chegou e liquidou tudo e todos”, “portanto uma boa parte dos 1200 mortos não foram mortos pelo Hamas”.

Os telespectadores informados devem ter ficado chocados e os desinformados podem concluir, que, afinal, terá sido Israel que matou os seus cidadãos e que a história não terá sido tão má. É grave no superlativo. A CNN é um canal seríssimo. Os mortos assassinados pelos terroristas do Hamas foram abatidos por gente que não é gente, gente pior que antropófagos, gente incompatível com a existência. Desventrados, degolados, queimados vivos como um churrasco, cabeças de crianças ao lado do mar de sangue dos pais, um feto foi arrancado do ventre da mãe para serem esfaqueados até ao fim da respiração, idosos baleados pela garganta, mulheres violadas e homens mutilados, quem ali estivesse, teve morte monstruosa. Na opinião do Major-General parte do banho de hemoglobina está na responsabilidade do Israel Defense Forces (IDF). Diz que é fruto da confusão. Confuso, ele, sim, está confuso. É espantoso que uma voz que vomita barbaridades tenha microfone. Saiba, o instituto de medicina legal em Israel tem dificuldade para ser feito o reconhecimento dos bocados dos corpos. Há pernas que restou de uma pessoa. Ou um braço. Ou parte da pele da mão. Ou o tronco de uma criança. A conclusão do Major-General que boa parte dos mortos, aliás, vítimas, não é da responsabilidade do Hamas, tem a malignidade que condiz com as suas intervenções sobre a guerra entre Israel e o Hamas. Considerar que o IDF entrou a matar os seus é analfabetismo, e não é metafórico. Só falta avançar que os soldados israelitas levaram os reféns para Gaza. O que falta é perguntar onde está a UNICEF, tão preocupada com as crianças, mas sobre as crianças e bebés que estão nas cavernas do terror nem um pio, em que estrada anda a Cruz Vermelha porque o silêncio fala muito, a ONU já entendemos qual é a rota.

Comparar o talho perpetuado pelo Hamas contra pessoas que estavam numa festa, em casa, na rua, na estrada, onde fosse, e a defesa de Israel mostra o distanciamento propositado da realidade. Um dos muitos exemplos do estrabismo radical, dito na CNN pelo Major-General espelha o impossível do humano: “O que o Hamas foi fazer foi devolver a Israel aquilo que Israel faz impunemente”. Frase com olor antissemita. Imprópria de ser dita numa televisão, ou em voz baixa. O Hamas invadiu Israel para cometer um massacre. E cometeu. Ponto. O Hamas sabia logicamente que Israel não ficaria de braços cruzados. Antes de 7 de Outubro, sempre que rockets saiam em direção ao território israelita, Israel respondia. E agora responde, e responderá, como qualquer país com neurónios na cabeça, e existem alguns que não os têm em funcionamento. Lembrar, sim, lembrar que Israel fez paz com nações que esteve em guerra: o Egipto e a Jordânia. Assinou acordos com os Emirados árabes e Bahreim, estabeleceu relações diplomáticas com Marrocos e o Sudão. Isso incomoda os analfabetos que crêem que aos judeus e árabes não lhes resta a possibilidade de se virarem para o mesmo lado. Incomoda os terroristas do Hamas e os seus compadres na Europa. Os acordos de Oslo, pois, esses acordos que geraram a Autoridade Palestiniana, criada para garantir um governo autônomo provisório por um prazo de cinco anos, enquanto as negociações avançavam para resolver questões cruciais, naufragaram infelizmente no charco. A Autoridade Palestiniana colapsou, muitos da Fatah acabaram fuzilados e com o pescoço atado ao tubo de escape de motorizadas guiadas pelas manápulas de terroristas do Hamas. Defender miseráveis terroristas com quartéis-generais em hospitais, que fazem a guerra através de hospitais, usam hospitais, o que for, como escudos humanos, e querem a destruição de Israel e do povo judeu, é posicionar-se do lado da lama e ser cúmplice do fim da humanidade e também do povo palestiniano. Afirmar que o exército israelita também cometeu a chacina contra os seus, nesse terrível Shabat de Outubro, é a tentativa desprezível de encontrar desculpas para minimizar o Hamas, como pressupondo, coitados, não fizeram a desgraça sozinhos. O Hamas é o único executor da matança. O Major-General Agostinho Costa precisa de procurar, e encontrar, fontes credíveis, urgentemente. Calado é Shakespeare.

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