Se Portugal deve, sim, estar ao centro, nem por isso o PSD. É uma ingenuidade dissecar purezas num partido que sempre se tratou por “o mais português de Portugal” à luz da sua diversidade. Por outras palavras, ora mais populares, ser “um saco de gatos” quem sabe seria a sua maior força. Traduzindo a linguagem felina, fala-se de sociais-democratas à portuguesa, liberais, democratas-cristãos e conservadores. O que os une e o que torna possível coabitarem? Note-se que o PSD não se deve resumir ao posicionamento ao centro nem à direita, o que várias vezes se reverbera como a mais lógica e única alternativa ao falhanço da estratégia centrista.

Desde Norberto Bobbio se observa que os termos “esquerda” e “direita” não apenas se referem a pensamento ideológico, mas a programas opostos de ação política. Sabendo que o eixo de governação do Portugal democrático, até hoje, se divide na alternância entre PS e PSD, este último não tem outro remédio se não pilotar o espaço não socialista – leia-se todos os que não se reveem no programa do PS, nem em partidos à sua esquerda; leia-se Direita, no sentido acima indicado. Por miúdos, requer-se um PPD. Um partido popular, interclassista, de implantação nacional, que seja casa das massas não socialistas que se identifiquem com um projeto reformista, ocidental e europeísta, ao mesmo tempo que profundamente enraizado na realidade portuguesa.

Como os tempos sempre ditam as vontades, como é que essa nova apreciação do espaço não socialista se deve situar, num contexto em que o CDS está em vias de extinção – paz à sua alma – deixando um vácuo de representação e excelentes quadros órfãos de protagonismo, e com dois novos partidos, galvanizados pelos resultados das últimas eleições, ao seu lado? Dando antes nota que se exclui o Chega desta reflexão, não o entendendo como parte da solução, não restem dúvidas: o elo de contacto passará pela ideia de liberdade.

À direita do PS, é consensual que o desenvolvimento de Portugal terá de passar por uma diminuição do papel do Estado na vida do país, estando a discordância no grau e na forma.

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Sobre a liberdade, Isaiah Berlin desenhou duas conceções: uma negativa, que passa por entender a liberdade como a não interferência do Estado, e uma positiva que, por outro lado, valoriza uma certa interferência desse em prol de potencializar a liberdade. A saúde do diálogo à direita depende da capacidade de harmonizar essas duas, que convivem num plano ora mais ora menos efervescente, sendo essa distinção notória ao observar o guião do PSD e o da IL. Resta refletir acerca de como essas podem conviver.

Por último, há que não desmerecer o valor do rebranding do PSD. É hora de tentar uma nova imagem, lançar novos protagonistas, estimando mais a sociedade civil, e arejar o discurso.

Assim, a reorganização do espaço não socialista é vital, nos seguintes moldes: com um PSD mais PPD, que, de uma vez por todas, encare o papel de líder dessa alternativa, e que não desperdice o vácuo de representação deixado pelo desaparecimento do CDS; agregando os diferentes projetos em torno da ideia de liberdade; com um rebranding e um aproveitamento mais eficiente dos quadros.

Estas são interrogações que julgo inquietantes para a direita. Como Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Amaro da Costa responderiam?