Desde miúdo que passo as minhas férias nas praias do Oeste. Daí que seja com grande cepticismo que partilho com o leitor uma notícia que passou despercebida: Amostras recolhidas em Portugal mostram que grande inverno de quatro mil anos provocou morte dos primeiros habitantes da Europa. O cepticismo deve-se aos cientistas afirmarem que, há cerca de 1,1 milhões de anos, houve um súbito arrefecimento de tal ordem que até a temperatura da água do mar desceu 6°C. Ora, ainda ontem tomei banho na Ericeira e não me parece que seja possível a água ser mais fria sem que se dê a sua congelação. É sabido que quem se banha nestes mares fica com pele de galinha tão áspera que se consegue lixar uma peça de carpintaria esfregando-a no braço. Aliás, estou convencido que o sismo registado ontem em Peniche foi causado por uma família de turistas ingleses a tremerem depois de uns mergulhos. É este tipo de declarações improváveis que retiram credibilidade à ciência.

Além desta afirmação duvidosa, o estudo revela ainda várias lacunas. Por exemplo, sabemos que a temperatura arrefeceu de tal modo que as condições de vida se tornaram tão pouco propícias que o homem poderá ter desaparecido do sudoeste europeu durante 200 mil anos. Isso é giro, e tal. Mas os investigadores não nos dizem nada sobre as reacções desses humanos quando começaram a ver o tempo a mudar.

Tenho curiosidade em saber quem é que estes primeiros hominídeos culparam por estar a ficar frio? Algum magnata açambarcador com 7 ou 8 machados de pedra lascada, se calhar. Outra: uma vez que não existia ainda religião organizada como o cristianismo, o islamismo ou o alarmismo climático, que Ser Supremo é que teve de ser aplacado e com que sacrifício específico? A descarbonização não foi de certeza, que primeiro seria preciso carbonizar e isso ainda estava a muitos milénios de acontecer. Também gostava de saber qual o comportamento que esta sociedade julgou ter impacto suficiente para provocar a alteração do clima? Aposto que acharam que era a mania de tirar pedras dos leitos dos rios que fez a água arrefecer, pois a pedra, quando está ao sol, fica quente. Por último, uma vez que não havia viagens aéreas, contra que tecnologia do paleolítico é que adolescentes histéricos se insurgiam? Just stop sílex?

O estudo não é completamente inútil, porém. Dá-nos novidades importantes. Ao que parece, é possível que o clima mude devido a variações naturais, sem que ao mesmo tempo se desenvolva qualquer tipo de actividade industrial humana. O que levanta a questão: quão preguiçosa é a Natureza que a partir de 1850 decidiu deixar de controlar o clima? Fazia-o ininterruptamente desde há 4,5 mil milhões de anos, no último século e meio meteu baixa e delegou-nos a tarefa. E, já agora, como é que a Natureza conseguia mexer no clima sem uma fábrica que fosse para emitir CO2?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Também ficamos a saber que enfrentar clima adverso quando se é um selvagem sem recurso a electricidade, gasolina, cimento, plástico e outras modernices é uma grande maçada.

O que quer dizer que, para um problema que a natureza nos apresenta amiúde, queremos abdicar voluntariamente das ferramentas que ajudariam a ultrapassar as más condições climatéricas. Mas o pior é que nem isso garante a sobrevivência. Repare-se: Um arrefecimento desta magnitude terá colocado os pequenos grupos de caçadores-recoletores [na região] sob um stress considerável, especialmente porque os primeiros [destes hominídeos] podiam não ter condições para se adaptar, como gordura corporal suficiente, meios para fazer fogo roupas ou abrigos eficazes, afirmou Nick Ashton, do Departamento de Pré-História do British Museum“.

Estes primeiros habitantes da Europa desapareceram porque não tinham acesso a uma tenda, um anoraque, um campingaz e uma tablete de chocolate, tudo coisas que se arranjam na Decathlon por menos de 100 euros. Ou seja, os nossos antepassados viviam como os paleoliticamente correctos activistas climáticos querem que nós agora vivamos, mas nem isso os safou do clima. Faz sentido que o regresso à Idade da Pedra seja defendido pelos calhaus.