Já quase todos disseram quase tudo, nestas e noutras bandas, sobre o CDS, o seu Congresso e os candidatos à sua presidência. Muitos sentiram a necessidade de contribuir para a discussão que o CDS fará neste fim de semana, em Aveiro, por causa do momento absolutamente decisivo que vive o CDS: depois de 3 pesadas derrotas eleitorais, em 2017 (sim, também houve eleições autárquicas fora de Lisboa) e 2019, sem a pujança autárquica e a respectiva implantação local de outros tempos, pela primeira vez em muitos anos, o CDS terá um Congresso disputado, quer quanto às ideias que que devem definir a sua acção política, quer quanto às pessoas que a devem executar.

O Francisco Rodrigues dos Santos e as ideias que defende para o CDS e para o país mereceram claro destaque no que foram dizendo os opinion makers cá de casa. As vozes preocupadas com a sua preponderância interna e com a sua projecção externa apressaram-se a explicar que a sua idade (a idade, portanto, com que Freitas do Amaral e Amaro da Costa fundaram o CDS, com que Monteiro assumiu a sua presidência na última grande crise do CDS e com que João Almeida disputou a presidência do partido com Ribeiro e Castro) seria um obstáculo intransponível para o exercício do mandato de presidente do CDS. Mais ainda, não pouparam as ideias que dizem que o Francisco tem: acusando-o de uma espécie de puritanismo ideológico, explicaram que o CDS deve ser a grande casa das direitas portuguesas, aberto a todas as sensibilidades destras, desde que estas não belisquem a sua hegemónica e totalitária agenda “moderna”, pós-liberal, burguesa e urbana, com culto necessário e exclusivo a esse deus-de-pés-de-barro, que é o “Mercado”.

Esquecem-se, no entanto, de que o CDS não é a grande casa das direitas portuguesas porque o CDS já não é grande, tolhido pelo abandono do seu eleitorado (que alguns se recusam a reconhecer): quinto partido nacional, com dois partidos à sua direita (onde antes existia, tão-só, a parede do hemiciclo), não poupado pelo que as sondagens dizem ser as intenções de voto dos portuguese, que o empurram para a irrelevância eleitoral.

E, sobretudo, esquecem-se que a sua vertigem de modernidade nada diz às pessoas e ao país. O CDS, sim, foi grande quando existiu em função do povo e tinha como propósito defendê-lo; quando não era alheio à condição social dos trabalhadores e dos contribuintes; quando não fazia vista grossa à pobreza; quando falava directamente às pessoas e apresentava soluções para os seus problemas; quando era uma alternativa corajosa e descomprometida aos socialismos e aos bolchevismos.

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Portanto, a pergunta fundamental que se coloca ao CDS, neste momento da sua rica e tão honrosa história, é e esta: o CDS quer, ou não, voltar a falar sobre e para as pessoas e a responder aos seus problemas?

Acho que o deve fazer. Acho, aliás, que os partidos só são necessários se forem úteis às pessoas.

Assistimos ao surgimento de uma nova pobreza, maquilhada pela propaganda socialista, sobretudo de jovens que, trabalhando 60 horas por semana, estão condenados a viver num quarto, porque não ganham o suficiente para comprar ou arrendar uma casa; que adiam o casamento e os filhos porque não têm meios para sustentar uma família.

Estamos no dealbar de uma revolução tecnológica que destruirá muitos dos empregos que hoje existem, sobretudo os mais indiferenciados, ocupados pelos mais desfavorecidos e com menos formação, que condenará tantos ao desemprego.

Temos um Estado que nunca gastou tanto quanto hoje, mas, cada vez menos, está em condições de garantir serviços públicos de qualidade, apoio na velhice e na doença aos portugueses ou a segurança dos cidadãos, seja nas ruas, seja nas salas de aula.

A isto, temos um governo que, com os seus acólitos, responde com propaganda e mais Estado, que asfixia as famílias, hostiliza as empresas e afasta os investidores. Mas, ao mesmo tempo, não podemos cair na tentação de a estes desafios responder, simplesmente, “Mercatus Vult!”.

O desafio que se nos coloca é, portanto, em prejuízo de todos os dogmas ideológicos, voltarmos a ter na Pessoa o princípio, o fim e o limite da actividade do Estado.

Para isto precisamos de uma direita que seja mais do que estética; precisamos de uma direita que, comprometida com a liberdade individual, não seja alheia ao sofrimento das pessoas. Precisamos de uma direita popular. Precisamos de uma Nova Direita.

Este é o espaço natural do CDS: paladino das pessoas, entre o peso do Estado e o abandono dos mercados. Se o CDS não ocupar o seu espaço natural, alguém o ocupará – e o CDS passará à irrelevância.

Conheço o Francisco Rodrigues dos Santos há vários anos e tenho por ele uma admiração profunda, pela sua capacidade agregadora, pela sua argúcia intelectual, mas, sobretudo por ter a cabeça e o coração no sítio certo. O Francisco sabe que primeiro vêem as pessoas.

O Francisco sabe também que o que está em causa não é ganhar a secretaria (perpetuando interesses, empregos e caciques): o que está em causa é ganhar, de novo, a confiança dos portugueses.

É por isto que apoiarei o Francisco no próximo Congresso. E é por isto que sei que o Francisco é o Primeiro Ministro de que Portugal precisa.