Em quatro anos como primeiro-ministro, António Costa fez aquilo que um governo do centro-direita jamais poderia fazer em Portugal. Incentivou um ministro a presidir ao Eurogrupo, candidatou esse ministro ao FMI, promoveu operações-stop para caçar dívidas de automobilistas a caminho do trabalho, deixou que um banqueiro do setor privado escolhesse a lei que se lhe iria aplicar na Caixa Geral de Depósitos, implantou a maior carga fiscal de sempre, cativou os serviços públicos como nunca e, em jeito de cereja no topo do bolo, vergou um sindicato com a ajuda das Forças Armadas.

Qualquer governo de uma coligação PSD/CDS que se atrevesse a metade do narrado seria, imediatamente, acusado de corresponder à reencarnação lusitana de um tirano. O país pararia para enfrentar tamanha demonstração de autoritarismo e descaramento.

Fora de brincadeiras, é extraordinário como a complacência mediática permite isto ao Partido Socialista depois de tanto escrutínio ao governo anterior, que estava sob intervenção externa. Mais extraordinário ainda é como, de repente, os senhores do PS passaram a ser críticos das ligações partidárias de dirigentes de classes profissionais ou do timing político de manifestações e protestos, quando se fizeram valer de tudo isso durante a sua legislatura na oposição. Claro que a incoerência faz parte da política, onde o passar do tempo e a alternância democrática a tornam inevitável. Olhemos, então, não para o que aconteceu, mas para o que virá a acontecer.

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