Pôncio Pilatos nunca crucificou ninguém. Nem sequer condenou Nosso Senhor Jesus Cristo à morte: apenas deu autorização, e contrariado, para que a sentença do Sinédrio fosse executada. Tudo indica que Stephen A. Douglas, um membro do partido de Joe Biden, era pessoalmente oposto à escravatura. Apenas defendia que esta devia ser deixada à escolha soberana & livre dos eleitores de cada estado e, onde permitida, ao livre-arbítrio de cada pessoa. Adolf Hitler nunca matou outro ser humano. Simplesmente lutou pela dignidade do povo alemão e por uma solução para “questão judaica”. Joe Biden nunca assassinou nenhuma criança. Apenas tem feito todos os possíveis, como senador e como presidente, para que quem livremente o queira fazer o possa fazer sem entraves nem complicações, e aos seus esforços podem ser atribuídas as mortes de mais de 40 milhões de bebés.
Tudo pessoas impecáveis, portanto. Não fosse um pormenor: a diferença entre praticar o mal e o incentivar é muitíssimo ténue. A responsabilidade moral de quem faz o mal não excede a de quem, tendo autoridade para tal, “apenas” o permite. Esta atribuição de culpa aos facilitadores de violências & injustiças pode não ser exatamente a que é feita pelo código penal da república portuguesa, mas tem as suas raízes nas filosofias éticas chinesa e greco-romana e, no que nos interessa aqui, é parte integrante da teologia moral da Igreja Universal. Tanto que, nas suas doutrinas e catecismos se inclui, desde tempos imemoriais, uma lista de nada menos nove modos de alguém participar, fazendo seus, os pecados[1] cometidos por outra pessoa. São eles:
- Dar mau conselho.
- Mandar pecar (no que se inclui, para além de mentir e roubar, o matar um ser humano inocente; ver: Mandamentos da Lei de Deus).
- Consentir nos pecados (vide 2 supra) alheios.
- Incitar a pecar.
- Louvar os pecados alheios.
- Encobrir os pecados alheios.
- Dissimular os pecados alheios.
- Participar no dano que se faz ao próximo.
- Defender os pecados alheios.
Assim, quando um sr. padre mostra compreensão pela pusilanimidade de Pilatos (ou pela cobiça de Judas), um sr. bispo expressa simpatia pelos “progressos sociais” feitos pelo terceiro reich, ou um sr. cardeal[2] desculpabiliza o sr. Biden da mortandade por ele promovida, mais do que demonstrar sensibilidade pastoral, cada um deles está a fazer seus os homicídios de que Pilatos & Judas, Hitler e Biden são corresponsáveis.
Foi isto que aconteceu recentemente numa entrevista do sr. Peter Turkson, um cardeal da Igreja Universal, à Axios e transmitida pela HBO. O entrevistador perguntou-lhe se o Child-Killer-in-Chief, o sr. Biden, é “um católico em boa situação” e se “deve ser admitido à comunhão”, denotando assim um conhecimento invulgar, para um leigo, não só da doutrina paulina de que quem está em pecado mortal não deve comungar (1 Cor 11:29), como também da regulamentação interna da Igreja que, no seu Código de Direito Canónico (cânon 915), estabelece que “[n]ão sejam admitidos à sagrada comunhão os […] que obstinadamente perseverem em pecado grave manifesto.” A isto, o sr. Turkson não respondeu simplesmente “sim” ou “não”, como Nosso Senhor lhe tinha recomendado, quando lhe escreveu através de um evangelista, “[s]eja este o vosso modo de falar: sim, sim; não, não. Tudo o que for além disto procede do maligno” (Mt 5:37), mas chutou:
“Se você diz que alguém não pode receber a comunhão, está basicamente a fazer um julgamento de que [essa pessoa] está em estado de pecado.”
O quinto mandamento da lei de Deus estabelece que o tirar a vida a uma pessoa inocente é um pecado muito grave. Tão grave, de facto, que o homicídio voluntário é o primeiro daqueles quatro pecados gravíssimos chamados “pecados que bradam aos céus”. Uma norma que não é uma pequena excentricidade da Igreja Universal, mas que é partilhada pelas principais correntes filosóficas pré-wokismo, do Oriente ao Ocidente. Por outro lado, sendo a colaboração do sr. Biden no extermínio de milhões de crianças um pecado público e orgulhosamente publicitado & impenitente, não parece constituir nem falta de caridade, nem falta de justiça, tirar a ilação de que o sr. Biden estará “obstinadamente a perseverar em pecado grave manifesto”. A sua situação é semelhante à de Herodes: vive em pecado grave e manifesto & manifesta-o sem pudor. Herodes foi repreendido por um verdadeiro profeta, João Baptista. Será que já não há profetas?
Mesmo não sendo profeta, o sr. Turkson, sendo cardeal, deveria saber que o aborto é homicídio voluntário e, sendo prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, deveria ter conhecimento de que o sr. Biden tem defendido & incentivado, durante as últimas décadas, a prática de um “pecado que brada aos céus” não pontualmente, mas sistematicamente. Assim compreende-se que o entrevistador tenha voltado a perguntar incrédulo:
“Parece que não acha que isso deveria acontecer no caso do presidente Biden.”
Quando o cardeal afirmou que “não”, o jornalista, chato como uma mosca numa tarde quente de verão, insistiu:
“Então [esta regra] só se aplica em casos extremos?”
Respondeu o sr. Turkson: “Sim. Isso, para casos extremos, tá bem?”
Deduz-se, portanto, que o sr. Turkson acha que o pecado do sr. Biden não é extremo. Mas se a coresponsabilidade pela interrupção precoce e letal do desenvolvimento humano integral de mais de 40 milhões de pessoas inocentes não chega para ser um caso extremo, o que será necessário para o ser? Matar uma mosca de uma espécie em vias de extinção? Ou será que o sr. Turkson daria a comunhão a Hitler ou a Pilatos sem que estes antes se arrependessem publicamente dos seus pecados públicos? Com este freixo de afirmações o sr. Turson demonstra que:
- Ou não acredita na validade do 5º mandamento e acha que o homicídio voluntario, nomeadamente o aborto, é moralmente legitimo;
- Ou não acredita na Presença Real na eucaristia, nem na validade do preceito enunciado em 1 Cor 11:29;
- Ou, acreditando em 1 e 2, não é um bom pastor.
O bom pastor é o que vai à procura da ovelha tresmalhada (Mt 18:12-13) e pede-lhe para que não siga os caminhos que levam à perdição. Caminhos nos quais se incluem o homicídio voluntario e a dessacralização da eucaristia. E, caso a ovelha aceite voltar para trás, acompanha-a pastoralmente no caminho de regresso. Se o sr. Biden for, com toda a evidência indicia, uma ovelha tresmalhada o que devia o sr. Turkson fazer? “Se o teu irmão pecar, vai ter com ele e reprende-o a sós. Se te der ouvidos, terás ganho o teu irmão. Se não te der ouvidos, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Se ele se recusar a ouvi-las, comunica-o à igreja; e, se ele se recusar a atender à própria Igreja, seja para ti como um pagão ou um publicano.” (Mt 18:15-17)
Infelizmente, o sr. Turkson parece não estar para seguir este conselho evangélico. Será, portanto, ilegítimo duvidar que esteja a ser um bom pastor para o sr. Biden, ao não “deixa[r] as outras noventa e nove ovelhas no monte para ir à procura da tresmalhada” (Mt 18:12) e a acompanhar de volta para a segurança do rebanho? E, ao afirmar publicamente que a enormidade do pecado do sr. Biden não é um “caso extremo”, será que também não está a trair as suas obrigações pastorais para as outras noventa e nove ovelhas, enxotando-as para ir pelo caminho trilhado pela ovelha perdida? “O mercenário, e o que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo e abandona as ovelhas e foge e o lobo arrebata-as e espanta-as” (Jo 10:12).
É triste ver um prelado da Igreja Universal fazer seus os pecados do sr. Biden contra o 5º mandamento. Os mais de 40 milhões…
Mas é ainda mais triste ver um pastor atuar como um mercenário para as 100 ovelhas que lhe foram confiadas.
U avtor não segve a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreue coumu qver & lhe apetece. #EncuantoNusDeixam
[1] Pecado: ato de piedade para com o ego, de compaixão para com os próprios desejos e de acompanhamento pastoral dos instintos que desafia as imposições normativas e autocráticas do hétero-paternalismo da divindade judeo-cristã; nódoa espiritual que segundo Jesus Cristo pode ser limpa através do detergente da água batismal e da limpeza a seco feita por fé n’Ele (CIC 977). Divide-se entre venial e mortal, sendo que o primeiro envolve uma simples vénia à Tentação[3], mas o segundo já implica apalpá-la.
[2] Cardeal: alto funcionário eclesial com título vitalício, eleito por um papa, para ter a possibilidade de vir a eleger e vir a ser eleito papa; dignidade eclesiástica cujos benefícios espirituais não foram imediatamente aparentes a Nosso Senhor Jesus Cristo, cujas vantagens organizacionais lhe passaram desapercebidas, e cujos benefícios temporais não O atraíram.
[3] Tentação: sugestão maligna que um ecologista sofre quando fica com vontade de comer um bife de vaca ou em que Sua Santidade cai quando permite que o Vaticano, as dioceses e as paróquias aceitem donativos ganhos através do capitalismo desapiedado e sem alma, como são os lucros e salários ganhos em empresas privadas.