Os acontecimentos ocorridos ao longo dos últimos anos justificam a crescente importância de uma efetiva análise de risco para compreensão de toda a envolvente que nos rodeia. O elemento comum a muitos destes eventos foi o seu fator surpresa, pois traduziram-se em cenários que até então eram completamente impensáveis. Apesar de frequentemente os decisores, nos diferentes níveis de atuação, nos prometerem estabilidade, a realidade é que a nossa natureza humana incorpora a incerteza como uma característica própria. Por outras palavras, e segundo Nassin Taleb, importa não confundir ausência de variabilidade com estabilidade. A política monetária implementada pelos principais bancos centrais ao longo da última década permitiu a validação de projetos e o assegurar de muitos negócios por via do financiamento barato. Contudo, o regresso da inflação e a expectável subida nas taxas de juro obriga necessariamente ao repensar da atividade e à tomada de decisões.

A título ilustrativo, a aceitação de um projeto de investimento traduz-se na captação de uma taxa de rendibilidade fixa inerente à tecnologia implementada. No pressuposto que estes ativos são financiados maioritariamente por um empréstimo a taxa variável, a análise agregada das estratégias de investimento e de financiamento tende a ser semelhante à de uma operação de permuta de fluxos (vulgo swap – o investidor recebe uma taxa fixa e paga taxa variável). A presente tendência para a subida de preços e juros potencia assim uma ameaça à viabilidade de muitas atividades. Face ao contexto descrito, importa voltarmo-nos a centrar na questão primordial do binómio risco versus retorno: qual a dimensão da perda máxima potencial no caso de uma decisão errada? Ao invés apenas da pergunta: qual a probabilidade e o ganho associado no caso de estarmos certos?

Esta nova perspetiva impõe-se para todos os agentes económicos que dependam de atividades associadas ao mercado de capitais. Consideremos o exemplo de uma empresa a partir da comparação entre os riscos que controla e os que defronta. A análise da demonstração de resultados possibilita-nos deduzir que esta apenas possui o domínio do risco específico inerente à sua capacidade de gestão operacional. Em contrapartida, a empresa encontra-se exposta a vários fatores de perturbação os quais não controla minimamente. Em concreto, o risco soberano, o risco do custo das matérias-primas, o risco associado ao valor dos ativos imobiliários, o risco de taxa de juro, o risco de crédito e, por fim, o risco fiscal. A conclusão deste exercício sugere a necessidade do reforço da vertente estratégica de empresa bem como a importância da diversificação de mercados como forma de mitigação do nível de risco específico. No entanto, exige igualmente um conhecimento aprofundado dos riscos a que a empresa está exposta por parte dos seus gestores. Dado que tanto as instituições financeiras como os investidores financiam direta ou indiretamente as empresas, também estes deverão estar a par de todas as possíveis fontes de incerteza inerentes aos seus ativos.

Em suma, a instabilidade geopolítica e a desglobalização obrigam a um repensar pragmático do desafio estratégico para cada organização e, consequentemente, ao reforço de competências na gestão de risco.

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