O artigo anterior (caso não tenham tido oportunidade de o ler, podem fazê-lo aqui) fala sobre o “regresso às origens” como uma resposta promissora das sociedades contemporâneas face aos desafios alimentares que se perspetivam. E por “regresso às origens” entenda-se o regresso à agricultura/atividade agrícola rural ou urbana e, também, o reaproveitamento de terrenos com aptidões agrícolas que estão abandonados.

Mas, e há sempre um mas, o regresso às origens tem em si um lado B, que é como quem diz: o reverso da medalha. O Mundo, tal como o conhecemos atualmente, é muito diferente do Mundo da década de 40 ou de 50. E se há diferenças para muito melhor – o avanço tecnológico, o maior e melhor conhecimento de doenças, as novas abordagens terapêuticas que permitem aumentar a longevidade, entre outras – também há diferenças para pior. Refiro-me, especificamente, ao aumento da poluição que é, atualmente, a maior causa ambiental de doenças no mundo. Este é um problema global, responsável por cerca de nove milhões de mortes prematuras por ano, por enormes perdas económicas e pela degradação dos ecossistemas.

Fará algum sentido articular, num mesmo raciocínio, agricultura, meio ambiente e poluição? Claro que sim.

Não é novidade que as questões ambientais são há muito debatidas e são altamente complexas, pelo que não me atrevo a discorrer sobre elas. Mas, ao falar de agricultura (que é, afinal, o tema deste artigo), sou obrigada a refletir sobre a poluição dos solos.

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Na década de 90, o International Soil Reference and Information Center (ISRIC) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), estimaram que 22 milhões de hectares de solo estariam poluídos. É possível que, nos dias de hoje, esta área tenha aumentado significativamente, com a agravante de que a poluição do solo não pode ser delimitada. As fontes de energia nuclear e atividades bélicas, a descarga descontrolada de resíduos e efluentes contaminados lançados nas bacias hidrográficas e nas proximidades, o uso agrícola de pesticidas e fertilizantes com adição de metais pesados e poluentes orgânicos persistentes, o excesso de nutrientes e agroquímicos que são transportados a jusante pelo escoamento superficial… são alguns exemplos de poluição que se dissemina amplamente.

Claro que no contexto atual, diminuir a exposição a contaminantes ambientais parece ser uma questão secundária comparativamente à preocupação em aumentar o acesso da população a alimentos e diminuir a fome. Mas, a verdade é que também não podemos negligenciar esta questão. Sobretudo se projetarmos este problema a longo prazo.

Isto significa que, se por um lado devemos ter a preocupação de adotar práticas que permitam uma gestão sustentável da terra; por outro, também devemos conhecer quais as práticas que podem e devem ser adotadas para reduzir a exposição acrescida dos hortelãos e consumidores (por via do consumo dos hortícolas cultivados) aos poluentes e, assim, reduzir o risco de doenças associadas. O uso de canteiros elevados, a realização de análises regulares ao solo e à água, o uso de luvas e de outros equipamentos de proteção, a escolha de árvores frutíferas ou vegetais menos suscetíveis de absorver substâncias tóxicas (como o tomate, o feijão e o pimento – alimentos cuja parte comestível é o fruto) e o uso de fertilizantes e produtos orgânicos são alguns exemplos de medidas que cada um de nós pode implementar, com relativa facilidade.

A mudança do Mundo pode (deve!) começar na nossa casa!