“A ciência, por si só, é incapaz de responder a todas as perguntas e, apesar do seu desenvolvimento, nunca o será.” (Claude Lévi-Strauss)

Todos, por certo, no mais íntimo do coração, na relação com o transcendente, já nos questionamos “demasiadas” vezes sobre a razão de ser da doença, do sofrimento e da morte, e de sobremaneira quando confrontados com estas. Esta indagação lancinante e desesperada – do seu porquê – perpassa, como espada afiada, todos os homens e mulheres ao longo das suas vidas, ao longo de todos os séculos da existência humana, sempre tão frágil quanto maravilhosa.

Se por um lado a ciência responde a muitas questões do foro externo – e graças a Deus que assim é –, não consegue responder – nem em parte – às perguntas realmente relevantes da nossa existência. Posto isto, não deixa de ser deveras curioso que o primeiro livro da Bíblia (a Santa Biblioteca, com 73 livros; a bíblia não dispõe os seus livros pela data cronológica) seja o livro de Job, datado entre 1700 a 1900 a. C. – com quase 4 milénios –, o qual retrata a vida de um homem justo e íntegro, a quem tanto mal lhe sucede, sem razão aparente, não obstante a sua retidão de vida.

Num poético prólogo, o Senhor permite, como provação a Job, que Satanás agonize Job, não para matá-lo, mas ao ponto de Job desejar a morte. No entanto, Job persevera e permanece fiel, no meio da sua perda de riqueza pessoal, seus filhos e, por fim, a sua própria saúde. (cf. Job 1-2).

Uma das propriedades mais singulares do livro podemos sintetiza-las em duas questões não muito difíceis: «Por que as pessoas justas escolhem a retidão?» e «Por que os justos sofrem?» –, mas cujas respostas não são simples. Na verdade, o livro de Job é uma chamada reiterada à permanência na fé em Deus, ao ponto de afirmar, referindo-se a Deus: «Ainda que ele me mate, nele esperarei» (Job 13, 15).

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De facto, o livro é uma clara exortação a olhar além das tribulações desta vida, em direção à gloriosa Ressurreição possibilitada pelo Salvador, pois Job testifica corajosamente o seguinte, no meio da excruciante dor, quando confrontado com a desesperança e a agonia: «eu sei que o meu Redentor vive e prevalecerá sobre a terra, por fim, sobre o pó da terra; e depois da minha pele se desprender da carne, em minha carne verei a Deus. Eu mesmo o verei, os meus olhos, e não outros, o hão-de contemplar!» (Job 19, 25-26).

Efetivamente, a sua vida tornou-se num inferno. Job lamenta as suas aflições e questiona-se se não teria sido melhor nunca ter nascido!!! – quem já não fez esta pergunta, nem que tenha sido por uma ocasião somente? Três amigos de Job, Elifaz, Bildade e Zofar consolam-no, mas começam a questionar se Job não “merece” o sofrimento pelo qual passa. Efetivamente, os seus amigos dizem que a justiça de Deus não pune os justos; portanto, o padecimento de Job só pode estar ligado a algum pecado por ele cometido, sem que os seus amigos saibam. Job, viril e imperiosamente, declara-se inocente e mantém-se confiante em Deus, embora não saiba por que lhe sobrevieram aquelas provações. (cf. Job 3, 37).

A verdade é que Job, dois milénios antes da vinda do salvador, sempre confiou (“fez fé”) de que o mal que lhe sucedera nunca fora por ocasião do seu pecado, visto não existir. Na verdade, em Cristo, dois milénios mais adiante, Este quebra a lógica puramente humana – nunca de Deus – da associação causa/efeito, ou seja, pecado/punição, quando afirmou que, fruto da queda de uma torre (de Siloé) que, infelizmente, matou 18 pessoas de que lhe falaram os seus discípulos, a título de murmuração, e também dos galileus assassinados por Herodes, cujo sangue, Pilatos, misturara com os sacrifícios pagãos.

O que é que Cristo respondeu? «Supondes vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos outros os galileus, por terem padecido tais coisas? Não. Antes, vos digo, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém?» Não. Antes, vos digo, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis (cf. Lc 12, 1-5).

Com estas afirmações, Cristo diz-nos, preto no branco, que quando acontecem tragédias, hoje, tal como no passado, como tsunamis, terramotos, furacões, inundações, erupções vulcânicas não são castigos de Deus, nem tão pouco querem dizer que aquelas pessoas eram piores que nós ou que mereciam morrer… Deus simplesmente deixa o curso natural das coisas acontecerem (que são precárias como nós, como qualquer realidade deste mundo) e nunca saberemos quantas vezes, inclusive, fomos salvos por meio do nosso santo anjo da guarda, como meio da divina providência (não predestinação!), ao longo da nossa vida!

Mas não se fica por aqui. Num outro episódio, vemos Jesus enfatizar esta realidade. No capítulo nono de S. João, versículos 1 a 9, enquanto Jesus caminhava, viu um homem que era cego de nascença e os seus discípulos perguntaram-lhe – porque assim era entendido à época – «porque foi que este homem nasceu cego? Por causa dos seus pecados ou por causa dos pecados de seus pais?» (cf. Jo 9, 1-2). Ao qual Jesus respondeu nem ser uma coisa nem outra, mas para maior glória de Deus.

A sua cura, para além de o tornar novamente visual foi muito mais que a cura, foi um “abre olhos” aos seus discípulos. Foi este o motivo de a cura ser para a maior glória de Deus! A partir destas palavras de Cristo, melhor compreenderemos quantas “almas vítimas” participam deste mistério místico, tal qual a Beata Alexandrina de Balasar, de compartilhar a paixão do Senhor, sofrendo os pecados dos outros e, unida a Cristo num amor esponsal (cf. Ct), salvando almas. É esta a maior glória de Deus que fez com que as suas preces de cura não fossem atendidas – porque as fez incessantemente –, porque seria instrumento de Deus, aceitando, em plena liberdade – sempre com a possibilidade de recusa, não há aqui predestinação – , a vontade de Deus para a sua existência terrena.

Assim posto, afinal o sofrimento pode ser para maior glória de Deus? Então Deus deseja avidamente que soframos, morramos, desesperemos, agonizemos? Não! Cristo é o “protótipo” d’Aquele que mesmo procurando evitar a vontade do Pai – celebérrimo momento no jardim do Getsémani (cf. Mt 26, 39) –, «apesar de ser Filho, aprendeu, por aquilo que sofreu, o que é obedecer» (Hb 5, 8). Com quanto mais razão nós, criaturas e pecadores, que n’Ele nos tornamos filhos de adopção! Nós pedimos ao nosso Pai que una a nossa vontade à do seu Filho, para que se cumpra a vontade d’Ele, o seu plano de salvação para a vida do mundo. (Catecismo da Igreja Católica, 2825). Ressalve-se, todavia, que Jesus não se está a anular a si próprio, mas, no exercício pleno da sua liberdade e vontade, conforma a sua com a do Pai e, deste modo, torna-se exemplo paradigmático.

Com razão, observa com Leornado Boff que Deus «tem o seu Desígnio eterno; nós apenas temos projectos. Como crianças que não alcançam entender ainda todos os gestos dos pais nem todo o peso de suas palavras. Assim também nós, enquanto peregrinamos, não abraçamos todas as dimensões da história nem podemos apanhar todo o sentido que ela realiza. Sem amargura reconhecemos a finitude de nossas vistas e nos entregamos Àquele que é o começo e o fim, em cujas mãos está o roteiro de todos os caminhos» (cf. L. Boff O Pai-Nosso. A Oração da libertação integral, 1979, p. 85).

Deus não nos pede que soframos; sofrer faz parte da realidade deste mundo, os primeiros céus e terra (Gen 1), pois tudo, porque assim criados, é finito, acaba, fruto do pecado dos nossos primeiros pais. A Igreja não é a instituição que “diaboliza o prazer e endeusa o sofrimento”! Cristo na Cruz, garantiu a justiça que era impossível aos homens alcançar e, desse modo, deu-nos a possibilidade de salvação, em Cristo, mediante conversão ao Evangelho, pois adquiriu-nos por grande preço – o seu preciosíssimo sangue (cf. 1 Pe 1, 19) –, garantindo-nos a misericórdia do Pai, quando na cruz, qual espetáculo patético na expressão estética do belo-horrível, abraça o mundo inteiro e o redime, elevando-nos ao Pai!

Deste modo, imperativamente, a nossa fé radica na crucificação e ressurreição do Senhor: «Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos procuram sabedoria, nós, proclamamos a Cristo crucificado, que é motivo de escândalo para os judeus e loucura para os gentios!» (1 Cor 1, 23)

A conceção de apregoar um “homem” que morreu numa cruz e, agora, vive glorioso pode parecer pateta – e soou e ecoou no areópago de Atenas, para a maioria dos presentes, no local do expoente máximo da filosofia grega, como tal (cf. Act 17, 16-34) –, mas, pelo contrário, é o seu oposto, é patético. Pathos é uma palavra grega (πάθος) que significa “sofrimento, paixão, afeto”. Segundo Aristóteles, Pathos, ao abrigo da retórica, tem como objetivo provocar emoções, sentimentos, sensações. É usar o apelo emocional e a empatia para alcançar o seu público. Como não ficar emudecido e alienado deste mundo, por instantes, perante o belo-horrível patético de Cristo na cruz?

Quem, com muita propriedade, nos fala desta matéria é Fiodor Dostoievski. Para ele, a beleza era tão central na sua vida que, conta-nos Anselm Grün, monge beneditino e grande espiritualista, em seu último livro Beleza: uma nova espiritualidade da alegria de viver (Vier Türme Verlag, 2014) que este, Dostoievski, afirmou no seu livro, O Iditota, que «a beleza salvará o mundo». Mas que de belo tem a aberração da crucificação, como violentíssima, mórbida e sádica forma de matar? Para Dostoiewski, tal como não podemos viver sem pão, também é impossível existir sem beleza. A Beleza é, segundo o autor, mais que estética: possui uma dimensão ética e religiosa!

Daí que só o sofrimento serve como prova de amor. Nunca por capricho ou malvadez! Quem ama, sofre. Sofre, porque o seu coração está fora de si, está no coração da pessoa amada. Oiço, como padre, várias pessoas que, perante doenças de seus filhos dizem, genuinamente, que preferiam partir no lugar de seus filhos. E a doação de um órgão, em vida…. Fá-lo-íamos por um desconhecido? Por quem nos é indiferente ou desconhecido? Talvez, não. Mas por quem amamos mais que a nós próprios estamos decididos a tal… Assim, o Filho tomou a cruz em nosso lugar. Desculpem-me a ironia, Jesus vir com “um ramo de flores”, falar-nos do Reino de Deus e dizer que nos ama, qualquer um faz, agora, dar a vida, ir no nosso lugar na cruz, é outra história… Cristo fê-lo quando eramos ainda pecadores, quanto mais, agora, redimidos (cf. Rm 6, 1-11), como prova irrefutável do seu amor!

Há, contudo, saber de que amor falamos. Importa diferenciar philia, eros e ágape que, traduzidas do grego (o novo testamento foi escrito em grego) para português significam amor. Os gregos tinham três palavras para falar do que nós falamos numa só. O amor ágape, amor philia e amor eros. Comecemos pelo último, o amor eros, do qual deriva o adjetivo erótico. Esse é um tipo de amor. É o da posse que se materializa na atração pelo corpo do outro para satisfazer o desejo. Trata-se do amor que sente falta de algo e quer ter a posse dele. Ao ser saciado, esse amor cessa. O amor philia (amizade) é o sentimento de simpatia natural que temos por alguém ou por familiares. Trata-se de um amor que exige presença do outro, de modo que, nas relações, ambos crescem e se complementam.

E o amor ágape? É o amor incondicional, que não espera nada do outro. É um modo raro de amar, própria do nosso Deus Amor. Ele é para poucos, é um amor de quem se dá sem reservas, até pelos inimigos, que não consegue ser outra coisa senão amor oblativo, mesmo que lhe batam, cuspam, chicoteiem, só sabe amar, sem nada esperar em troca, por qualquer desconhecido. Só sabe amar. Nem parece Deus, porque só sabe fazer/ser uma coisa: amar. Não sabe ser outra coisa mais! «Deus é amor [ágape]» (1 Jo 4, 8) e não outro modo de ser e, na sua omnisciência e omnipotência, não sabe ser senão este ser amor ágape patético! Com magistral doutrina e fé, Bento XVI, em Deus caritas est, expôs-nos brilhantemente este amor ágape e, portanto, patético.

A título de maior elucidação e clarificação destes conceitos, no que diz respeito à arte patética, esta desperta o sentimento dos demais, suscita a paixão e/ou a comoção. No teatro, as cenas patéticas, nada mais são do que os momentos emocionantes, que afetavam a sensibilidade do público. A ação patética, em Sergei Eisenstein, é responsável por conduzir o espectador a um estado de êxtase. Compreende-se, com maior clarividência, aqui o sentido grego da palavra Ékstasis, “sair fora de si” (cf. Sergei Eisenstein, O Sentido do Filme, 2002). Não eram “extasses” o que muitos místicos experienciaram na loucura do amor de Deus ágape, porque patético?

E na língua portuguesa, quanto temos do pathos (sofrimento) e, por “patetas”, nem nos apercebemos. Na linguagem da medicina, agente patogénico (que gera doença), cardiopatia, psicopatia, homeopatia ou, então, como sentimento, está presente em simpatia, antipatia, apatia, empatia, telepatia, etc.

Todavia, mais elucidados sobre estes conceitos, retoricamente, questiono-me: o nosso Deus, de quem dizemos ser bom e Cristo afirma perentório que só Ele é bom (cf. Mc 10,17-22), puniu todos os santos mártires, todos aqueles que não O negaram e foram lançados aos leões, como animais; crucificados como Ele, queimados como tochas humanas em Roma; tantos outros santos, os nossos santos pastorinhos de Fátima, não só na injusta inquirição e perseguição, como também na sua morte precoce? A Beata Alexandrina de Balasar, que inclusive pediu a sua cura – mas não era para a maior glória de –, também a puniu por ter compartilhado com o Senhor o sofrimento da sua Paixão? Santa Bernadette, sempre enferma, perseguida e incompreendida e morte precoce? O Santo Padre Pio e São Francisco de Assis por terem compartilhado as suas santas Chagas? Se eram santos, porque não os salvou ? Não mereciam? Mereciam! Mereciam o Céu, o qual desejavam ardentemente, ansiando desesperadamente, como pão para a boca, a partida deste mundo – mas como a Cristo, ainda não era, tantas vezes, chegada a sua hora (cf. Jo 2, 4) –, quando lutamos – e ao abrigo do 5º mandamento da lei da Deus temos o dever moral de o fazer –, avidamente pela vida, até ao fim, com dignidade e respeitando o seu curso natural.

Por vezes, pura ignobilidade, chego a ouvir coisas tão patetas, tais como, até por ocasião da falta de saúde do Santo Padre, “se é Papa, como pode adoecer, não deveria Deus protegê-lo, visto ser santo? Ou pior ainda: “o patrão dele que o cure, se é Deus”… ou outro tipos de tragicidade, ligadas a pessoas que são crentes, tais como colaboradores assíduos à Igreja, um peregrino atropelado a caminho de Fátima, entre outros casos similares… Tão devotos e Deus não os salva? Talvez, soteriologicamente devamos rever que catequese instruímos… Afinal de que queremos ser salvos: desta (não a diminuindo) ou da próxima vida, que é continuação desta?

De modo algum quero minorar ou menosprezar a dor e o sofrimento do luto, da doença e das precariedades próprias deste mundo, mas somos tão, mas tão patetas (desculpem-me a expressão) por não entendermos que o nosso Deus é patético! Sim, patético! Demonstramos tanta falta de fé e/ou ignorância religiosa por, ainda, não entendermos que a realidade presente é transitória e nós fazemos parte dela. Somos matéria, mente e espírito. A matéria, presente em todo o cosmos, habita-nos, e, como o cosmos, ainda que com biliões de anos, nas suas estrelas, planetas, luas, etc, acaba, tal como nós.

Choca-nos, saber que há crianças oncológicas, com doenças raras, doenças psiquiatras violentas, idosos a agonizarem em hospitais e lares, etc… Quantos pais e mães questionam-se “que mal fiz eu a Deus”; “é castigo pelos meus pecados”; “eu rezo, rezo, rezo, vou à missa, faço tudo e o meu filho morreu”; “choro porque queria ser eu a ir no lugar dele”. Ou então um idoso ou incapacitado: “estou a pagar os pecados da juventude”; “padre, como é possível Deus ser Pai, e eu sofrer horrivelmente” …. “é esta a vontade de Deus?”; “perdi a fé” … “PORQUÊ MEU DEUS?” “Porquê”, seguido de um vazio que implode a alma; um grito que me recorda o de Cristo na cruz…

A verdade é que podemos não concordar ou gostar: discutamos isso, mais tarde, com o Criador. A doença recorda-nos quem somos (não nos bastamos a nós próprios, somos criaturas, não deuses) e o que realmente é essencial na vida, para não nos agarramos a um mundo temporário em detrimento do mundo espiritual. Com efeito, no livro do Génesis não está dito que fomos criados perfeitos, mas “muito bons” e a demais criação como “boa” (cf. Gn 1). Com efeito, a Perfeição é no mundo espiritual! Quando morrerdes sereis “como os anjos”, ou seja, de “matéria” espiritual própria dos anjos, que não finda e habita já em nós desde a fecundação – isto a propósito da não necessidade da dimensão da geração de descendência, a respeito daquela senhora viúva. (cf. Lc 20,27-38).

A verdade é que se ficarmos estáticos diante da cruz, caímos no absurdo existencialista, vendo no ser humano um ser criado para a morte, o sofrimento, a dor, a agonia, tal como o via Albert Camus, pai do absurdo existencialista. No entanto, se pelo contrário, a partir da cruz “dermos o salto” para a ressurreição do Senhor, tudo adquire novo sentido, pois a nossa vida, morte, dor, luto, pranto não é fruto de um acaso e/ou de um Deus egoísta e caprichoso, mas sim de um esperar contra toda a esperança (cf. José Tolentino Mendonça), como fez Abraão (pai das religiões monoteístas), pois quem com Cristo morre, com Cristo viverá!

Em suma, passados os primeiros céus e terra (Gn 1), no qual tudo é efémero e passageiro, para aqueles que são fiéis ao Senhor, estes estarão inscritos no livro da vida, e verão a nova Jerusalém, os novos céus e nova terra, onde Ele enxugará todas as lágrimas de seus olhos e não haverá mais morte, nem prato, nem dor, porque as primeiras coisas passaram (cf. Ap 21). Por outras palavras, Jesus fala-nos da vida para além desta, numa outra realidade já não precária nem finita, imaterial e atemporal, cuja marca incisivamente distintiva é a ausência da morte e do sofrimento, pois estamos a falar do céu: estar no coração do Pai, que, não obstante já não haja sofrimento, nunca deixará de ser um Deus amor ágape e patético!

PS: Escrevo este artigo amargado e enlutado, contudo, esperançado, ao som da sonata para piano, nº. 8, em Dó menor, Op. 13 “Patética”, de Beethoven, interpretada por Daniel Barenboim, em 2013, pela perda de um homem e irmão sacerdote, manso e humilde de coração, à semelhança do Mestre, a quem Deus chamou para si, a 11 de julho deste mês, ainda paroquiando, dando-se, por inteiro, num amor ágape e patético, de quem se deu até à última gota de sangue, pela parcela do povo de Deus a ele confiado, por quem tanta estima e amizade nutria – e era bem recíproca –, a quem serviu até ao fim dos seus 85 anos de idade.

Em permanente estado de gratidão, por tudo quanto fez por mim, estando a meu lado, sempre, como seminarista e padre, nos bons e maus momentos, partilhando não só a mesma terra (Balasar, Póvoa de Varzim) mas também uma enorme devoção à Beata Alexandrina de Balasar… Rev. Pe. José Araújo, sacerdote de Cristo na terra, acolham-te os santos Anjos e participa da glória junto d’Aquele a quem te consagraste! Ámen!