Ao contrário de muitos comentadores, considero que a conferência do MEL foi de grande utilidade para o panorama político português. Claro está, que aqueles que entendiam que no fim da dita, os líderes iam todos ao palco, davam as mãos e chamavam Pedro Passos Coelho a subir ao púlpito, ficaram frustrados. Tal final não tinha como acontecer e ainda bem.

Esta conferência foi como um verdadeiro teste do algodão ao que é ser de direita: nem fofa nem dura. Nem revolucionária nem reaccionária. De direita, ponto. Obviamente, que existiram muitos oradores e debates, muitos pontos de vista que, infelizmente, não foram “ouvidos” pelas nossas televisões. Irei, portanto, cingir-me às intervenções que foram mais replicadas nos media e nas redes sociais:

A verdade vem sempre ao de cima (Cotrim de Figueiredo): aqui há uns tempos, o Observador publicou um texto meu intitulado “As melancias”. Alguns apoiantes da IL não gostaram, o que era expectável. No entanto, o piscar de olho de Cotrim de Figueiredo aos jovens apoiantes do Bloco, para que vão para o seu partido, é a prova provada (como dizia o outro) que pouco os distingue, à parte o liberalismo desenfreado em termos económicos. Assim, a presença da IL na conferência saldou-se por tiro na água, um falhanço. É solicitar presença nos acampamentos do Bloco, é lá que está a sua gente.

O que é que estou aqui a fazer (Rui Rio): a resposta é: nada. Não foi lá fazer nada. Historiadores e politólogos há muitos e bons. Dispensam-se os amadores.

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Olhem para mim, que cheguei agora (Cecília Meireles): como era de esperar, os comentadores contratados das televisões, mais os derrotados por Francisco Rodrigues dos Santos no último Congresso, adoraram a prestação da deputada do CDS-PP. Mas o que disse, afinal, Cecília Meireles? Pois disse que a direita tinha de sair do divã e começar a falar para as pessoas. Desculpe? Mas vexa não é deputada há anos e anos? Não foi da direcção do CDS com altas responsabilidades políticas e que levaram o dito ao seu pior resultado eleitoral? Não vai à televisão quase semanalmente? Claro que, agora, transformada numa Dolores Ibárruri dos derrotados do Congresso, não se pode dizer nada que é posta a tocar a cassete: é a melhor deputada de sempre, é isto, é aquilo e lá sai um convite para ir apresentar a sua “defesa” numa qualquer bolha de amigos e conhecidos. Actualmente, no CDS, tenta-se reduzir o que se pretende serem críticas políticas a ataques pessoais. Da minha parte, não são nem nunca serão. Claro está, que comentários patetas sobre formas de vestir são ridículos e só ajudam à vitimização.

It’s an injustice (Miguel Morgado): há que distinguir duas partes na intervenção do líder do malogrado 5.7. Na primeira, quando se referiu às questões económicas, esteve bastante bem. O problema é que na segunda parte lembrou aqueles treinadores de futebol, que depois de levarem cinco a zero, dizem que a culpa não foi da táctica… Então foi de quê? Aproveitar qualquer evento para relembrar o defunto 5.7 pode tornar-se num clássico. Espero que não.

A viagem de táxi (André Ventura): calculo que Ventura deve viajar muito de táxi. Só assim consigo compreender o seu discurso. É que para umas coisas é de esquerda e para outras é de direita. É para o lado de onde vier mais trânsito. Substância? Zero. Parece que, agora, depois de ter falado com Deus – conforme confessou ao Observador – engoliu uma luz qualquer (espero que led) e quer iluminar o país. Porque não o mundo?! Os comentadores contratados e subsidiados gostam muito de lhe chamar nomes. Pois que seja. Eu vejo-o como um género de d’Annunzio. Querem saber como seria Portugal com a figura a mandar? Leiam o que foi Fiume…

Falar até que a voz me doa (Francisco Rodrigues dos Santos): o esforço de FRS para demonstrar que a direita existe e que tem nome, é de elogiar, mas acredito que o canse. Frequentasse FRS alguns salões onde se lê Joyce (ou finge-se que…) e se ouve uma qualquer banda alternativa e talvez o seu discurso tivesse mais eco nos nossos media. Bem sei que o que afirmei é uma especulação. No entanto, como assisto – semana após semana – às mesmas pessoas a serem convidadas para falar sobre a direita, sou obrigado a concluir desta forma.

Mas o que faz então, FRS, discurso após discurso? Afirma assertivamente o que é ser de direita: não cede no que respeita ao aborto, à adopção gay e a outras diatribes liberais. Apoia os caçadores e as toiradas, ou seja, as tradições, não alinhando nas modas bloquistas, às quais a IL adere desavergonhadamente. Não desiste do 25 de Novembro, como a verdadeira data de implantação do regime democrático.

No teste do algodão que foi a Conferência do MEL, FRS passou com distinção. Reafirmou a mensagem da direita portuguesa: liberal na economia – sem ser o laissez faire, laissez passer da IL – e conservadora nos costumes. A direita que honra as tradições, que respeita e defende as Forças Armadas (e as de Segurança) e que é cristã no seu âmago, sem precisar de fazer o número ridículo – e abusivo – de ir a Fátima com as câmaras de TV atrás.

Mas se a mensagem está certa, por que razão não passa a dita? Não sou, como os esquerdistas, que, quando o povo não lhes dá o seu voto, concluem que o povo não tem competência. Talvez a resposta esteja naqueles que, pertencendo a lobbies de vária ordem, querem fazer do partido e da direita, algo que não são, em vez de solidariamente e instrumentalmente darem o seu apoio a quem tem um rumo, uma carta de princípios e um passado, que, indubitavelmente, são de direita.