Confesso a minha falta de paciência para discussões de lupa e microscópio sobre posicionamentos políticos e ideológicos de partidos, programas e protagonistas políticos.

Os dois eixos tradicionais — esquerda/direita e conservador/liberal — e os quatro quadrantes que a sua combinação permite chegam-me para me situar. Depois podemos deter-nos na intensidade ao longo dos eixos mas nem precisamos de rotular qualquer variação mínima.

Não percebo, por isso, a importância desmesurada que se dá ao rótulo a colocar ao PSD. Será social-democrata o partido que se chama Social Democrata? E onde acaba a social-democracia do PSD e começa o socialismo democrático de que o PS se afirma representante? E onde ficou este socialismo quando António Guterres descobriu uma terceira via e foi dos governos que mais privatizou em Portugal? E o que distingue o conteúdo programático do PCP e do BE, já que o embrulho é radicalmente diferente? São ambos comunistas? Um é mais comunista do que o outro? Qual? É que nisso da “esquerda radical” ou “extrema esquerda” cabe muita coisa.

Estou convencido que o esmiuçamento dos rótulos, numa tentativa de avaliar da pureza ideológica de cada um, pode ser um exercício intelectualmente interessante mas não interessa a 99,9% das pessoas, sendo que os restantes 0,1% são políticos, analistas, comentadores, jornalistas e académicos que fazem destas tarefas a sua actividade, entre outras. Que me perdoem os que acham o contrário de mim, provavelmente eles é que estão certos e eu errado. Vou, por isso, passar em frente esta discussão e colocar-me numa posição mais Deng Xiaopinguiana: não importa se o gato é branco ou preto, o importante é que apanhe ratos.

Registo que Pedro Passos Coelho deixou, finalmente, a fase do “nós ganhámos as eleições e eles é que ficaram a governar”. Era importante virar esta página para conseguir começar a construir alguma coisa que possa assemelhar-se a uma alternativa ao governo liderado pelo PS e que possa ser percepcionada como tal por uma parte importante do eleitorado.

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E que caminho é esse? A maioria das vozes que se ouvem diz que as eleições se ganham ao centro e que o PSD deve tentar ocupar esse espaço deixado aberto com a deslocação do PS para a esquerda.

O que me parece lógico é que isso não é nada incompatível com o discurso da “liberdade económica” e da “reforma do Estado e do Estado Social” que o PSD ensaiou nos últimos anos e Passos Coelho voltou a aflorar no encerramento do congresso.

Nos últimos quatro anos muita gente percebeu finalmente que não se pode gastar o que não se tem e que não se pode redistribuir a riqueza que não se cria. Percebeu também que um Estado ineficiente é um fardo para a sociedade e para a economia, sem que daí se tirem proveitos no combate às desigualdades sociais.

Deitar fora esse capital — que foi comprovado com o resultado das últimas eleições, onde PSD e CDS conseguiram um resultado que poucos esperavam depois da governação de “chumbo” para tirar o país da bancarrota — é prolongar o pântano da alternância indiferenciada, do “mais do mesmo” pintado apenas com pinceladas de outra cor. Foi o “somos todos social-democratas” que nos trouxe até aqui. E é daqui que queremos sair, não?

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