Muito se tem falado dos problemas no Serviço Nacional de Saúde e nas dificuldades de dar resposta aos seus utentes. O envelhecimento da população, o aumento dos custos dos cuidados de saúde e a escassez de especialistas pedem alternativas que contribuam para mitigar os problemas atuais. É necessário repensar o modelo de cuidados de saúde existente.

Façamos um pouco de futurologia e imaginemos a seguinte situação. Vai a conduzir quando, subitamente, uma dor intensa o obriga a encostar. Telefona para os serviços de emergência, mas acaba por perder os sentidos. Acorda numa ambulância e ouve as vozes dos paramédicos, do pessoal do hospital e do seu médico de família. A partir de diferentes locais, estes profissionais consultam o seu historial clínico e os dados transmitidos em tempo real por scanners e sensores ligados ao seu corpo. A ambulância leva-o para a urgência próxima, onde a equipa local está pronta para o tratar com base na consulta e informação obtida a partir da ambulância. Após a sua estadia no hospital, regressa a casa com dispositivos inteligentes para monitorizar o progresso da sua recuperação.

Este episódio fictício ilustra a forma como a tecnologia aplicada à saúde pode transformar os hospitais em centros de colaboração, numa abordagem centrada nas pessoas, e como as unidades de cuidados de saúde podem ser redesenhadas para serem distribuídas e interligadas, para lá das suas estruturas físicas. Alguns exemplos de como os cuidados inteligentes podem trazer benefícios em diferentes contextos:

Hospitais inteligentes: possuem ferramentas centradas no doente e com base em dados, como o auto-check-in, guias hospitalares digitais e equipamento médico de auto-monitorização pessoal e de uso doméstico. Estas ferramentas, quando conectadas em todo o ecossistema de cuidados de saúde, geram dados valiosos para um trabalho de acompanhamento controlado e previsível. Da mesma forma, tecnologias como a inteligência artificial (IA) podem permitir tipos de diagnóstico novos como a interpretação de radiografias ou o fornecimento de soluções para determinadas patologias nas fases de investigação ou tratamento.

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Cuidados inteligentes em casa: Uma arquitetura de ecossistema de cuidados inteligentes pode facilitar os cuidados no domicílio. Num sistema deste tipo, os dispositivos portáteis e outros dispositivos médicos pessoais, bem como o equipamento ou mobiliário com sensores incorporados, podem monitorizar os sinais vitais, a atividade e o movimento, a medicação e a dispensa de medicamentos. Estes dispositivos também podem transmitir informações de forma segura a médicos de cuidados primários, serviços de assistência comunitária, serviços especializados e de urgência, bem como farmácia, imagiologia e laboratórios e/ou clínicas de diagnóstico.

Cuidados descentralizados através da reutilização adaptativa de edifícios: o custo de um novo hospital é significativo e pode ser reduzido através da reutilização de edifícios existentes – como edifícios de escritórios, armazéns e habitações multifamiliares – para criar cuidados hospitalares descentralizados e sustentáveis, convenientemente localizados nas comunidades. Embora a reutilização adaptada de edifícios existentes ofereça uma forma sustentável e económica de expandir as instalações de cuidados de saúde, requer infraestruturas digitais robustas para funcionarem sem problemas.

Uma infraestrutura digital fiável é a base dos cuidados inteligentes. Um ecossistema interoperável permitirá que o pessoal de saúde colabore e tome melhores decisões clínicas para os seus pacientes, independentemente do local. Infraestruturas digitais confiáveis são fundamentais para a expansão do sistema de saúde e para permitir a interoperabilidade segura de um vasto leque de intervenientes.

Embora no panorama nacional possamos olhar para estes cenários como objetivos de médio e longo prazo, não há dúvida que os atuais modelos são insuficientes e que hoje já é possível capacitar as organizações de cuidados de saúde com soluções para otimizar as suas operações e melhorar os serviços prestados aos pacientes. É, sem dúvida, necessário repensar o modelo de cuidados de saúde. A criação de um serviço orientado por dados é a “chave” para que haja um maior enfoque nas pessoas e a evolução da tecnologia e dos sistemas de informação devem ter um papel relevante e facilitador.