Esta crónica não interessará a Mourinho, Jesus, Conceição, Guardiola, Klopp, Zidane nem Ancelotti. Não dirá nada a treinadores que sabem de estratégia de jogo e que sabem dar lições sobre posicionamento táctico, jogo em profundidade e posse de bola; nem aos que compreendem a importância dos treinos, da repetição até à excelência e da prática como caminho mais seguro (embora difícil e trabalhoso) para a construção de espírito de equipa, indispensável a qualquer plantel moderno e ganhador.
Na verdade, aprende-se no futebolês básico que os treinadores com pouca criatividade é que obrigam os seus pupilos a jogar ao meinho durante os treinos. É uma espécie de monotonia em que três ou quatro jogadores trocam a bola entre si (nas modalidades de um ou dois toques) e há um no meio, a fazer figura de tonto, que desafia as probabilidades e corre atrás do esférico até ficar exausto.
Trata-se de uma tradição que vem dos tempos da escola secundária, em que normalmente vai para o meio o nerd de serviço, participando numa espécie de bullying consensual e com bola, que acaba com o desgraçado de língua de fora a tentar ir a todas sem de facto chegar a nenhuma. Depois vem o “toque para dentro” e os colegas dizem que ele está muito bem assim para o convencer a ir ao meio outra vez no intervalo seguinte.
Não consigo pensar em metáfora mais perfeita para o Rui Rio actual. Rio ensaiou durante a campanha uma fuga para o centro, acreditando que o povo iria aclamá-lo como novo profeta da ponderação, do equilíbrio, do sentido de Estado e da virtude. Tentou capitalizar até à exaustão a imagem de homem sério e rigoroso que quis criar durante os últimos anos e que tantas vezes o espelho devolve aos seus próprios olhos.
Pois bem — no centro está a virtude, mas também está o vazio, o atoleiro, o comodismo de não querer pensar, a ausência de debate de ideias e a amálgama dos conformados. E por isso resultou do seu esforço uma indefinição ideológica, uma pasta de posicionamento político amorfo, sem açúcar nem sal, que revela apenas que o seu autor tentou enganar os eleitores, procurando ganhar tempo para impor uma decisão já mais do que tomada.
E assim foi usando a campanha eleitoral como espaço destinado a arregimentar apaniguados e a contar espingardas, preparando o terreno para garantir que todas as condições estão reunidas para assegurar o objectivo último – perpetuar-se no lugar a qualquer custo.
Já aqui revelei e volto a expor a minha inquietação – falta um PSD que fale olhos nos olhos com os Portugueses e lhes dê esperança, lhes transmita a confiança de poderem ter um futuro que não os condene a viver resignadamente no gueto dos pagadores de impostos.
Falta um PSD revoltado contra a TINA socialista e falta um líder digno desse nome e que não seja um tarefeiro que se limita a oferecer os seus préstimos ao Governo se este deles necessitar.
Esse PSD — a julgar pelos desenvolvimentos recentes, motivados pela táctica única de Rio, de purgar o partido dos indesejáveis, instituindo a lei da rolha e calar de vez toda e qualquer divergência interna — não está para breve.
Ao centro pode estar e provavelmente estará a vitória de Rio no PSD, mas é aí também que se situa a capitulação do partido como projecto político reformador de Portugal.
Manter-se-á relativamente competente a jogar ao meinho, satisfeito por ser autorizado a brincar, e contribuirá para manter a equipa nos primeiros lugares da divisão de honra, continuando a exibir nos relvados do país o nível medíocre a que nos tem habituado – que lhe garante o direito a ser o primeiro dos últimos.