Além de ter trazido consigo a habitual paixão pelo futebol, o Euro 2024 destacou um fenómeno contemporâneo impulsionado pelas redes sociais: a procura desenfreada por engagement, de conquista de mais seguidores, mesmo que isso signifique correr muitos riscos. Este comportamento, embora compreensível no contexto de uma sociedade cada vez mais digitalizada, levanta algumas questões importantes sobre os limites da procura pela visibilidade online.

Recentemente, assistimos a um aumento significativo – e talvez nunca antes visto – de invasões de campo, em que os adeptos tentaram aproximar-se dos seus ídolos para tirar selfies e posteriormente publicar nas redes sociais. Este comportamento, embora não seja completamente novo no futebol, ganhou uma nova dimensão com a procura incessante por likes, seguidores e notoriedade nas redes sociais.

O caso mais conhecido foi o do youtuber alemão Marvin Wildhage, que invadiu o campo durante a cerimónia de abertura do Euro 2024 disfarçado de mascote – e isto aconteceu num país como a Alemanha onde se pressupõe que exista um nível de segurança acima da média europeia. O vídeo dessa invasão, que Marvin publicou nas suas redes sociais, tornou-se rapidamente viral e alcançou quase três milhões de visualizações. Este tipo de conteúdo não apenas promove comportamentos inseguros, mas também coloca em risco a integridade física dos jogadores, do próprio invasor, dos seguranças e, no limite, de todos os adeptos nos estádios.

As consequências legais são igualmente duras. Os invasores de campo podem enfrentar acusações criminais, multas e até penas de prisão, dependendo da gravidade da invasão e dos danos causados. Temos já exemplos conhecidos como as multas a rondar os 5 mil euros que foram aplicadas a invasores de campos na Premier League, em Inglaterra, ou até mesmo as penas de prisão, como aconteceu a um invasor de campo de um jogo da National Football League (NFL), de futebol americano, nos Estados Unidos, mas tudo isto parece ainda não ser suficiente para assustar aqueles que vivem constantemente na luta por visualizações.

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As redes sociais desempenham um papel crucial neste fenómeno. A busca por reconhecimento e validação social é exacerbada pelos algoritmos das plataformas, que promovem conteúdos virais e recompensam comportamentos extremados com visibilidade. Este ciclo vicioso de busca por likes e seguidores cria um ambiente onde comportamentos arriscados são incentivados e até mesmo “glamorizados”.

O Euro 2024 destacou uma tendência crescente em que a procura por engagement nas redes sociais pode levar a comportamentos extremos. A invasão de campos por adeptos, motivada pelo desejo de conseguir momentos únicos para publicar online, reflecte o poder das redes sociais de moldar comportamentos.

Estes actos são impulsionados pela promessa de visibilidade e a perspetiva de obtenção de aprovação social. À medida que as redes sociais continuam a evoluir e a influenciar cada vez mais os comportamentos humanos, é essencial observar como esta procura por engagement redefine os próprios limites do que estamos dispostos a fazer pela “atenção online”.

Custe o que custar.