Acreditem em mim: quando anda à noite pelo Palácio de Belém a meditar sobre a sua popularidade, Marcelo Rebelo de Sousa não compara a sua excelentíssima pessoa com Ramalho Eanes, com Mário Soares ou com Cavaco Silva — compara-a com Cristina Ferreira e com Ricardo Araújo Pereira. Na cabeça do Presidente da República, e ao contrário do que pensam alguns comentadores políticos, essa equivalência não tem a ver com os níveis de aprovação de cada um deles. Nada disso: não é uma questão de números de popularidade, é uma questão de tipo de popularidade.

Esta é a chave para entender o comportamento de Marcelo Rebelo de Sousa na Presidência da República. Quando olha para um dos muitos espelhos dourados do Palácio de Belém, Marcelo não vê um político — vê uma estrela da televisão. Ao longo destes sete anos, a ligação que tentou estabelecer com os portugueses não foi racional, foi emocional. Por um motivo simples: a relação de confiança entre um político e o eleitorado oscila com as decisões controversas, com os ciclos políticos e com os atos eleitorais; já a relação de confiança entre uma estrela da televisão e os telespectadores prolonga-se durante décadas e sobrevive a deslizes e a escândalos.

O mistério da hiperatividade mediática de Marcelo Rebelo de Sousa fica resolvido quando se percebe isso. Subitamente, tudo se torna claro: um político que entra em casa dos eleitores todos os dias é um amador; uma estrela da televisão que entra em casa dos telespectadores todos os dias é um profissional.

Infelizmente para o Presidente da República, o final da sua carreira aproxima-se a uma estonteante velocidade. Basta olhar para o calendário, como faz sempre o comentador Marcelo. O seu sucessor toma posse a 9 de março 2026. As eleições são em Janeiro de 2026. O atual Presidente, como lembrou na entrevista que assinalou os sete anos de mandato, perde o poder de dissolução a 9 de setembro de 2025. E pelo menos um ano antes disso, a seguir às férias de Verão de 2024, toda a gente estará já a pensar em quem se poderá candidatar ao cargo, à direita e à esquerda. Como estamos agora em Março de 2023, isso quer dizer que, daqui a apenas um ano e meio, Marcelo começará a perder o seu poder, a sua influência e a sua relevância.

Hoje, Marcelo Rebelo de Sousa tem sempre trinta microfones à sua espera. Em setembro de 2024 serão vinte. Em setembro de 2025 serão dez. E em março de 2026 será apenas um, que utilizará para se despedir definitivamente do cargo. No dia 9 desse mês, a TV Marcelo deixa de emitir. Até lá, como se percebeu com a entrevista desta semana, Marcelo Rebelo de Sousa quer aproveitar todas as oportunidades para continuar a ser a estrela que partilha o palco, as luzes e o aplauso com Cristina Ferreira e com Ricardo Araújo Pereira. Na verdade, é o que ele sempre quis.

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