A notícia de que muitas escolas estão a proibir a utilização de telemóveis por crianças e por adolescentes tem sido acompanhada por relatos de diversos auxiliares de educação que afirmam que eles voltaram a brincar e que os recreios se tornaram ruidosos. Acresce que o “levantamento de rancho” que tantos terão imaginado diante duma regra como essa não só não aconteceu como a reacção dos alunos foi tranquila. A par, os pais não se insurgiram de forma inflamada. O que, tudo junto, nos leva a supor que, afinal, há revoluções tranquilas. Com o patrocínio dos professores. E com o apoio dos pais.

É claro que não se trata de sermos fundamentalistas a propósito dos telemóveis. Muito menos na relação que eles tenham com a escola. Mas será razoável que crianças de 5 anos vão de iPhone para escola? E fará sentido que, entre os 6 e os 12, eles andem com telemóvel e, em muitas circunstâncias, com acesso a dados? E é razoável que os recreios, em vez de lhes trazerem oportunidades quer para brincarem quer para se relacionarem uns com os outros, sejam preenchidos com crianças debruçadas sobre um ecrã, navegando por videojogos, pelo YouTube ou por outras redes sociais? Tornará a relação das crianças com os ecrans, no decurso do recreio, potencialmente mais atentas quando regressam às aulas? Será que o registo ora impulsivo ora absorvido, por uma sucessão de scrolls, que isso gera, as deixa mais soltas, mais capazes de “apanhar as coisas no ar” ou mais descontraídas para participar numa aula, discorrer ou criar? Será que o contacto regular com o colega do lado, no recreio, através de WhatsApp, faz delas crianças mais interactivas, mais seguras e mais participativas? E, se não for assim, se – por fragilidade, por hipótese – estiverem num contacto permanente com a mãe, durante o recreio, para que se sintam mais protegidas, ficarão, mais robustas e menos aflitas quando se trata de aprenderem a estar em ambientes mais ásperos, sempre que isso aconteça?

As crianças, quando chegam às aulas, estão à guarda da escola e ao cuidado dos professores. Se tiverem o telefone na mochila e no silêncio, pronto para ser utilizado em circunstâncias de excepção, e com autorização de um professor, ficam mais frágeis por isso?

Telefones na escola com uso livre pelos alunos, não, por favor. Telefones para todos, também não. Telefones no 3.º ciclo, se possível, ainda não. Telefones no secundário,  sim.

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