Que o contexto económico impacta o mercado imobiliário comercial, ninguém tem dúvidas. O aumento das taxas de juro pesa em qualquer decisão de investimento. Não haverá muitos que arrisquem desenhar um cenário 100% seguro que ilustre como evoluirá o quadro económico onde nos movemos e os efeitos para a economia.

Que a pandemia de Covid-19 impactou o mercado imobiliário, também é inquestionável. A obrigação imposta de um regime de teletrabalho a uma fatia enorme da nossa sociedade evidenciou, entre outras coisas, que é possível manter níveis de produtividade num regime de teletrabalho, mesmo que nem todos tivessem nas suas residências as condições ideais para tal. Se essa produtividade é possível de manter no médio prazo, essa é outra. Contudo, os modelos de trabalho impactam significativamente o mercado imobiliário comercial, isso é também inequívoco.

Que as gerações que entram agora, ou entraram nos últimos 5 anos, no mercado de trabalho, tem preocupações e expetativas relativamente ao seu local de trabalho em termos de bem-estar, contributo para a saúde mental, identificação com os seus valores e gostos, promoção do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, disso também parece não haver muitas dúvidas.

Atualmente as pessoas exigem que tempo no local de trabalho deva ser passado num ambiente acolhedor, que promova o seu bem estar físico e mental, que reflita os seus valores, adaptado à forma como gosta de trabalhar, seja mais ou menos formal, em equipa ou individual. Todos estes fatores impactam na retenção de recursos. Então, as empresas têm um desafio pela frente. E se esse problema se relaciona com o espaço físico onde a empresa está instalada, então o mercado imobiliário comercial tem um problema!

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E como é que estes fatores impactam as prioridades na hora de gerir um edifício?

impactam desde logo o modo como se desenham os edifícios. Entender que hoje conceitos como hospitality, customer experience, wellbeing, flexibilty, soft mobility e sustainability são fundamentais para um engagement dos utilizadores é fundamental. A visão que uma equipa de gestão destes investimentos aporta à fase em que se está a desenhar o produto reveste-se de uma importância chave pois facultará dados e experiências reais que permitem ser refletidos na construção de um espaço.

Numa fase posterior, gestão de um investimento imobiliário comercial não passa somente por garantir que de um ponto de vista técnico e regulamentar o espaço físico responde às exigências legais e cumpre com as obrigação que sobre o proprietário recaem. Não basta garantir que os serviços prestados por terceiras partes em beneficio dos ocupantes implantam as condições adequadas para que estes ocupantes possam desenvolver as suas atividades no edifício. Não basta estruturar orçamentos de despesas anuais e executá-los com critério e rigor mas há outros temas a ter em conta decorrentes da nova forma de viver os espaços.

A gestão operacional destes investimentos implica cada vez mais, conhecer com detalhe o contexto competitivo no qual o edifício se insere, conhecer os edifícios que são concorrentes, desenvolver estratégias de ganhos ou preservação da competitividade, oportunidades de melhoria da rentabilidade. Quer do ponto de vista físico da sua infraestrutura quer de um ponto de vista da sua qualidade percecionada.

Por um outro lado, recriar no espaço físico do edifício e no espaço digital o ambiente atrativo para as empresas e em especial para os seus colaboradores é cada dia mais relevante. Fazer do edifício e com aqueles que são os seus utilizadores uma comunidade que promova um sentido de pertença. Que gere nestes e perante o edifício, uma sensação deste espaço ser uma extensão do conforto da sua casa ou de um outro qualquer ambiente onde se sente mais cómodo.

Outro aspeto a ter em conta é a diminuição da pegada de carbono que o imobiliário ainda hoje representa. Uma estratégia ESG não são mais que ações concretas com resultados mensuráveis. O caminho dos edifícios no sentido Carbon Net-Zero é uma missão que tem que ir de mão dada com a rentabilidade.

Hoje, a gestão de investimentos imobiliários comerciais têm de ser estratégica, de médio prazo, permanentemente atenta ao contexto local do mercado, às dinâmicas sociais, às expetativas dos que usam estes espaços e às novas obrigações  ambientais.

A gestão de investimentos imobiliários não pode ser imobilista e passiva ainda que a localização de um edifício “dificilmente” se altere. A gestão de investimentos imobiliários deve ser, por sobrevivência, pró-ativa e estratégica.