São muitas personalidades do mundo das artes, algumas da política, maioritariamente no quadrante da esquerda (Adriano Moreira será uma exceção). Há também altas patentes militares (generais), membros do clero e figuras do desporto e nem faltam dois ex-presidentes (Mário Soares e Ramalho Eanes que não assina o manifesto porque está no Conselho de Estado, mas manifestou apoio à causa). Há também intelectuais como Eduardo Lourenço e cantores populares como Tony Carreira. Alguns economistas, mas poucos gestores e empresários. Muitos terão certamente o cartão Vitória de passageiro frequente e estão contra a privatização da TAP, ou pelo menos contra esta privatização da TAP.

O movimento “Não Tap os Olhos” tem este sábado uma prova importante e de grande visibilidade, a concentração marcada para as 15 horas no aeroporto da Portela, junto ao terminal de chegadas. Outra iniciativa decisiva do movimento, que já foi subscrito mais de 100 figuras públicas, num total de quase 4500 apoiantes, é atingir as 75 mil assinaturas, número mínimo para pedir no Parlamento a realização de um referendo sobre a privatização da TAP. Esta tarefa arranca a sério na próxima segunda-feira, explica António Pedro Vasconcelos, o líder deste movimento cívico que ambiciona ser apartidário e o mais abrangente possível.

“Não gostaria de ver este movimento associado à esquerda”

O realizador reconhece que há mais gente conotada com a esquerda, mas sublinha que “não gostaria de ver este movimento associado à esquerda”. António Pedro Vasconcelos, que liderou o protesto contra a privatização da RTP, lançou-se nesta iniciativa pela TAP, porque defende que estas duas empresas são “instrumentos preciosos e únicos” para ligar Portugal ao mundo da língua portuguesa e sobretudo aos portugueses da diáspora. Devem continuar públicas, embora, admite que possam ser mais bem geridas.

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No caso da companhia aérea cita um testemunho de um passageiro para quem um balcão da TAP é como se fosse uma Embaixada de Portugal. E esse papel não pode continuar a ser desempenhado por uma TAP privada? António Pedro Vasconcelos defende que não, sobretudo no modelo que foi aprovado pelo governo e que prevê a venda da maioria do capital por negociação direta a um grupo ou investidor só que será, é quase certo, estrangeiro. E não confia nas garantias prometidas pelo executivo no caderno de encargos ao nível do cumprimento de obrigações de serviço público, lembrando o caso da venda da ANA (Aeroportos de Portugal) que conduziu a sucessivos aumentos das taxas aeroportuárias

Mais do que a privatização, o realizador contesta esta privatização, por causa do timing, já depois da saída da troika e demasiado perto, do seu ponto de vista, das eleições legislativas de outubro. Qualifica a venda nesta fase de “aventureira” e defende a realização de um amplo debate público sobre a companhia, e que ultrapasse o mero confronto partidário.

E porque não houve contestação quando a TAP esteve quase a ser vendida na totalidade ao empresário colombiano Efromovitch? Porque em 2012 as pessoas estavam preocupadas com outras coisas, assustadas, com medo de perder o emprego e o rendimento. Durante esses anos, foram vendidas outras empresas bandeira como os CTT ou a ANA, acrescenta.

E pode a TAP resistir sem a entrada de investidores privados? António Pedro Vasconcelos argumenta que as necessidades económicas são um falso argumento que esconde uma decisão ideológica. A situação financeira da TAP melhorou nos últimos anos e não é impossível ao Estado apoiar financeiramente a empresa através de uma linha de crédito, embora um apoio público tenha de passar o crivo de Bruxelas. Aliás, realça, a TAP só está a ter dificuldade em obter crédito bancário porque está à beira da privatização.