“Este é um almoço de amigos, marcado com o objetivo de se reunirem. Eu venho aqui só para lhes agradecer, não acha que esse é o meu dever?” A pergunta foi feita por José Sócrates quando chegou ao encontro na Feira Internacional de Lisboa (FIL), pelas 13h25 de domingo.

À sua espera estavam vários amigos. Mário Soares, Almeida Santos ou Vital Moreira não quiseram faltar, e marcaram presença entre os cerca de 500 apoiantes. Havia quem o esperasse desde as 10h00 da manhã só para não correr o risco de não conseguir um lugar na sala da antiga FIL, num almoço com um preço de 25€ por cabeça.

“Estou de certa forma surpreendido [com as manifestações de apoio]. Mas ao longo destes meses sempre tive amigos que me acompanharam, e os amigos que queria, tive muito apoio e confiança. E vim para agradecer”, reafirmou o ex-primeiro-ministro à SIC Notícias, sem deixar de repetir que o Ministério Público ainda não deduziu acusação contra si, principal arguido no processo da Operação Marquês, porque “não a tem”.

Alberto Costa também esteve presente. Questionado sobre a inocência de Sócrates, o ex-ministro da Justiça, afirmou: “Acredito, não se trata apenas de um princípio do sistema jurídico, trata-se de uma convicção. E acredito que o sistema jurídico, mais tarde ou mais cedo, chegará a essa conclusão”.

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Mário Lino, antigo ministro das Obras Públicas, também disse ver o processo com “muita preocupação, vejo um processo que se arrasta há muito tempo sem qualquer acusação formal depois de estar preso quase um ano. Vamos aguardar”.

Almeida Santos também se manifestou aos jornalistas: “Acho que ele é um grande político a ser vítima de uma perseguição injusta. E por isso nós viemos prestar-lhe homenagem”.

Os amigos de José Sócrates estavam na expectativa de ouvir as palavras do antigo primeiro-ministro durante o almoço de solidariedade que assinala um ano da sua detenção. Quando entrou na sala foi recebido com uma ovação de pé. “Amigos que decidiram juntar-se e eu aqui venho para lhes agradecer o esforço, o empenhamento e companheirismo que tiveram ao longo destes tempos que foram muito difíceis para mim”, voltou a declarar o ex-primeiro-ministro aos jornalistas.

Esperavam-no mais pessoas do que aquelas que se inscreveram no almoço e havia receio de que o espaço não fosse suficiente para albergar todos: “Sócrates, amigo, o povo está contigo!”, gritavam os apoiantes em uníssono antes de o ex-governante começar a falar.

Na mão esquerda tinha um molhinho de folhas escritas a esferográfica. O antigo primeiro ministro começou a falar sem pôr os olhos no texto: 

“Vim aqui para agradecer a todos os meus amigos que fizeram parte desse movimento cívico que nos últimos meses nunca deixou de me apoiar. Venho agradecer o que fizeram por mim, mas também o que fizeram pelo estado de direito. Porque eu sei que muitos daqueles que se empenharam nesta causa não o fizeram apenas por mim, mas pela justiça, pelo estado de direito”. 

José Sócrates foi aplaudido e continuou o discurso: “Essas pessoas perceberam muito bem aquilo que há mais de dois séculos um grande pensador disse a propósito da justiça e do estado de direito, o estado de direito democrático: o abuso por parte do Estado sobre um cidadão é uma ameaça aos demais“, disse José Sócrates, sem revelar o nome do filósofo que citava.

O ex-primeiro-ministro reiterou ainda que vai continuar ativo politicamente.

Sócrates acusa Cavaco de estar a preparar campanha eleitoral da direita

O almoço serviu ainda para Sócrates tecer duras acusações a Cavaco Silva, que acusa de estar a atuar com base no ressentimento e considerou que a demora na resolução do impasse político tem como intenção construir as bases da campanha eleitoral da direita, declarando que o Presidente da República não quer ser aconselhado, porque “se o quisesse, convocava o Conselho de Estado”.

“No fundo, o que o senhor Presidente da República quer fazer e está a fazer é sublinhar a anormalidade desta solução política, mostrar que ela é muito anormal, que ela é muito estranha, para com isso construir as bases da campanha eleitoral que a direita vai fazer, ou melhor, as bases da campanha eleitoral que a direita um dia fará contra o futuro Governo que ainda não o é”. 

Falando pela primeira vez sobre a atualidade política, o antigo primeiro-ministro deixou duras críticas ao chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, acusando-o de estar a atuar com base no ressentimento e sublinhando nunca ter visto “um Presidente terminar tão só”.

O almoço está a decorreu na antiga sala da FIL, em Lisboa. Espera-se que José Sócrates volte a falar no final do encontro.