Que os portugueses andaram pelo Japão não será grande novidade para muita gente. Que dessas andanças sobraram consideráveis vestígios também não. Já o facto de um desses vestígios ser a palavra koppu, que equivale à sua quasi-homófona portuguesa, copo, talvez possa surpreender um número razoável de pessoas. É isso que espera o autor deste artigo, que, caso contrário, acabou de desperdiçar um parágrafo. Pelo menos não morreram árvores.

(Se foi o caso, fique o leitor a saber, em jeito de compensação, que os portugueses também introduziram o hábito de se fritar e fumar em terras do Sol Nascente. Provam-no a ‘tempura’ e o ‘tabako’. É provável, como consequência, que também tenham introduzido alguns problemas digestivos e pulmonares entre os japoneses. Vivam os Descobrimentos.)

Passados mais de 500 anos dessas aventuras, a história (e a História) vem à baila pela recente inauguração do Koppu, um restaurante japonês onde, apesar do nome, não são os copos que se destacam mas antes as tigelas. E porquê? Porque a respetiva especialidade é ramen, a famosa sopa japonesa de noodles que está, cada vez mais, nas bocas do mundo. Literalmente e não só.

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O Koppy abriu há pouco menos de um mês, no Príncipe Real.
(foto: © Tiago Pais / Observador)

Ramen com estrela Michelin?

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No final do ano passado o guia Michelin atribuiu uma estrela ao Tsuta, um pequeníssimo restaurante em Tóquio que encaixa perfeitamente na designação ramen shop: é apenas ramen, em diferentes versões, que os nove clientes que cabem no seu interior lá vão comer. A pouco mais de cinco euros a dose, escreveu o Telegraph será, com certeza, a mais barata refeição do Guia Michelin.

“Sempre me interessei muito por cozinha japonesa, na sua vertente mais tradicional”, conta Susana Borges, a responsável pelo restaurante. Ainda pensou em ceder à tentação do sushi, mas enquanto explorava ideias e conceitos possíveis, o ramen foi-lhe soando (e sabendo) cada vez melhor. “Os portugueses adoram sopa, é comfort food, é tradicional, faz parte dos nossos hábitos”, refere. Assim que tomou a decisão de que seria esse o caminho a seguir, fez as malas e foi para Londres, onde a oferta na matéria é vasta. A viagem não serviu apenas para experimentar diferentes receitas, mas também para aprender a fazê-las. “Fiz um curso específico de ramen com uma professora japonesa, que me ajudou a definir a carta do restaurante.”

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Dessa carta constam, para já, quatro ramens: dois de galinha, com o respetivo caldo, um de porco, com caldo de soja, e um vegetariano. Com intenção de, em breve, introduzir um quinto, o tonkotsu, feito a partir dos ossos do porco. “A preparação desse leva 12 horas”, explica Susana. Na verdade, a dos outros não leva muito menos que isso, o que faz com que o Koppu só abra, para já, aos jantares. “Há a ideia de fazer almoços, no futuro, mas para isso é preciso formar outra equipa”, justifica a responsável.

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Um dos ramens da casa, o chashu de galinha (10,50€).
(foto: © Tiago Pais / Observador)

Mas calma, nem tudo é sopa

É verdade. A oferta do Koppu também contempla incursões por alguns snacks tipicamente japoneses, casos das gyozas ou das sanduíches em pão a vapor, o bao. “As nossas gyozas são caseiras, temos uma de camarão e porco que não é muito habitual encontrar”, diz Susana. Caseiras e confecionadas como manda a lei japonesa: ou seja fritas e apresentadas com a face crocante virada para cima. Já o bao, que é cada vez mais frequente encontrar por estas bandas — não é por acaso que consta do artigo relativo às tendências deste ano — é servido com dois recheios possíveis, barriga de porco ou galinha.

Num restaurante com este nome não podia faltar, também, uma carta de bebidas pensada para acompanhar a contenda. E, não podendo faltar, ela não falta. O foco está no gin, japonês ou ocidental, sem esquecer outras espirituosas (do saké ao uísque japonês), as cervejas da terra (Kirin ou Sapporo), chá verde ou até licor de ameixa.

Para conseguir experimentar tudo isto, a reserva prévia é aconselhável. Porque a previsão de Susana não falhou: os portugueses adoram, de facto, sopa, e o Koppu tem sido prova disso. Para mais, há apenas 30 lugares, onde se inclui uma pequena sala privada para grupos de 6 a 8 pessoas. Foi a única característica do antigo restaurante que ocupava o espaço que sobrou. De resto, é tudo novo, incluindo a cozinha aberta onde se pode observar a preparação dos pratos. Melhor, das tigelas.

Nome: Koppu
Morada: Rua Gustavo Matos Sequeira, 30 (Príncipe Real), Lisboa
Telefone: 21 390 0043
Horário: De terça a quinta, das 19h às 00h (cozinha encerra às 23h). Sexta e esábado das 19h à 01h (cozinha encerra às 23h30)
Preço Médio: 20€
Reservas: Aceitam
Site: facebook.com/koppujapones; www.koppu.pt