Um relatório de uma investigação do governo francês à forma como a construtora automóvel francesa Renault conseguiu que os seus carros a gasóleo enganassem os testes oficiais ao nível de emissões de gases nocivos terá omitido informações cruciais, de acordo com vários membros da equipa que fez parte da investigação.

A notícia é avançada pelo jornal britânico Financial Times, que cita três dos 17 membros do painel que levou a cabo a investigação, cujos resultados foram conhecidos no mês passado e que revelaram que alguns dos modelos da Renault emitiam níveis de dióxido de nitrogénio, uma das causas de doenças respiratórias que pode provocar a morte precoce, nove a onze vezes superior ao limite legal imposto nas regras europeias.

“No final, o relatório foi escrito pelo Estado e eles é que decidiram o que permaneceria confidencial”, afirmou ao jornal Charlotte Lepitre, líder do grupo de organizações ambientais em França, e que fazia parte da comissão.

Os membros do painel dizem que não encontraram provas que a Renault usasse esquemas semelhantes aos da alemã Volkswagen – cuja investigação determinou que a empresa instalou mecanismos com defeito ilegais para alterar os resultados nos testes às emissões nos EUA -, mas foram encontradas provas de que alguns modelos Renault tinham resultados diferentes nos testes em laboratório e nos testes de estrada, o mesmo tipo de discrepância que despertou a atenção dos investigadores norte-americanos.

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A Renault nega que tenha usado software para alterar enganar nos testes de emissões, garantindo que os seus modelos cumprem as leis e normas dos respetivos mercados em que foram vendidos. Ainda assim, a Renault mandou recolher 15 mil automóveis em janeiro e concordou implementar tecnologias mais avançadas para reduzir os níveis de poluição provocados pelos seus carros, como parte de um plano mais abrangente.

O ministro do Ambiente de França nega que tenha havido ocultação deliberada de factos, garantindo que o governo incorporou a opinião dos vários membros da comissão quando produziu o relatório. A justiça francesa continua a investigar as práticas da Renault. No entanto, o FT falou com um responsável governamental que admite que o Governo é sensível às questões da marca Renault.

Há várias marcas envolvidas em casos semelhantes sobre o nível de emissões de gases nocivos. A Volkswagen, cuja investigação ganhou uma dimensão inédita e com inquéritos criminais em curso para além de já terem pago indeminizações milionárias às autoridades norte-americanas, terá sido apenas a ponta do iceberg. Segundo uma investigação da revista alemã Der Spiegel, que cita documentos, quando as autoridades lançaram a investigação à Volkswagen os responsáveis europeus já tinham conhecimento destes esquemas. Durante anos e sem atuarem.