Mary Lindell tinha 44 anos quando rebentou a Segunda Guerra Mundial. Heroína condecorada pelos serviços prestados à pátria durante a Primeira Guerra Mundial, a britânica não hesitou em voltar a envolver-se num novo conflito armado assim que a guerra despontou. “Ou ficas do lado do inimigo ou revoltas-te contra o inimigo”, disse mais tarde. “Não podia ficar sentada a rodar os meus polegares. Não estava na minha natureza.”

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“Lindell’s List”, de Peter Hore (The History Press)

Trabalhou para os serviços secretos do Reino Unido, chefiou uma linha de fuga em Paris e salvou a vida de várias mulheres britânicas e norte-americanas que estavam no campo de concentração de Ravensbrück, onde esteve presa. Condecorada pelo Reino Unido e por França, poucos sabem porém que foi Mary Lindell. Uma realidade que o historiador Peter Hore pretende mudar com o livro Lindell’s List, que será publicado em Inglaterra a 5 de setembro, pela The History Press.

A heroína esquecida

Mary Lindell foi condecorada pela primeira vez depois da Primeira Guerra Mundial. Quando o conflito começou, voluntariou-se como enfermeira, trabalhando no Reino Unido e em França, numa divisão da Cruz Vermelha francesa. Depois do conflito, recebeu em 1918 a Croix de Guerre das mãos do governo francês, por ter ficado ao lado dos seus pacientes enquanto o hospital onde trabalhava era atacado por alemães.

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Durante a Segunda Guerra Mundial, entrou para os serviços secretos britânicos e, após a ocupação da capital francesa em 1940, chefiou uma linha de fuga para patriotas franceses e soldados do Reino Unido. Infiltrou-se nas linhas inimigas para fazer regressar dois comandos a casa, mas acabou por ser presa — uma e outra vez. Assistiu aos horrores das prisões alemães e, depois da segunda detenção, em 1943, foi levada para o campo de concentração de Ravensbrück, a 50 quilómetros de Berlim.

Conhecido por “Inferno das Mulheres”, Ravensbrück era um campo exclusivamente feminino onde milhares de mulheres morriam de fome ou trabalhavam até à morte. Depois de arranjar trabalho no hospital de Ravensbrück, ajudou a salvar várias mulheres britânicas e norte-americanas, apesar de os alemães juraram que não existiam lá nenhumas.

9th August 1961: Mary Lindell, who helped save allied airmen in France during World War II, holding some of her medals. (Photo by Davies/Evening Standard/Getty Images)

Mary Lindell a segurar algumas das medalhas que recebeu pela sua participação na Primeira e Segunda Guerra Mundial (Davies/Evening Standard/Getty Images)

Por tudo isto e muito mais, quando a guerra terminou Lindell foi condecorada uma segunda vez com a Croix de Guerre. Do governo britânico, recebeu o grau de Officer of the Order of the British Empire. Mas nunca gostou do termo “heroína”. “Quando me chamam heroína, sinto-me envergonhada e acho que é ridículo”, costumava dizer. “Pode-se dizer que fiz um trabalho — era um trabalho — mas ‘heroína’ é exagerado.”

Mary Lindell morreu há 30 anos, em 1986, aos 91 anos. Apesar das condecorações, hoje está “esquecida”, como escreveu Peter Hore para o jornal The Telegraph. “Enquanto outras agentes secretas ficaram na história pelas suas contribuições para a guerra, Lindell morreu na obscuridade.”