Há estados e estados. E se há estados, como Washington, Nova Iorque ou Califórnia, em que é impensável não acabar a noite pintados de azul (com o carimbo de Hillary Clinton), ou estados como o Kansas ou o Oklahoma, onde Donald Trump tem obrigação de ganhar, também há estados em que a dança é evidente: ora pendem para um lado, ora pendem para o outro, tudo depende do candidato. São os chamados “swing states”, os estados oscilantes, onde a eleição é renhida. Quando a corrida está mesmo taco a taco ganham até outro nome de guerra: passam a “battleground states”, estados que se transformam em autênticos campos de batalha. É aí que tudo se decide.

E que estados são esses? Florida, Nevada, Carolina do Norte, Ohio, Virginia, Pensilvânia, Arizona, Iowa, Colorado ou New Hampshire são alguns exemplos. O Maine, a Georgia, o Michigan e o Novo México, também são relevantes. Sem eles, bem que Hillary ou Trump podem não falhar nenhum dos estados pré-adquiridos que mesmo assim não chegam lá. Quer seja pela dimensão (a Florida, por exemplo, representa 29 dos 538 votos do colégio eleitoral), quer seja pela imprevisibilidade. No populoso estado da Florida tudo pode acontecer, é certo, mas no condado de Hillsborough, um dos 67 daquele estado, circula um ditado que diz muito sobre o jogo de tolototo em que se pode tornar a eleição: “Para onde vai Hillsborough vai a Florida e para onde vai a Florida vai a nação”, numa alusão ao facto de a comunidade de Hillsborough ter um histórico de eleger o candidato que é eleito pela Florida e que corresponde, consequentemente, ao candidato que acaba vencedor.

Nesta infografia do USA Today percebe-se bem onde estão os estados garantidos por Hillary Clinton (a azul), os estados garantidos por Donald Trump (a vermelho) e os estados indecisos (a cinzento). Os números representam o número de votos eleitorais que cada estado representa. No fim ganha quem conseguir o total somado de pelo menos 270 votos. Como se vê, se Hillary não falhar nenhum dos estados dados como garantidos parte com vantagem face ao republicano. Mas o segredo está literalmente nas zonas cinzentas.

O fuso horário aqui também é determinante para perceber, logisticamente, quando é que a eleição vai ser decidida. É que, enquanto na costa oeste o mapa se pinta facilmente de azul, muitos dos swing states estão na costa leste, onde a diferença horária é menor. O que significa que a longa noite da contagem de votos pode não precisar de chegar às 4h da manhã para ter um resultado claro. Senão vejamos:

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00h00

À meia-noite (hora de Lisboa) começam alguns momentos-chave: fecham as urnas na Georgia, onde, segundo a estimativa de probabilidades calculada pelo projeto Five Thirty Eight, o candidato republicano Donald Trump tem 79% de hipóteses de ganhar; e na Virginia, onde a média das sondagens realizadas entre 29 de outubro e 6 de novembro põe Trump à frente com uma distância de 4,8 pontos, segundo as contas do site Real Clear Politics.

É também a esta hora que fecham as urnas na Virginia, onde, se Hillary Clinton não ganhar já será considerado um mau arranque e um mau presságio. A média das últimas sondagens dá para este swing state a vitória de Hillary Clinton por 5 pontos, sendo que a probabilidade contabilizada pelo Five Thirty Eight aponta para uma hipótese de 85% de a candidata democrata sair vencedora.

E é também a esta hora que se desvenda o grande mistério da noite: Florida. Este, sim, será um momento decisivo.

É que este é um autêntico “battleground state”, onde as sondagens têm sistematicamente apontado para um empate com cerca de 46%dos votos para cada lado. A média das últimas sondagens põe Donald Trump à frente de Hillary por uns míseros 0,2 pontos percentuais. Mas tudo pode acontecer. As probabilidades do Five Thirty Eight, contudo, dão à democrata chances maiores: uma probabilidade de vitória de 54,9%. O canal televisivo Univision, o canal favorito dos latino-americanos, falado em castelhano, também aponta para uma vitória de Hillary Clinton por 2,2 pontos percentuais. Certo é que, se ganhar este estado, Hillary pode começar a mandar foguetes. Donald Trump nem tanto, mas poderá não estar totalmente errado se começar a preparar o champanhe, como explica o Observador neste Explicador sobre as eleições norte-americanas.

Em 2000, os votos na Florida foram de tal forma decisivos que o candidato democrata Al Gore viria a pôr em causa os resultados naquele estado depois de uma recontagem polémica. Só quando o Supremo Tribunal declarou George W. Bush vencedor, o democrata saiu de cena.

(Nota: na votação na Florida tenha especial atenção ao resultado eleitoral no condado de Hillsborough, que nos últimos cinquenta anos só por uma vez, coincidência ou não, não elegeu o candidato vencedor).

00h30

A esta hora fecham as urnas no Ohio, outro estado importante onde o jogo se joga a sério. Neste caso, o tabuleiro tem pendido para o candidato republicano, que vai na frente nas projeções. A média das sondagens realizadas nos últimos sete dias, segundo o Real Clear Politics, aponta para uma vantagem de 3,5 pontos percentuais para o candidato republicano. Se a esta hora Trump não ganhar o Ohio, bem pode começar a recear ficar pelo caminho. É que nunca nenhum candidato republicano ganhou a eleição sem conseguir vencer no Ohio.

Paralelamente fecha-se mais um estado considerado “campo de batalha”: Carolina do Norte. O empate técnico tem sido anunciado em várias sondagens, com a média das últimas sondagens a apontar para uma vantagem mínima de Donald Trump (por um ponto). No campo das probabilidades, contudo, é Hillary Clinton quem leva a vantagem: 55% contra 44%.

Por esta altura, é possível que o candidato republicano ganhe fôlego, uma vez que se perder estes dois estados (mais a Florida) bem pode dizer já adeus à eleição.

Porque é que nem sempre ganha quem tem mais votos?

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No dia das eleições — e até antes, no caso daqueles que votam por correspondência ou antecipadamente — os cidadãos votam nos seus respetivos estados. Em cada um deles, é apurado um vencedor — aqui, sim, o vencedor é sempre aquele que tem mais votos.

Depois, são entregues ao candidato vencedor o número de votos no Colégio Eleitoral que esse estado tem — o número vai desde três (Wyoming, Alaska, Vermont, etc.), até 55, na California. Para vencer as eleições, um candidato precisa de conquistar mais da metade do Colégio Eleitoral. Ou seja, tem de conquistar 270 dos seus 538 membros.

Leia o Explicador completo sobre as eleições norte-americanas aqui

01h00

A esta hora a partida passa para estados como a Pensilvânia, onde a corrida está bastante taco a taco, a pender ligeiramente para o azul. A Pensilvânia é uma meta para Hillary Clinton, ou uma questão de honra. Se chegarmos a esta fase e este estado não sair pintado de azul, o jogo complica-se para a democrata. A avaliar pelo conjunto das sondagens da última semana, Hillary leva uma curta vantagem de 1,9 pontos percentuais, sendo que as probabilidades também sopram a seu favor (com 76% de hipóteses de vencer). O Michigan é outro ponto de honra para a democrata, já que aqui a vantagem é maior (3,4 pontos) e a probabilidade é elevada (79%).

Outra bitola para perceber até que ponto a eleição está ou não a correr bem à candidata democrata é o pequeno estado do New Hampshire, na costa leste, que tem estado renhido. Clinton, na médias das últimas sondagens, tem apenas uma frágil vantagem de 0,6 pontos percentuais, apesar de as probabilidades jogarem a seu favor. Nada é certo, portanto. É também por esta altura que acaba a votação no estado vizinho do Maine, onde a vantagem de Hillary está mais consolidada (segue na frente com mais 4,5 pontos), e a probabilidade de a democrata ganhar ronda os 80%.

02h00

Às 2h da manhã, hora de Lisboa, fecham as urnas num estado importante para Donald Trump: o Arizona. Mas, a esta hora, se o republicano não tiver ganho alguns dos swing states anteriores, pode não lhe valer de muito. Certo é que as sondagens têm sido consistentes na atribuição da vitória ao republicano, liderando a corrida com 4 pontos percentuais, e a probabilidade de vencer está já nos 66%.

No Colorado e no Novo México, estados vizinhos, a agulha parece pender mais para a democrata. Mas está renhido. No Colorado, a democrata tem uma vantagem média de quase 3 pontos percentuais, segundo a estimativa do Real Clear Politics, e no Novo México a democrata segue com pouco mais de 45% das intenções de voto e com uma probabilidade de ganhar avaliada em 83%.

03h00

Por esta altura, já tudo pode estar decidido e os dois importantes swing states cuja urnas fecham a esta hora podem já não ser tão relevantes quanto isso. É o caso do Iowa, onde Trump leva vantagem em quase todas as sondagens (com mais 3 pontos) e onde a probabilidade de vitória ronda os 68%, e do Nevada, onde tudo está em aberto. A média das sondagens da última semana dá uma vantagem mínima de 0,8 pontos percentuais a Donald Trump, embora a agulha das probabilidades penda mais para a candidata democrata (58%).

04h00

A madrugada já vai longa e, por esta hora, já tudo estará decidido, uma vez que os estados que se seguem são estados garantidos para os democratas. Trata-se da costa oeste, Califórnia, Washington ou Oregon, que estão firmemente no lado de Hillary Clinton. Da mesma maneira que o Hawai, Nova Iorque, e todos os pequenos estados da costa leste também ficarão de certeza pintados de azul. Minnesota e Wisconsin também deverão ser ganhos pelos democratas.

Do lado de Donald Trump deverão estar estados como Oklahoma, Kansas, Nebraska, Dacota do Sul e Dacota do Norte, ou Idaho, Montana, Wyoming, Missouri, Arkansas ou Louisiana, Mississipi, Kentucky, Indiana e Tennessee.

Feitas as contas às sondagens da última semana, Hillary Clinton deverá ser a vencedora, mas com uma vantagem curta de pouco mais de 3 pontos percentuais. Tudo está em aberto. A noite promete ser longa e o Observador vai acompanhar tudo aqui.