O Tesouro português pagou nesta quarta-feira um pouco mais caro para emitir dívida de curto prazo, mas continua a emitir bilhetes do Tesouro com maturidade de poucos meses a taxas negativas, fruto da política monetária do BCE. O leilão de dívida de curto prazo decorreu, como tem sido regra, imune às maiores dificuldades que o IGCP tem sentido na emissão de dívida de longo prazo. Os juros no longo prazo, no mercado, estão hoje a subir mais do que nos outros países da chamada periferia, num ambiente global de receio dos investidores em obrigações após a eleição de Donald Trump nos EUA.

A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) colocou 1.250 milhões de euros em bilhetes a 12 meses e suportou, desta feita, uma taxa positiva de 0,005%, que contrasta com os negativos 0,014% da emissão comparável anterior. Foram, ainda, emitidos 250 milhões de euros em dívida a seis meses e, aí, os juros continuaram abaixo de zero (-0,027%, contra -0,033% na emissão anterior). No total, o Tesouro obteve os 1.500 milhões que pretendia.

“A procura foi muito boa, dado que o risco – por se tratar de títulos de curto prazo – também não é grande”, comenta Filipe Silva, responsável pela negociação de dívida no Banco Carregosa, em reação enviada às redações. “Ainda assim, é melhor ter dívida de curto prazo com um juro negativo de 0,027% do que depositá-lo no BCE e perder 0,4%. Aqui pode residir a explicação para o sucesso deste leilão: as compras feitas pelos bancos que preferem estes bilhetes do Tesouro a ter que depositar a liquidez no BCE.”

O sucesso na emissão de dívida de curto prazo contrasta com as maiores dificuldades sentidas pelo Tesouro português na emissão de dívida de longo prazo. Recorde-se que, como apontou um especialista recentemente ao Observador, desde 14 de janeiro que Portugal não faz uma grande emissão de dívida sindicada, tendo-se limitado durante quase todo o ano de 2016 aos leilões de menor dimensão. Além disso, o Commerzbank expressou, na segunda-feira, dúvidas sobre a capacidade do Tesouro para fazer mais um leilão de dívida até ao final do ano, que potencialmente seria anunciado até esta sexta-feira.

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